Desde jovem até a aposentadoria, Adolfo Boss Junior manteve o emprego estável como bancário. Durante a juventude, não tinha o hábito da leitura. O pai, jogador de futebol do Avaí, nem os demais familiares o apoiaram na literatura. Ainda assim, já adulto, Buss fez-se escritor, desvendando uma vocação. Dedicou-se a produzir textos elaborados, aprofundou-se na pesquisa histórica para enriquecer as obras e sobrepôs um olhar sensível à natureza humana. Conquistou carreira nacional com oito livros, três deles premiados, além de participações em coletâneas.
Continua depois da publicidade
> Receba as principais notícias de Santa Catarina pelo WhatsApp
O empurrão inicial veio do “sonho” de um grupo de jovens que se mobilizaram em Florianópolis, nos anos de 1940 e 1950, para abrir espaço ao novo nas artes de Santa Catarina. Era o Grupo Sul, que reunia Salim Miguel, Eglê Malheiros, entre outros emergentes escritores daquela época que se tornaram grandes expoentes da literatura catarinense.
Adolfo Boos tinha o gosto pela escrita e alguns textos guardados quando foi fisgado pelo entusiasmo dos jovens do Grupo Sul por autores como Carlos Drummond de Andrade e Graciliano Ramos, que se destacavam no movimento modernista nacional. Ele se juntou a eles, o que o levou a publicar o primeiro livro, “Teodora & Cia.” (1956), com nove contos.
Continua depois da publicidade
Em 1964, ano que Salim Miguel e Eglê Malheiros foram presos pela ditadura militar, Boos exilou-se na Bahia e passou a ocupar-se com o trabalho nas agências do banco que era empregado e com o que a vida lhe proporcionava nas pequenas cidades que morou, algumas sem nem energia elétrica: pescava, caçava e convivia com os moradores locais.
> Lausimar Laus, uma escritora dedicada à cultura germânica
Retornou a Florianópolis, cidade natal, em 1975. Vinte e quatro anos depois do lançamento do primeiro livro, publicou o segundo, “As Famílias”, e recebeu o Prêmio Virgílio Várzea, do governo de Santa Catarina. Teve mais duas obras premiadas em um único concurso: “A companheira noturna” e a estreia em romance, “Quadrilátero” (1986), segundo e terceiro lugares na Bienal Nestlé de Literatura Brasileira.

Em “Quadrilátero”, ao escrever sobre as mazelas dos imigrantes, o catarinense saiu do lugar comum na abordagem como “heróis” daqueles que deixavam a terra natal para viverem num país desconhecido, em regiões com pouca ou nenhuma infraestrutura. Ele destacou a luta pela própria sobrevivência, semelhante aos animais, mas sob sentimentos humanos, como o medo.
Nas páginas desse livro, estava a vida real contada pelo avô, que nasceu em Brusque, cidade de colonização alemã, e pela avó, que saiu criança da Polônia.
Continua depois da publicidade
> Como a “fome” de leitura criou um grande escritor em Santa Catarina
Em 1997, lançou “Um largo, sete memórias”. A narrativa gira em torno da compra de uma escrava por Manoel Joaquim da Silva Bitencourt, sapateiro e abolicionista que realmente teria vivido em Santa Catarina no final do Século 19. Para esta obra, o escritor dedicou-se à pesquisa sobre a escravidão e o abolicionismo. Entretanto, mais do que um romancista histórico, Boos Júnior consagrou-se como um contador de histórias sobre a natureza humana. “Burabas”, ambientado durante a Guerra do Contestado, foi o último livro, publicado em 2005. Ele morreu nove anos depois à publicação, aos 83 anos.
*Texto de Gisele Kakuta Monteiro
Leia também:
> Quem é João Paulo Silveira de Souza, o amante das belezas da Ilha da Magia
> O fantástico mundo de Péricles Prade
> Como Franklin Cascaes trabalhou o imaginário coletivo de Florianópolis e região
> Roteirista e escritora de SC ganha destaque internacional na série “Ilha de Ferro”