Uma volta na figueira da Praça XV para retornar a Florianópolis. Duas, para quem quer encontrar o amor. Aos que sonham em se casar, o folclore indica três voltas ao redor da árvore. E entre lendas e versões, no meio do centro da Capital de Santa Catarina, o monumento vivo e histórico segue em pé com seus troncos espalhados. A origem e identidade dela, porém, são desconhecidas há mais de um século.
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Moradia das bruxas, como dizem os habitantes de Desterro, a Figueira foi plantada por volta de 1870 na área que hoje abriga a escadaria da Catedral. Cerca de 20 anos depois, em 1891, foi transplantada para o centro da praça e desde então serviu de sombra aos viajantes, além de palco para casamentos, carnavais e protestos.
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Passados mais de 150 anos, como detalha o historiador Francisco do Vale Pereira, embaixo dela a vida ainda acontece, e ao redor, a cidade se desenvolve. Em um cenário comum, passam visitantes ao passo devagar e moradores apressados: “É um verdadeiro arsenal de memórias”, resume.
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Os mais velhos contam que a mudança de lugar se deu pelo fato de a árvore ter tapado a visão de um governador que morava dentro do palácio Cruz de Souza, para o outro lado da praça. Isso teria atrapalhado o flerte do político com uma moça que ali vivia. Segundo o conhecedor dos causos da cidade, isso, no entanto, é mais uma crendice.
“A copa da figueira estaria atrapalhando esse namoro, esses olhares. Mas uma explicação mais técnica, e realista, é que seria o fato dessa figueira estar muito próximo da Igreja Matriz”, explica.
Bairros de Florianópolis são pequenas cidades dentro da Capital
Naquela época, Florianópolis ainda era chamada de Nossa Senhora do Desterro e a água batia às margens da Praça XV. A cidade não tinha tantos prédios, faixas de pedestre e ruas como são vistas hoje por quem caminha no centro.
Com seus troncos sustentados por “bengalas” ao longo da praça atualmente, a figueira passa por um processo de busca de identidade. Dentro do laboratório da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), pesquisadores fazem o sequenciamento genético da velha figueira para descobrir de onde ela veio.
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Como conta Valdir Stefenon, professor de biotecnologia da universidade, o objetivo é “descobrir a digital da árvore”. Apesar de sobreviver por tantas mudanças, ainda não se sabe qual espécie habita o centro da mais importante praça da Capital. Segundo o pesquisador, a revelação acontecerá nas próximas semanas.
“Dessa forma, a gente consegue mostrar que a ciência também contribui e se mistura com a história, que a ciência tem que sair das quatro paredes do laboratório”, conta.
A partir dessa identidade, o caminho que a figueira fez até ser plantada no Largo da Matriz poderá ser descoberto e, a partir de então, a árvore genealógica da Figueira da Praça XV será traçada.
Outra figueira também fez história
Foi também no centro da cidade, mas em outra localidade, entre a entre a Avenida Rio Branco e a Rua Padre Roma, que outra árvore da mesma espécie fez história em 1921. Nessa região, o território negro que existia ao lado do porto foi o responsável pelo surgimento do Figueirense Futebol Clube.
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O nome do time deu-se, segundo historiador Pereira, dentro do antigo Bairro da Figueira por conta de uma outra figueira que plantada na área do antigo cais.