Nesta terça-feira, 2 de julho, é celebrado o Dia Nacional do Bombeiro. Aquela pessoa que está do outro lado da linha do 193, ou dentro da ambulância, do helicóptero, pronta para mergulhar e salvar alguém que se afoga, ou até mesmo amarrada a uma corda para resgatar uma vítima que caiu em um costão, se perdeu na mata ou se acidentou. É dia do profissional que sai de casa sabendo o peso da farda e com uma missão: salvar vidas.

Continua depois da publicidade

A data comemorativa foi criada em 1954 por um projeto de lei. Quase um século antes, em 2 de julho de 1856, havia nascido a primeira corporação no país, o Corpo Provisório de Bombeiros da Corte, quando o Brasil ainda era uma monarquia.

Para celebrar a data, é realizada em todo o território nacional a Semana de Prevenção Contra Incêndios, que também ocorre em Santa Catarina.

No Estado, são 2.596 profissionais atuando no Corpo de Bombeiros Militares. Para celebrar a data comemorativa, contamos histórias de três deles, que representam o trabalho da corporação.

De Palhoça a Brumadinho

Carlos Henrique Wosniak
Carlos Henrique Wosniak (Foto: Diorgenes Pandini / NSC Total)

Aos 20 anos, Carlos Henrique Wosniak sonhava em ser policial. Seguir carreira militar era o seu objetivo, inspirado pelo pai, que serviu na Aeronáutica. Enquanto estudava para passar em concurso público, um amigo o instigou a ajudar a comunidade de outra maneira: participando do projeto Bombeiro Comunitário em Palhoça, na Grande Florianópolis. O ano era 2003, e Carlos aceitou o desafio. Ali, descobriu sua vocação.

Continua depois da publicidade

Em 2008, ele passou no concurso dos Bombeiros Militares de SC e, em 2009, iniciou a carreira militar – como sonhava – atuando no resgate e salvamento de pessoas. Hoje, aos 36 anos e há uma década como bombeiro, Wosniak tem no currículo promoções e homenagens.

Recentemente, seu nome ultrapassou os limites do Estado. Ele foi um dos bombeiros que atuaram em Brumadinho, Minas Gerais, nas buscas de vítimas do desastre na Mina Córrego de Feijão, ocorrido em janeiro. A voz do bombeiro ainda embarga ao falar dos dias que passou no local: uma semana que mais pareceu uma vida.

— Nós chegamos lá um mês depois do episódio. Estávamos acompanhando pela televisão, mas não tínhamos noção do que realmente era até chegar. A mina é enorme, e as equipes se dividiam para atuar em pontos diferentes da zona quente (a área onde estava a lama) — recorda.

Wosniak em Brumadinho
Wosniak em Brumadinho (Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)

O Corpo de Bombeiros Militares de SC foi uma das corporações que colaborou com as buscas em Brumadinho. Foram 43 profissionais divididos em quatro equipes e 14 forças-tarefa, além de sete binômios – o apoio com cães. As equipes localizaram 17 corpos e mais 100 fragmentos, além de trator, carros e animais. A corporação catarinense é referência nacional na atuação em casos de situação extrema, como desastres naturais.

Continua depois da publicidade

— A cada objeto encontrado, por exemplo, um tênis, era difícil. Era complicado saber que estávamos andando numa lama, onde embaixo poderia haver vítimas — exemplifica Wozniak.

Cartas escritas por crianças em apoio aos socorristas ajudaram os profissionais no trabalho. A angústia era amenizada pela gratidão.

2008: o ano que marcou a história de Andrade

Andrade está há quase 30 anos na corporação
Andrade está há quase 30 anos na corporação (Foto: Diorgenes Pandini/NSC Total)

O chefe de salvamento e 2° sargento Carlos Alberto Andrade, 48 anos, atua há quase 30 no Corpo de Bombeiros Militares de Santa Catarina. Nascido na Lagoa da Conceição, na Capital, foi inspirado em um tio, que trabalhava com salvamento nas praias de Balneário Camboriú, que Andrade decidiu virar bombeiro.

— Comecei a atuar em 1991 num dos postos de salva-vidas na praia do Campeche, em Florianópolis. Foi quando tive a certeza de que decidi certo. No meu primeiro dia de trabalho, salvei uma adolescente que quase se afogou. Depois, duas mulheres apareceram no posto de salva-vidas, me chamaram e começaram a aplaudir. Foi gratificante — recorda.

