Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) estão auxiliando na construção da primeira lista de fungos ameaçados de extinção no Brasil. Já são 17 em Santa Catarina. No entanto, na lista vermelha da IUCN – onde são colocadas espécies fúngicas em perigo de extinguir – existem 25 espécies catarinenses.
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Apenas no Parque Nacional de São Joaquim, na Serra de Santa Catarina, 10 espécies podem ser extintas nos próximos anos.
O desequilíbrio do ecossistema é um dos motivos pelos quais os fungos podem vir a ser extintos. Suas maiores ameaças estão na perda ou fragmentação do habitat natural, mudanças climáticas, fogo, contaminação do solo, água e ar e espécies invasoras.
– Os fungos estão associados à vegetação e, de modo geral, se a vegetação está ameaçada, os fungos também estarão. Por exemplo, existe uma espécie que está criticamente ameaçada. Isso porque seu habitat natural são as araucárias, ele só foi encontrado, até hoje, em ramos desta árvore, que também está criticamente ameaçada, e existem estudos que afirmam a possibilidade de colapso das araucárias nas próximas décadas – explica o coordenador da pesquisa, Elisandro Ricardo Drechsler dos Santos, professor do laboratório de micologia da UFSC.
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Para que isso seja freado, o especialista diz que planos estratégicos de conservação do meio ambiente precisam ser feitos.
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Há a necessidade de implementar no país políticas de preservação da funga – termo que designa espécies de fungo de uma determinada região, assim como fauna e flora, por exemplo. No entanto, é necessário que em um primeiro momento as espécies fúngicas sejam reconhecidas em território nacional pelo Ministério do Meio Ambiente através de uma lista vermelha nacional. Até o momento, o reino fungi não é reconhecido por legislação, conforme conta o coordenador da pesquisa.
– Precisamos assegurar isso na legislação brasileira para que entrem na agenda de conservação da biodiversidade nacional. Existe uma lista de alerta para fauna, flora e não existe para as espécies fúngicas – explica o especialista.
Problema da extinção de fungos
O meio ambiente, fonte principal de vida, está em crise. Os fungos, nesse processo, são uma das partes mais atingidas. Isso porque equilibram o ecossistema e são principais degradadores da matéria orgânica, conforme explica Elisandro Ricardo Drechsler dos Santos.
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A ameaça dessas espécies pode impactar uma série de interações ecológicas que garantem a estabilidade dos ambientes naturais.
– Se hoje a gente vê em Santa Catarina, por exemplo, que o Oeste está sofrendo com seca e calor, é porque há um desequilíbrio. Quanto mais nós tivermos uma conduta voltada para a exploração não sustentável, cada vez mais o recurso natural vai ficar em desequilíbrio e pragas como Covid, tempestades e uma série de efeitos serão vistos – explica.
Conheça os fungos de Santa Catarina
Sobre a pesquisa
As primeiras espécies encontradas no Brasil foram divulgadas em dezembro de 2020, pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), a partir de dados da UFSC. Em 2021, outros novos fungos foram adicionados na lista vermelha. O trabalho da universidade é pioneiro no país.
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O grupo de pesquisa MIND.Funga está se mobilizado para ajudar a alterar o cenário de esquecimento dos fungos, conforme explicam os pesquisadores. Sob a coordenação de Drechsler, um workshop capacitou 18 micólogas e micólogos brasileiros no processo de avaliação do grau de ameaça de extinção das espécies de fungos. A partir da iniciativa, cerca de outras 50 espécies entrarão para a primeira lista brasileira de fungos ameaçados de extinção.
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O estudo tem o apoio do Programa Ecológico de Longa Duração de Pesquisas em Biodiversidade de Santa Catarina, que tem o objetivo de investigar como as mudanças no uso da terra influenciam a estrutura dos ecossistemas da Mata Atlântica do Sul do Brasil. A pesquisa atua tanto no Parque Nacional de São Joaquim, como no Parque Estadual da Serra Furada, entre Orleans e Grão-Pará.
*Sob supervisão de Lucas Paraizo.
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