Em um tempo em que a vida intelectual e cultural ficava restrita aos homens e era limitado às mulheres permanecer em casa com as atividades domésticas, Delminda Silveira de Sousa apresentava os poemas em saraus e escrevia crônicas e contos em jornais e revistas, inclusive num periódico feminista da época.
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Ela nasceu no Brasil Império. Registros informam duas datas distantes: 23 de outubro de 1854 e 27 de janeiro de 1856. Descendente de imigrantes açorianos, pertencia a uma tradicional família de Desterro, como chamava-se Florianópolis. O tio João Silveira de Sousa foi jurista e político de renome nacional.
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Delminda cresceu sem ir para a escola. Recebeu aulas particulares e completou os estudos com frequentes leituras. Tornou-se uma mulher dedicada à religião e ao magistério, vivia sozinha, mantendo-se solteira e tinha uma particularidade: costumava vestir-se toda de preto. Apesar de não ter assegurado um diploma escolar, com a formação intelectual desenvolvida em casa conseguiu uma vaga de professora de português e francês em um tradicional colégio católico para meninas em Desterro.
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Começou a publicar os escritos em periódicos de Santa Catarina e de outras regiões do país no final do século 19. Sem escapar das amarras do tempo, expressou profunda religiosidade, conservadorismo e exaltação à Pátria. Mas também por meio da escrita conseguiu manifestar as angústias e anseios. Cartas enviadas e recebidas por Delminda Silveira revelam mais da alma da poetisa e ampliam o olhar sobre a obra dela. São correspondências com familiares e pessoas conhecidas que faziam parte do acervo particular da escritora e não foram publicadas. Estão atualmente preservadas na Academia Catarinense de Letras.
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Com anos de atuação no magistério e colaboradora da revista “A Mensageira”, a catarinense colocou-se também em defesa do acesso à educação e à cultura para as mulheres que, naquela época, somente podiam frequentar o ensino elementar nas escolas. Este periódico, editado em São Paulo, era referência na luta feminista no Brasil.
Por vezes assinando com o pseudônimo Brasília Silva, a escritora do romantismo já acumulava diversos textos impressos e passava dos 50 anos quando publicou o primeiro livro. O volume “Lises e Martírios” (1908), com 352 páginas, reuniu algumas das poesias, crônicas e contos escritos antes da virada do século. Seis anos depois, lançou “O Cancioneiro”, coletânea de poemas patrióticos ao Brasil, que havia se tornado República.
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Com dois livros e uma longa trajetória na imprensa, conquistou a cadeira 10 na hegemonia masculina da Academia Catarinense de Letras, ao lado de Maura de Senna Pereira. Em 1931, tinha mais de 70 anos e ainda publicou o terceiro volume, “Passos Dolorosos”, com versos de temática religiosa. Faleceu no ano seguinte, deixando os poemas inéditos de “Indeléveis”, que recebeu edição póstuma pela EdUFSC. Para homenageá-la, rua e escola de Santa Catarina receberam o nome da escritora.
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*Texto de Gisele Kakuta Monteiro.
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