Continua depois da publicidade

Desde então, o sargento Andrade passou por várias áreas dentro da corporação. Operações veraneio, buscas em mata, mergulhos, atendimento em tentativas de suicídio, acidentes de trânsito, e se precisar, também dirige a ambulância.

Foi 2008 que marcou e dividiu sua trajetória. A enchente daquele ano, que matou mais de 100 pessoas em dezenas de cidades do Estado, levou Andrade a atuar nas buscas do deslizamento mais grave registrado naquele evento, no Morro do Baú, em Ilhota, Vale do Itajaí. Somente ali, foram 47 mortos.

— Vi pessoas perderem tudo: casas, familiares. Com a ajuda do meu cão, encontrei o corpo de uma grávida no deslizamento. Isso muda a pessoa. Do que adianta as coisas materiais se, num segundo, as pessoas podem perder tudo, inclusive suas vidas? Passei a refletir e questionar. Quando voltei para casa, só queria agradecer por estar com a minha família — relata, emocionado.

No Morro do Baú, em Ilhota
No Morro do Baú, em Ilhota (Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)

Foi da família que veio o apoio para lidar com situações difíceis. Em um resgate por mergulho, anos atrás, em Florianópolis, ele foi pego por uma corrente e se machucou seriamente. A vítima que tentavam resgatar não resistiu. Ele precisou de apoio psicológico para lidar com a situação.

Continua depois da publicidade

— Eu preciso estar bem para resgatar pessoas. Preciso estar em segurança para o salvamento. De nada vai adiantar se for o contrário. Eu amo ser bombeiro, mesmo com dias difíceis. Então, quando eu saio do batalhão, eu pedalo, faço programas diferentes com a minha família, cuido da minha mente. E volto pronto no dia seguinte.

Primeira mulher promovida por ato de bravura em SC

Em uma ocorrência incomum em 2017, em Florianópolis, a bombeira militar Stefania Adaime Veit, 33, precisou tomar uma decisão rápida para evitar a perda de uma vida. No atendimento de uma pessoa com parada cardiorrespiratória (que se verificou mais tarde ser um ataque fulminante), a mãe da vítima, em estado de choque, tentou tirar a própria vida.

Stefania atua em Canoinhas
Stefania atua em Canoinhas (Foto: Corpo de Bombeiros Militares de SC / Divulgação)

Stefania conseguiu desarmar a mulher. Por conta do ato, ela se tornou a primeira bombeira a ser promovida por ato de bravura na história em Santa Catarina. Recebeu homenagem dos colegas de corporação, uma emoção única para quem é bombeiro.

Há seis anos atuando no Corpo de Bombeiros Militares de SC, foi na formatura de uma amiga como profissional da área que Stefania decidiu que era essa a carreira que iria seguir.

Continua depois da publicidade

— Sabe aquela sensação de ajudar o próximo, de fazer o bem? É uma profissão linda, que eu amo, me dedico ao máximo e estou sempre em aprendizado. Além de ser uma doação. Você estará trabalhando nas festas, nos feriados, nos finais de semana, nas madrugadas. Você deixa sua família para se doar por pessoas que você nunca viu e que talvez nunca se lembrem de você e, mesmo assim, é o amor que me move. Ajudar uma vida em um momento que ela mais precisa não tem preço — reflete a profissional.

Homenagem por ato de bravura
Homenagem por ato de bravura (Foto: Corpo de Bombeiros Militares de SC / Divulgação)

Após passar no concurso público, Stefania iniciou atuando na guarnição, “onde o povo literalmente vê o bombeiro trabalhando”, como ela especifica. O trabalho na Capital era intenso: tinha dias em que chegava a atuar em 15 ocorrências diferentes.

Hoje, ela atua em Canoinhas, no Planalto Norte, após pedido de transferência. É integrante da agência central de inteligência do 9° Batalhão, e atua na fiscalização de edificações – outro serviço importante desenvolvido pelos bombeiros.

Stefania segue os passos de Maria Quitéria de Jesus Medeiros, a primeira mulher incorporada a uma Unidade Militar no Brasil, em 1823, durante a Guerra da Independência. Em Santa Catarina, o ingresso feminino na carreira militar iniciou em junho de 1983, na Polícia Militar. No Corpo de Bombeiros Militar, em junho de 2003, as primeiras mulheres começaram a atuar.

Continua depois da publicidade

Ainda não é assinante? Faça sua assinatura do NSC Total para ter acesso ilimitado ao portal, ler as edições digitais dos jornais e aproveitar os descontos do Clube NSC.