O escritor Marcelo Labes vem se destacando em premiações nacionais com o lançamento de livros que mostram aspectos menos abordados da cidade natal, Blumenau, e a infância marginalizada que viveu. As narrativas não se restringem à história de uma região ou à própria biografia. Remetem a lugar e personagem comuns, que cada leitor pode identificar ao redor e dentro de si.

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É o caso de “Três porcos”, eleito o melhor romance do ano passado no Prêmio Machado de Assis, da Fundação Biblioteca Nacional. Ao tratar de uma ferida profunda, o abuso sexual, o autor convoca a refletir sobre as marcas da infância carregadas ao longo da vida, além da formação e da desconstrução do indivíduo. Na obra que mistura biografia e ficção, o protagonista Rafael, em meio ao sofrimento e à sensação de fracasso com o término do casamento, revive a trajetória desde criança. 

Entre as lembranças, escancara a antiga dor como vítima da violência sexual infantil na época em que morava em um bairro afastado na terceira maior cidade do Estado, a mãe madrugava para trabalhar como empregada doméstica e deixava-o aos cuidados de terceiros. Infância real de Marcelo Labes, nascido em 1984, um mês antes da mais famosa Oktoberfest do país, que tem repercussão até internacional, enquanto outras narrativas da região são ofuscadas.

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Fatos ignorados de Santa Catarina e também do país são tema de outro livro do escritor. Com “Paraízo-Paraguay”, estreou em romances e tornou-se o vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura em 2020. No ano anterior, já havia chegado perto de uma conquista nacional, classificando-se no segundo lugar do Prêmio da Fundação Biblioteca Nacional. Recentemente, foi anunciada a tradução para o inglês.

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A obra apresenta o relato de uma família de imigrantes alemães no Sul do Brasil, como a própria, e enlaça fatos ocorridos com as gerações que se seguiram aos fatos históricos. A matriarca Olga é quem conta essa história. À beira da morte, acamada em casa e na solidão do próprio mundo, sente-se livre de versões institucionalizadas do imigrante heroico desbravador, do brasileiro pacífico, indígena dócil e de outros personagens.

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Em uma vasta pesquisa da história brasileira, em meio à ficção, resgata uma das maiores atrocidades registradas, a Batalha de Campo Grande na guerra contra os paraguaios, que colocaram cerca de 3 mil crianças à frente do exército brasileiro. Foram massacradas em 16 de agosto, data que o Paraguai celebra o Dia da Criança. 

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Da violência na infância, com passagem por um internato no ensino médio, à frustração no serviço público e em trabalhos temporários, entre outras vivências, Marcelo Labes se fez escritor, inspirado, principalmente, pelo poeta Castro Alves. Havia lançado quatro livros, quando “Enclave”, coletânea de poesias, foi finalista no Prêmio Jabuti 2019. Investiu na editora Caiaponte, pela qual lançou “Três porcos” e “Paraízo-Paraguay”, vitoriosos entre publicações de grandes empresas do setor, exibindo o talento do catarinense e projetando-o nacionalmente para conquistar mais leitores. 

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À margem no concorrido mercado editorial, mostra-se um sobrevivente de fôlego desde a primeira obra “Falações” (2008). Para este ano, anuncia o lançamento de mais dois livros.

*Texto de Gisele Kakuta Monteiro

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