Há 49 anos, a pescadora Maria Zeli Lisboa vive sob a cabeceira continental da Ponte Hercílio Luz. Mudou-se para um antigo rancho de pesca que pertenceu ao sogro logo que se casou. Com o tempo a família aumentou, e eles construíram uma casa no local para criar os filhos e depois os netos que chegaram.

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Maria se acostumou a dormir com o barulho dos carros passando em cima de sua cabeça e desde a interdição da ponte, em 1982, com a tranquilidade abalada somente nos dias de vento Sul e Nordeste. Da janela de casa, acompanha de perto a novela que envolve a reforma da Hercílio Luz. Com a experiência de quem passou a maior parte da vida ali, ela diz não temer que a ponte caia:

– Acho que não dão mais jeito, mas cair não vai. Há tempos vieram nos procurar para que a gente saísse, mas não chegamos a um acordo. Antes moravam 12 famílias aqui, a maioria aceitou a indenização do Deinfra e saiu, mas não achamos justo o que ofereceram, então agora está na justiça – contou.

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Tábuas

A única preocupação da família são as tábuas de madeira que foram instaladas em 2007 para própria segurança deles, como foram informados na época, porém vivem soltando e já caíram no telhado das casas. A filha de Maria, Lubia Lisboa, explica que além de viver no local com o marido e dois filhos, uma menina de 15 e outro de 7, eles sobrevivem da pesca no local:

– Eu nasci aqui, minha mãe me teve em casa. Não tenho medo que a ponte caia, mas sim as madeiras. Acho que essa ameaça agora é só para conseguirem mais dinheiro. Querem que a gente saia, mas não pensam que não é só pelo valor da casa, temos uma vida e trabalho aqui – explica.

Torce pela restauração

O marido Sandro Garcia lembra quando a Justiça enviou um perito até o local para avaliação:

– O perito me disse que não tinha condições de avaliar somente o imóvel, pois viu que tinha a situação da nossa história ali, do nosso trabalho. Expliquei que não queremos dinheiro, mas uma outra casa perto, para que a gente possa manter a nossa atividade que é a pesca. Não adianta colocar a gente longe daqui, pois como vamos trabalhar? – questiona.

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Sandro torce pela restauração

Apesar da situação que envolve sua família, Sandro espera que a ponte seja restaurada com sucesso:

– Todos os dias param turistas aqui para bater foto que é um patrimônio da cidade, pena que está se tornando uma vergonha para todos nós de tanta roubalheira – falou.

Sem esperança

Depois de tanto tempo, promessas e restauros que nunca terminam, o pescador Renato Lisboa já perdeu as esperanças de ver a ponte recebendo carros novamente. No rancho em que vive próximo a cabeceira continental, ele observa a construção cada vez mais enferrujada:

– Melhor mesmo era derrubar e fazer outra. Eu já vi caindo madeira no telhado dos vizinhos, não consigo dormir tranquilo. Pelo menos estão terminando de colocar os apoios, ouvi falar que vão tirar a corrente, espero que venham nos avisar, porque daí acho que tem perigo de cair.

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Apesar da preocupação, Renato não pensa em sair do lugar:

– Medo a gente tem, mas tenho mais medo ainda quando passo embaixo da ponte Pedro Ivo, porque de lá eu vi caindo placa de concreto – conta.