A professora Alzira Isabel da Rosa é uma mulher de fé. Por isso, receber alta do hospital no domingo de Páscoa, depois de 24 dias de internação por causa do novo coronavírus, para ela teve um significado ainda mais especial. Alzira começou a ter sinais da Covid-19 como febre alta e falta de ar em meados de março. Procurou atendimento médico, recebeu antibióticos, mas os sintomas pioravam. No dia 19 de março, ela procurou o Hospital da Unimed, em São José, fez testes no pulmão e foi internada. Permaneceu em tratamento por 25 dias, sendo 24 deles na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
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O alívio veio no último domingo, dia 12, quando recebeu alta e deixou o hospital aplaudida por médicos e enfermeiros: um gesto que tem se tornado habitual em todo o mundo para pacientes que se recuperam de quadros graves da doença desencadeada pelo novo coronavírus.
De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde, até a última terça-feira, dia 14, 112 pacientes haviam saído de leitos de UTI e retornado para a internação em hospitais do Estado. No Brasil, o número de pacientes que se recuperaram da doença era de 14.026 até a última terça-feira, de acordo com o Ministério da Saúde. No mundo, a estimativa é de que esse número já passe de 400 mil.
O caso de Alzira é um dos mais recentes de paciente recuperado do novo coronavírus em Santa Catarina. Desde o início da pandemia, outros catarinenses também celebraram a melhora após superar a doença (veja mais abaixo).
O filho de Alzira, Nilson Damásio, 28 anos, visitou a mãe nos dois primeiros dias. Depois, por ter tido contato com a mãe no período de incubação do vírus, teve que ficar de quarentena em casa. Uma prima passou a visitar Alzira no hospital – e as notícias sobre o estado de saúde da mãe, Nilson só recebia por telefone.
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– Nos primeiros dias os médicos fizeram videochamada, mas depois ela precisou ser entubada na UTI e não foi mais possível – conta o filho.

Alzira tem 53 anos e é moradora de São José, cidade da Grande Florianópolis. O único fator de possíveis complicações para a Covid-19 era a hipertensão, que nunca se manifestou com muita força. Ela não fez viagens recentes e a família não faz ideia de como ela pode ter contraído o vírus. No final da última semana, Alzira começou a sair de um quadro grave da doença para chegar à recuperação, que culminou com a alta e a homenagem do último domingo.
Para Alzira, além dos cuidados médicos, é a fé o que explica a recuperação da doença.
– O que os próprios médicos me dizem é que realmente fui um milagre e uma sobrevivente diante de toda essa situação triste – conta a paciente, que acredita não ser por acaso a alta ter vindo no dia da Páscoa.
O filho Nilson concorda com a mãe e conta que o alívio tomou conta da família.
– A gente está se sentindo abençoado por ela estar viva. A fala dos médicos era de que ela não iria conseguir. Ela mostrou que é uma mulher de fé mesmo porque a notícia nunca era boa, até que um dia falaram que ela teve uma melhora – conta ele.
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"As pessoas têm que se cuidar", clama a professora recuperada
A professora voltou para casa e agora faz fisioterapia para se recuperar totalmente depois do longo tempo que passou internada. A família diz que já sentiu na pele a gravidade da Covid-19 e recomenda que as pessoas redobrem os cuidados até a situação melhorar.
Alzira defende o uso de máscaras, os cuidados recomendados pelas organizações de saúde como lavar as mãos e adotar o isolamento social. Ela pretende educar as pessoas através do próprio exemplo de como a doença pode oferecer riscos.
– Quero usar isso para mostrar que as pessoas têm que se cuidar. Para que todos entendam a necessidade disso – alerta Alzira, em um vídeo divulgado para os amigos.

“É bom mostrar que temos pessoas que atingem a cura”, diz secretário
O secretário de Saúde de Santa Catarina, Helton Zeferino, comentou na entrevista coletiva do dia 6 deste mês sobre a situação dos pacientes que conseguem se recuperar do novo coronavírus. Ele lembrou que ainda é cedo para garantir que quem contrai a doença garante total imunidade – na semana passada a Coreia do Sul registrou quadros de reinfecção ou reativação do vírus, em que pacientes que já haviam sido infectados pelo novo coronavírus voltaram a registrar a presença dele no corpo –, mas que ainda assim o Estado monitora esses pacientes.
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– É muito bom enquanto saúde pública começarmos a diagnosticar (os pacientes recuperados) justamente porque precisamos mostrar para as pessoas que temos quadros leves, quadros severos e, dentro desses quadros severos, temos sim pessoas que conseguem atingir a cura e recebem alta hospitalar, que é o que buscamos para todos os pacientes – ressaltou o secretário.
Professora da Capital ficou nove dias internada
Roberta Fantin Schnell, 44 anos, ficou nove dias internada, sendo três deles dias na UTI, após testar positivo para o novo coronavírus. Ela começou a sentir os sintomas depois que um colega de trabalho do marido foi infectado pelo vírus. Ela teve dor de garganta, dor de cabeça, febre e um pouco de tosse e chegou a receber medicamentos para sinusite. Com uma crescente falta de ar, procurou atendimento no Hospital Baía Sul, em Florianópolis, onde após uma tomografia foi internada de imediato com quadro suspeito da doença.

