No meio de equipes da elite nacional que disputam a Taça Brasil de Futsal em Joinville, um time chama a atenção ao entrar em quadra sem atletas profissionais. A Associação Brasil Futsal (ABF) do Rio Grande do Sul, que participa do torneio, é formada por jogadores que dividem a rotina de treinos e jogos com trabalho e estudo. No saguão do hotel em que estão hospedados em Joinville para a disputa do torneio, os jogadores conversaram com a reportagem do AN.
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A ABF foi fundada em dezembro de 2018 em Pelotas. Desde então, a equipe gaúcha é composta por pessoas que disputam competições amadoras da região. Pela falta de patrocínio de empresários locais e apoio do poder público da cidade, a ABF decidiu mudar a sede para São Lourenço do Sul, onde faz os treinos de duas horas em três dias por semana.
Segundo a assessoria, o elenco, que viajou 10 horas de ônibus para jogar em Joinville, é formado predominantemente por atletas como Rafael Insaurriaga, o Rafinha. Fora das quadras, o ala de 34 anos é empresário no setor de eventos, engenheiro civil e administrador.
Rafinha confessa a dificuldade para alinhar o trabalho e os treinamentos, mas o amor pelo esporte desperta a força de vontade para lidar com uma rotina corrida. Para vir a Joinville, ele precisou adaptar os afazeres profissionais:
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– A gente fez um planejamento para disputar essa competição dentro do nosso calendário esportivo, mas não pode atrapalhar o nosso negócio, porque é disso que a gente vive.
É o caso do goleiro Jean Pierre, de 39 anos. O capitão do time é administrador de uma empresa de manutenção e venda de peças agrícolas, e proprietário de um restaurante. Segundo o veterano, a motivação para dedicar as horas vagas ao esporte se dá pelo refúgio das obrigações do cotidiano.
– [Jogar] É aquela parte boa que tu tira o estresse diário do teu serviço, quando estou com pessoas que eu gosto. Isso agrega muito para mim. Estar jogando e treinando não é uma obrigação, é um lazer – comenta.
Também há jogadores que estudam, como o pivô Natã Clei, que faz curso de educação física. Além disso, o jogador de 29 anos tem uma escola voltada para especialização em futebol, onde faz treinamento para pessoas de todas as faixas etárias que desejam aperfeiçoar técnicas no esporte.
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Natã concorda com Jean Pierre em relação ao prazer que a prática do futsal proporciona, mas ressalta as dificuldades de uma rotina tripla, com trabalho, estudo e esporte.
– É mais uma questão física, por passar a maior parte do tempo em pé e trabalhando. Quando tu trabalha com questões esportivas é preciso estar enérgico durante o dia e se doar para o trabalho – explica.

Diferenças para o time profissional
É natural que apareçam diferenças entre uma equipe semiamadora e uma profissional. Nos confrontos contra Magnus e JEC Futsal, ficou claro que a ABF não conseguiu parar a força dos adversários. No duelo com a equipe de Sorocaba (SP), os gaúchos perderam por 9 a 2. A derrota por goleada se repetiu contra os joinvilenses, dessa vez 11 x 2.
O desempenho abaixo aconteceu novamente contra o REC, a ABF foi superada pelo placar elástico de 6 a 0. Segundo o técnico, Flávio Carvalho Lopes, de 58 anos, é necessário entender a alta intensidade dos outros times comparada à ABF, contudo, ele esperava um desempenho melhor.
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– Eu nunca saio satisfeito com esses resultados. Acho maravilhoso estarmos aqui, mas os resultados me abalaram muito porque eu não esperava levar a quantidade de gols que estamos levando – desabafa.
Para o ala Rafinha, a logística e os treinamentos são fatores que explicam a distância de mundos entre um clube semi amador e um profissional.
– Enquanto eles treinam dez vezes por semana, nós treinamos três. Chegam em casa, fazem repouso e tem uma alimentação adequada, muitos do nosso time não tem condições de fazer isso em função da carga horária de trabalho. Eles têm todo esse planejamento profissional, acordam e dormem pensando no futebol – declara.
Rafinha alega que enquanto há condicionamento físico, o duelo acontece de igual para igual contra os adversários da Taça Brasil, mas chega um momento que “falta perna” e o cansaço bate.
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Outra dificuldade foi relatada pelo goleiro Jean Pierre. Ele diz que a ABF é acostumada a jogar em quadras com o tamanho de 34×18 em espaços semi amadores do Rio Grande do Sul. Quando se depararam com a medida tradicional de 40×20 no Centreventos Cau Hansen, eles sentiram que não estavam preparados para competir no mesmo nível.
– A gente está jogando o campeonato e se adaptando a ele. Do primeiro jogo para o segundo jogo já tivemos uma melhor adaptação de movimentação. Então a dimensão da quadra nos causa bastante transtorno – explica.
Sensação de disputar uma competição nacional
Apesar dos resultados frustrantes, os jogadores e a comissão técnica estão felizes por participar de um torneio com projeção nacional.
O pivô Natã Clei comemorou o fato de jogar com atletas da Seleção Brasileira e que geralmente só eram vistos na televisão.
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– É uma experiência que vai fazer parte da nossa história individual e da ABF. Vai ser um crescimento para ambos – afirma.
Sob supervisão de Lucas Paraizo
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