Autor de 27 livros, entre eles “O filho eterno”, com oito prêmios e adaptado para teatro e cinema, o catarinense Cristovão Tezza é um dos mais consagrados escritores brasileiros contemporâneos. Nascido em 1952, em Lages, vive em Curitiba desde a infância. Também morou em Florianópolis e esta relação com a cidade pode ser conferida em três obras do autor: “Aventuras provisórias” (2007) e “O fantasma da infância” (2007), que se passam na Ilha de Santa Catarina, além de “Ensaio da paixão” (1999), sem referência expressa.

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Mas as ruas e pontos históricos de Curitiba são o cenário predominante dos personagens de Tezza, como em “Trapo” (1988), que o projetou nacionalmente. Já havia publicado outros quatro livros. Dois anos após o pai falecer, a mãe mudou-se, com os filhos, de Lages para um apartamento na cidade grande. Tezza tinha oito anos. Na adolescência e juventude, viveu a rebeldia da contracultura dos anos 1960 e 1970 na capital e no litoral paranaense.

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Aos 14, começou a escrever. Durante quase uma década, de 1968 a 1977, participou do Centro Capela de Artes Populares, dirigido por Wilson Galvão do Rio Apa, que montou a comunidade de artistas no balneário de Antonina. O escritor e dramaturgo, que anteriormente havia embarcado num navio como marinheiro para percorrer o mundo, tornou-se uma referência paterna para Tezza.

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Ao concluir o ensino médio, o catarinense ingressou na Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante, no Rio de Janeiro. Desistiu após seis meses. Como queria viajar para o exterior, aproveitou um convênio Luso-Brasileiro para se matricular na Universidade de Coimbra. Embarcou em 1974, mas com os impactos da Revolução dos Cravos, ocorrida em Portugal naquele ano, a faculdade fechou e Tezza passou 14 meses viajando e trabalhando pela Europa. Quando retornou, abriu uma oficina de conserto de relógios. A empreitada durou pouco tempo e, assim, encerrou o ciclo que viveu em Antonina.

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Em 1977, aos 25 anos, casou-se e ingressou no curso de Letras na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Nessa época, publicou o primeiro livro “A cidade inventada” (1980), reunindo contos escritos desde 1969. Tornou-se professor universitário de Língua Portuguesa, inicialmente, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e, por 20 anos, na UFPR, até 2009, quando se demitiu para dedicar-se exclusivamente à literatura.

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Acumula as principais premiações de literatura do país. “O filho eterno” (2007) é o maior destaque com oito prêmios, entre eles o internacional Prix Littéraire Charles Brisset 2009, da Associação Francesa de Psiquiatria, além de ser finalista do Prêmio Internacional Impac-Dublin de Literatura (2012), promovido pela cidade irlandesa. A ideia inicial era escrever depoimentos reunidos em um ensaio, sobre a relação com o filho, que tem Síndrome de Down. Optou pela narrativa de ficção, permeada por fatos da própria vida. A repercussão abriu portas para o exterior. A obra teve 21 edições no exterior, até na China e Finlândia.

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A publicação mais recente é “A tensão superficial do tempo” (2020). Em 272 páginas, acompanha cerca de 30 minutos de Cândido, professor de química, que também é especialista em piratear filmes na internet. Como pano de fundo, o Brasil atual e Cândido sentado no banco de uma praça, sofrendo uma desilusão amorosa, busca juntar cacos descortinando, em camadas, as suas (as nossas) angústias individuais e coletivas.

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