Roberta admite que teve medo de morrer, principalmente quando foi para a UTI, onde não chegou a ser entubada, mas respirou com ajuda do tubo de oxigênio. Ela deixou o hospital no último dia 6, também sob aplausos de funcionários e a música “É preciso saber viver”, de Roberto Carlos. O marido de Roberta teve apenas uma gripe forte de quatro dias. O filho de 21 anos não teve nenhum sintoma. Todos agora estão em casa, na Capital, e seguem em cômodos isolados.
Roberta se recupera em casa, onde faz exercícios de fisioterapia pulmonar para recuperar a capacidade respiratória debilitada pela doença. Nas redes sociais, ela agradeceu família, amigos e a equipe do hospital e relatou o que sentiu nos dias de internação.
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– Definitivamente não é uma gripezinha, como a gente ouviu. A falta de ar é uma coisa absurda. Você respira e o ar não chega, começa a dar tontura, é muito ruim. É surreal a falta de ar e o estrago que o vírus causa no organismo. Por isso é importante s cuidar e respeitar o isolamento – apela.
“É surreal a falta de ar e o estrago que o vírus causa no organismo. Por isso é importante s cuidar e respeitar o isolamento”
Roberta Fantin Schnell, professora

Idoso de 72 anos também celebra recuperação
Flávio Regianini, 72 anos, de Florianópolis, venceu o novo coronavírus após 11 dias de internação no Hospital Baía Sul, na Capital. Ele também foi homenageado no dia da alta com aplausos de médicos e enfermeiros que o atenderam durante a recuperação.
Flávio começou a sentir sintomas como febre quando procurou o pronto-atendimento, ainda no final de março. Exames apontaram uma pequena pneumonia no pulmão direito. Como a febre continuava e os sintomas não sumiam, mesmo com medicação, ele voltou a procurar atendimento médico, já suspeitando da possível infecção do novo coronavírus. A partir de então foi internado em um quarto isolado.
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Painel do Coronavírus: confira dados do avanço da Covid-19 em SC
Flávio continuou o tratamento em casa e não poupou elogios ao atendimento médico recebido. Ele também reforça o apelo para que as pessoas tomem o máximo de cuidados durante esse período de pandemia.
– Em primeiro lugar, desejo que tenha persistência e busque assistência médica, os protocolos que a medicina tem à disposição. Abandonei muitas notícias fakes e tenho mais confiança em Deus e na medicina – conta o paciente.

Consultor se recuperou após pneumonia avançada
O consultor de negócios Leandro Adegas, 48 anos, foi outro paciente com coronavírus que venceu a doença. Ele teve diferentes sintomas, desde sinusite forte e dor de cabeça até dor na pele. Sinais clássicos da Covid-19, como tosse e falta de ar, ele não sentiu.
O que o fez procurar atendimento médico rápido foi quando mediu o indicador de saturação de oxigênio no sangue com o relógio usado na prática de esportes. Ao mostrar para amigos médicos o número do mostrador, de 86%, quando o normal é de 95% a 99%, descobriu que precisava correr para o hospital.
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– Apesar dos exames estarem todos alterados, eu não sentia falta de ar ou desgaste. Os médicos me disseram que por eu praticar esportes, provavelmente meu corpo identificou o desgaste do coronavírus como um treino muito forte e estava tentando se recuperar desta forma – conta o empresário, que após a internação, passou a sentir mais os efeitos do vírus no organismo.
Leandro teve pneumonia avançada, crise respiratória e chegou a sofrer sucessivos desmaios em um intervalo de meia hora. Ele ficou internado por seis dias no Hospital Baía Sul, recebeu alta no dia 2 de abril e agora se recupera em casa. Do episódio, ele tira como reflexão a forma pró-ativa na prevenção e a solidariedade que percebeu em amigos, que passaram a desenvolver ações para ajudar comunidades em meio à pandemia.

Morador de Braço do Norte defende isolamento
Rogério Koch Martins, 52 anos, é morador de Braço do Norte, no Sul de Santa Catarina, uma das primeiras regiões do Estado a registrar número maior de casos do novo coronavírus. Ele contraiu a Covid-19 ainda em março e ficou internado por uma semana nos hospitais Santa Terezinha, em Braço do Norte, e São Donato, em Içara – foram três dias na UTI.
Após receber alta, Rogério gravou um vídeo sobre a recuperação e reforçou o alerta para que as pessoas respeitem o isolamento.
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– Aqui em SC muitos jovens estão morrendo. Acho que jovens estão muito desconfiados, sem acreditar muito. Meu recado é: se cuidem, usem máscara, mantenham distância de dois metros, no caso de quem está trabalhando em postos de gasolina e supermercado, e quando for para casa, fiquem em casa. É o melhor combate ao vírus – aconselha Martins. (Colaborou Guilherme Simon)
“Meu recado é: se cuidem, usem máscara, mantenham distância de dois metros, no caso de quem está trabalhando em postos de gasolina e supermercado, e quando for para casa, fiquem em casa. É o melhor combate ao vírus”
Rogério Koch Martins, morador de Braço do Norte

