Quase meio século na literatura, 36 livros publicados, o que Deonísio da Silva tem a dizer? “Combati o bom combate e guardei a fé”, resume o ex-seminarista com a frase bíblica. Mas o combate não terminou. O professor e escritor catarinense, 73 anos, mostra fôlego na sequência dos lançamentos de obra inédita e reedições e na expectativa da publicação do novo romance “A tragédia de Albertina Berkenbrock”.

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No começo do ano, lançou em Portugal “Stefan Zweig deve morrer” (2012). Ano passado, publicou seu 36º título: “Balada por Anita Garibaldi & Outras Histórias Catarinautas”. Mais duas obras ganharam recentemente reedições: “Teresa D’Ávila”, premiada pela Biblioteca Nacional, e “De onde vêm as palavras”. Com a narrativa temperada do autor, o clássico da etimologia chega ampliado à 18ª impressão e remete à recordação de como eram saborosas as histórias dos seus avós.

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Mesmo que repetissem o enredo, encantava-se com um detalhe adicional ou um gesto diferenciado. Reproduziu o hábito de contar, recontar e inventar narrativas para a filha, experiência que o levou a lançar quatro livros infantojuvenis.

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O gosto pela escrita e leitura foi despertado por outra sensação: o “cheirinho bom” que sentia da professora que o alfabetizou na escola de Jacinto Machado, cidade vizinha de Siderópolis, onde nasceu em 1948. Por imposição da mãe, ingressou no seminário, onde ampliou a formação. A disciplina de horas de leitura e estudos, incluindo outras línguas como latim, não representavam castigo para ele, que rejeitava ter vocação religiosa.

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Nas lembranças dele, por volta dos seis anos, já intuía se tornar escritor. Seguiu na graduação e mestrado em Letras. A tese de doutorado em Literatura Brasileira, defendida na Universidade de São Paulo, tratou dos 508 livros proibidos no ciclo militar pós-1964 e resultou na obra “Nos bastidores da censura” (1989).

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Viveu a juventude sob a censura e até foi condenado devido a um conto publicado. Teve a suspensão condicional da execução da pena, mas ficou apreensivo quando foi chamado a Brasília. Tratava-se, porém, da entrega do prêmio do Ministério da Educação e Cultura ao autor do melhor livro do ano, “Exposição de motivos” (1976), obra adaptada pelo diretor Antunes Filho para a televisão. Outros títulos, alguns traduzidos para idiomas diversos, foram premiados. “Avante, soldados: para trás” (1992) conquistou o Prêmio Internacional Casa de las Américas, com júri presidido pelo escritor José Saramago.

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Deonísio da Silva iniciou a carreira de escritor quando já era professor no ensino primário e secundário. Foi docente e exerceu outros cargos nas universidades de Ijuí (RS), Federal de São Carlos (SP) e Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, onde mora. Integra a Academia das Ciências de Lisboa, Academia Brasileira de Filologia, Academia Catarinense de Letras e outras.

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Para além dos acadêmicos e leitores dos livros, levou os saberes e temperos a um público diversificado por meio de frequentes colaborações na mídia.

*Texto de Gisele Kakuta Monteiro

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