A música “Andar com fé”, de Gilberto Gil, descreve com fidelidade a forma de viver da funcionária pública joinvilense Maria Luiza Pavesi Pfiffer, de 48 anos. Diagnosticada com glaucoma congênito (doença que afeta o nervo óptico e que não tem cura) ainda bebê, assim como os dois irmãos, Maria Luiza enxergou até os seis anos. Apesar de não lembrar dessa época e de não recordar as cores e formas de objetos, nunca faltou fé na vida dela para encarar as dificuldades impostas pela deficiência visual.
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O combustível para tanta confiança, segundo Maria Luiza, vem da Igreja Católica e das orações diárias que pratica ao levantar e antes de dormir.
– A minha religiosidade é graças aos meus pais, que sempre frequentaram a igreja e sempre procuraram nos levar por esse caminho. Devo a eles tudo o que sou hoje, inclusive, a minha fé – conta ela, sentada à mesa de jantar da casa em que mora no bairro Boa Vista, na zona Leste, há 43 anos.
Independente, Maria Luiza leva uma vida normal. Casada há 15 anos, é mãe de uma adolescente de 13 e trabalha na sessão de livros em braile da Biblioteca Pública da cidade.
Atraída por desafios, a funcionária pública compõe há seis anos, ao lado do marido, o grupo litúrgico da Paróquia Imaculada Conceição, no Boa Vista. Sempre aos segundos domingos de cada mês, Maria Luiza participa das missas celebradas na capela Jesus Misericordioso, comunidade da paróquia, ao fazer a leitura em braile de passagens litúrgicas. Para fazer a leitura, ela conta com a ajuda do marido e da filha, que a auxiliam na tradução dos textos, previamente, para o braile.
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– Não é algo que faço por obrigação. Vou a igreja porque gosto. No domingo em que eu não vou, sinto um vazio dentro de mim – diz.
Para Maria Luiza, “Deus está em todas as coisas”. E é a Ele a quem atribui a sua alegria de viver.
– Deus é muito importante na vida do ser humano. A gente percebe que as pessoas que não têm Deus têm uma vida travada – observa.
A funcionária pública tem consciência de que nem todo mundo tem a religiosidade tão forte dentro de si e procura inspirar outras pessoas a desenvolverem a sua fé para viverem melhor.
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– Aconselho as pessoas a buscar a igreja e a fazer alguma coisa para ajudar. Hoje, muitas pessoas têm depressão porque ficam bitoladas no mundinho delas, achando que só elas têm problemas. Se essas pessoas fizessem trabalho voluntário para ajudar aos que precisam, tenho certeza que se sentiriam mais valorizadas – sugere Maria Luiza, que foi voluntária na Associação Joinvilense para Integração de Deficientes Visuais (Ajidevi) por 15 anos.
Quanto ao preconceito por conta de sua condição, a joinvilense diz que “sempre existiu e sempre vai existir”, mas, otimista, acredita que a situação está melhorando.
– Antigamente, você saía na rua e as pessoas corriam de você. Hoje, te oferecem ajuda para atravessar a rua, pegam no seu braço. Não tem mais aquela coisa: lá vem a ceguinha, ai que pena! – comenta.
“É muito bom ajudar as pessoas”
Quem olha para a casa de madeira simples, com parte do forro ameaçando desabar, na rua Agostinho dos Santos, zona Leste de Joinville, logo pensa que o dono do imóvel precisa de ajuda. No entanto, ajudar é o que Osmarildo Silveira, 37 anos, mais faz no seu dia a dia.
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O cuidador de idosos, que está desempregado, se tornou referência no bairro Espinheiros quando o assunto é fazer o bem. Tudo começou com a indignação de Osmar, como é mais conhecido, com os motoristas que apareciam no Espinheiros na época de Natal jogando balas e brinquedos para as crianças na rua, o que as expunha a riscos. Foi aí que o morador teve a ideia de oferecer uma festa de Natal em sua casa para as crianças carentes do bairro.
A primeira, realizada há cinco anos, contou com Papai Noel e entrega de lembrancinhas para 70 crianças, lembra o cuidador. Ele comemora que este foi o segundo ano consecutivo que o evento contou com cama elástica, o brinquedo preferido dos pequenos.
A festa, que ocorreu no dia 20, também teve cabeleireiro para cuidar do cabelo das crianças, comida e presentes para cerca de 300 pessoas, contando com os acompanhantes dos pequenos.
