Não existe autoridade a não ser você mesmo, um dos lemas do movimento punk, é também a verdade que rege a vida de Nashara Scaravelli. Seja como vocalista da Tumor Maligno, uma das primeiras bandas essencialmente punks de Florianópolis, ou do Raiz Sonora, duo de reggae-soul-MPB formado há dois anos, ela segue a mesma essência, a de ser deusa de suas vontades e fazer o que lhe dá na telha ou manda o coração, sem prisões morais. Nem musicais. Para quem pensa que ser punk é vestir roupa rasgada e usar cabelo moicano, a cantora ensina que punk é atitude – não necessariamente ao som de rock’n roll, mas quem sabe na levada de um samba rock.

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Aos 26 anos, Nana é personagem interessante da cena musical de Florianópolis. Tem visual marcante pela autenticidade. A pele é branca, bem branquinha, cabelo ruivo e crespo (herança da ascendência italiana), rosto redondo e simpático, adornado por piercing na boca. Está há quase um ano em processo de gravação do primeiro disco do Raiz Sonora, formado também pelo cantor, compositor e violonista Zezo Avena. Em canções como Anjo, ou Segura, já gravadas, ela adoça a voz e solta o verbo em romantismos numa versão pop.

::: Um papo com Nana, assista:

– Já na Tumor Maligno, quando não sei a letra, falo até aborígene mesmo. É só atitude, não necessariamente musicalidade – compara.

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Nesses shows a performance da cantora é especialmente impactante:

– Vai começar a porcaria! – anuncia, seguindo com a interpretação de canções despudoradas, que fazem crítica social, falam de sangue ou escatologias.

A Tumor me liberta do estresse. Já o Raiz Sonora liberta o meu lado mais sentimental. Sinto necessidade de me expressar e faço isso com música. Mas não sou feliz o tempo todo. Às vezes tenho que gritar, às vezes falar mais baixinho.

Musical desde sempre – aos oito anos já sabia o que queria para sua vida, apesar dos avisos da mãe, que dizia que música deveria ser apenas hobby -, ela montou sua primeira banda, a Over12, aos 12 para tocar punk rock. Depois teve grupo psicodélico, outro que transformava brega em samba rock e até banda de uma pessoa só, a Nana Pé de Cana Monobanda, além do Akinóia, projeto de história, fotografia, arte, quadrinhos e música.

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– Minha essência é rock’n roll, mas nunca me limitei. Tive forte influência dos meus pais. Minha mãe curtia Secos e Molhados, Jorge Ben, Alceu Valença. Meu pai era fã de Pink Floyd.

Apesar de ter se graduado em Administração, com mérito, nunca quis exercer a profissão e hoje se divide entre projetos musicais diversos, além de dar aulas de bateria. Ela própria aprendeu a tocar vários instrumentos de ouvido e só mais adulta foi atrás de métodos e teorias.

– Não queria fazer aulas porque tinha medo que tirassem meus cacoetes e vícios – explica.

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Por enquanto, a Tumor Maligno, que existe há 27 anos e da qual é vocalista há sete está de férias, porque um dos fundadores, o guitarrista e também professor Danny Soar, vai ser papai. Já o Raiz Sonora está fazendo shows e ao mesmo tempo gravando seu álbum no estúdio Pimenta do Reino, com produção de Marcio Pimenta.