O Femusc (Festival de Música de Santa Catarina) garante muito mais do que movimentação cultural para a região Norte de Santa Catarina em janeiro. Por causa do evento, que chega a empregar 400 pessoas, a cidade tem profissionais preparados para atuar em grandes eventos culturais e com conhecimentos multidisciplinares. Confira alguns jaraguaenses que garantem que o evento seja uma referência internacional.
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Coordenadora de instrumentos
A professora Suzana da Silva, 46 anos, parece se teletransportar pelos corredores da Scar durante o Femusc: para onde se olha, ela está sempre passando em alta velocidade. É um talento importante para a responsável pela coordenação de palco e dos instrumentos de um festival de música que oferece aulas e espetáculos diariamente. Suzana coordena, por exemplo, os funcionários que, no meio do espetáculo, precisam passar pelo palco, no escuro, para substituir instrumentos ou trocá-los de lugar.
— Chegamos às 8 horas e saímos quando acaba o evento. Se der, já deixamos montado para o dia seguinte. Nesse período, é um abandono total da casa. Todo ano digo que não volto mais, mas o mundo da música é apaixonante e irresistível — conta ela.
Suzana é administradora escolar e aproveita o recesso de janeiro para dedicar-se a essa função, que assume desde a primeira edição do Femusc. Uma semana antes do evento começar, ela reúne a equipe — neste ano, são seis técnicos — para começar o levantamento de instrumentos que são grandes demais para vir na bagagem dos participantes. Alguns precisam ser buscados em outras cidades, ou em outros pontos de Jaraguá. Depois que o evento começa, é a movimentação dentro do centro cultural que demanda direções.
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— Seguimos a agenda de ensaios e de espetáculos para distribuir os instrumentos onde precisa. São pianos, violoncelos, contrabaixos, que precisam ser levados para os ambientes necessários. Também organizamos as cadeiras e estantes para as partituras. Mapeamos como o maestro quer, montamos e os movimentamos — conta ela.
Assistente artístico
Tudo o que Maykon Junkes, 37 anos, aprendeu durante a vida, colabora na função que ele exerce dentro do Femusc. Formado em administração em comércio exterior, o jaraguaense atuou por sete anos em uma profissão que exigia habilidades administrativas, boa comunicação e conhecimento em outros idiomas. Depois deste período, decidiu dedicar-se ao teatro e criou a Cia. Colher de Pau, que tem sua sede dentro da Scar. Ser um ator-empreendedor demanda noções de produção cultural, e todos esses aprendizados são usados enquanto ele assume o papel de assistente artístico do festival.
Maykon e sua equipe são responsáveis pela agenda dos 300 alunos nos dez dias de evento. Mais do que um trabalho burocrático, é um exercício de montagem de um “quebra-cabeça” com uma pitada de psicologia.
— Se o maestro precisa de 66 músicos, preciso limpar os caminhos para que os 66 músicos estejam lá. Não pode bater ensaio com aula. Se um músico fica doente, preciso encontrar outro que instrumentista entre os participantes que esteja no mesmo nível, que possa tocar a mesma parte. E ter pulso firme, porque tem coisas que eles pedem não dá para atender — explica ele.
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Enfermeira
Nas primeiras edições em que trabalhou no Femusc, Alexandra Almeida tinha uma sala exclusiva para ela. Afinal, sua área não encontra relação aparente com nenhuma outra dentro de um festival de música: ela é enfermeira, e fica a postos para os primeiros atendimentos que os participantes precisarem. Com o tempo, essa solidão não parecia fazer sentido dentro de um centro cultural efervescente de diversidade.
— Pedi para ficar em um local onde estivesse no meio dos outros profissionais e pudesse ser útil nas horas em que não estou atendendo. Com isso, pude até entender melhor a lógica do festival — explica ela.
No primeiro dia de Femusc 2019, Alexandra realizou um atendimento um pouco mais complexo: uma flautista torceu o pé e precisou imobilizá-lo. Em outros momentos, ela está disponível para cuidar de viroses, dores de cabeça e até conselhos emocionais. Os participantes estrangeiros, principalmente, a procuram por mal-estar causado pelo clima e pelos temperos diferentes.
— Eles têm uma rotina muito puxada, que também mexe com as emoções. Em uma edição, um rapaz mexicano estava tendo crises de ansiedade. Conversei e orientei a procurar um psicólogo quando voltasse ao país dele. No ano seguinte, ele voltou e me procurou muito feliz falando como a terapia o estava ajudando — recorda.
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Coordenador de palco
Em uma palavra, Gilberto Amoro, 44 anos, é iluminador. Na prática, ele desenvolve os cenários que são projetados durante as apresentações, concebe as colocações de luzes, cuida do equipamento elétrico, coordena uma equipe com sete funcionários e garante a parte técnica mais importante do Femusc: a sonoplastia. Giba, como é conhecido, caminha pelos corredores da Scar há 15 anos e ocupa a mesma coordenação do evento desde a primeira edição.
— No começo, não tínhamos ideia do que seria o festival. Eu ainda estava começando, não tínhamos noção do que era montar uma orquestra, nem tínhamos telas no fundo. Usávamos o gobo, que é um recurso de projeção, depois passamos a usar banners e hoje temos um sistema de projeção digital — compara ele.
A experiência com o evento garantiu a evolução dos elementos de palco do Femusc e do profissional. Neste ano, foram colocadas conchas acústicas no fundo do palco onde são executadas projeções em videomapping, o que, além de ser funcional para o som, funciona como cenografia. Mesmo as novidades precisam estar bem alinhadas para nada dar errado nos espetáculos.
— A equipe técnica não pode aparecer, isso é primordial. Quando tudo está dando certo, você não vê o técnico. O bom técnico trabalha para que os problemas não sejam perceptíveis: se uma luz queima, por exemplo, ela não vai fazer falta, porque foi colocado um backup explica.
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