– É muito bom ajudar as pessoas. É um prazer – diz Osmarildo.
A popularidade conquistada por conta da festa de Natal fez com que Osmar seja sempre lembrado pelos moradores que têm um móvel ou roupa para doar. Como conhece boa parte dos moradores do Espinheiros e também de bairros vizinhos, o cuidador sempre sabe quem está precisando e repassa a doação.
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– Antes, morávamos em uma casa de apenas duas peças. Teve uma vez que deu um temporal e levantou todo o nosso telhado, molhou tudo. Mas o que você faz pelas pessoas, Deus te dá em dobro – acredita Osmar, que hoje mora com os pais idosos e uma sobrinha, em uma casa maior.
A caridade faz parte da vida de Osmar desde que ele era pequeno. Ele conta que a mãe até brigava com ele porque doava quase tudo o que tinha.
– Se chegasse alguém pedindo a minha roupa, eu doava – conta.
Osmar também doa o seu tempo. É voluntário na Casa de Apoio ao Ex-presidiário (Caep), onde atua conseguindo mantimentos e material de higiene para os abrigados. Também foi voluntário por cinco anos na cozinha da Igreja Luterana, onde preparava os lanches da manhã e da tarde e os almoços para os fiéis.
Para Osmar, as pessoas pensam muito em fazer compras nesta época de Natal, mas esquecem de se doar umas para as outras. Ele cita como exemplo uma mensagem que ouviu há tempos na igreja. A história do menino filho de um advogado que perguntou ao pai quanto custava a hora de trabalho dele. E um dia entregou ao pai o dinheiro equivalente a horas de trabalho, para que o homem passasse algum tempo com ele.
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A esperança é a última que morre…
O sorriso fácil no rosto da estudante de medicina Vanessa Carvalho Lucas, 18 anos, é a mais pura demonstração de esperança. Voluntária no projeto Palhaçoterapia desde o início deste ano, a futura médica dedica uma tarde por semana a fazer crianças e adolescentes internados no Hospital Infantil Doutor Jeser Amarante Faria, em Joinville, a sorrir.
Isso mesmo, é fazendo literalmente palhaçadas que a jovem motiva os pequenos a enfrentarem com alegria os tratamentos.
– Eles te dão mais força do que você dá para eles. Às vezes chego pensando: eles que precisam de ajuda e eu que estou para baixo. Mas aí a gente vem aqui e tudo melhora – conta.
A esperança em ver o mundo melhor e em contribuir para isso acompanha a jovem desde pequena. Aos nove anos, ela já ajudava a avó no trabalho voluntário que ela realizava na Apae. E também auxiliava o pai, que faz parte de uma ONG.
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– Sempre gostei de ajudar os outros. Há dois anos fui ajudante do meu pai disfarçado de Papai Noel durante a entrega de presentes para crianças no Jardim Paraíso e foi muito legal – lembra.
Com a entrada na Univille para cursar medicina, Vanessa viu a oportunidade de se unir de vez ao trabalho voluntário por meio da palhaçoterapia, projeto dos cursos da área da saúde da universidade.
– Na saúde, vou lidar o tempo todo com pessoas, tenho que ser humana e ver o todo. Principalmente na oncologia, em que as crianças estão lá há um tempo. Elas cansam de ver gente só entrando para colocar o soro – diz a estudante, que planeja se especializar em pediatria.
Vanessa explica que a troca que ela tem com as crianças durante as visitas para brincadeiras são muito especiais.
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– As crianças têm muito de curiosidade, você vai brincar com elas e elas vão se abrindo aos poucos. Elas têm um olhar diferente para as coisas, sempre querem conhecer o novo – conta.
Apesar da rotina desgastante de estudos, Vanessa conta que ficou tão encantada com a palhaçoterapia que no início ficava as tardes inteiras das sextas-feiras no hospital.
– Você dá quatro horas do teu dia e ganha uma semana inteira – observa.
Desde a metade deste ano, Vanessa também foca a sua esperança em ajudar uma garotinha gaúcha que sofre de uma doença rara, a epidermólise bolhosa. A doença impede que outras pessoas encostem na criança, já que a cada toque surgem bolhas na pele. Ela soube da história por meio de uma caloura.
– Ela não pode sequer abraçar os pais. Vendo camisetas para ajudar a juntar dinheiro para o tratamento dela, que só pode ser feito nos Estados Unidos. Até agora, consegui R$ 5 mil – comemora.
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Assista ao vídeo: