Allan José Vieira é um perseverante. Aos 34 anos, ostenta o primeiro diploma de graduação da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), instituída em 2009, com sede em Chapecó. Natural de Maravilha, Allan interrompera os estudos no ensino médio, em 1996.

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Por uma década, viveu o sonho de ganhar os palcos como músico. Mas, aos 25 anos, mudou os rumos. Concluiu o supletivo pelo sistema de Educação de Jovens e Adultos (EJA), ingressou no curso de História de uma instituição privada da região. Mas quando a UFFS foi instituída, obteve a transferência pela nota do Enem. Mas era Filosofia que o seduzia.

Trocou de curso e se formou neste ano em Licenciatura em Filosofia. Carrega consigo o diploma 001 da UFFS. Hoje, Allan saiu do Oeste para morar na Capital: selecionado em primeiro lugar, cursa o mestrado em Filosofia da UFSC. Confira a entrevista:

“Foi realizador”

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Qual a sensação de ter o diploma nº 1 da UFFS?

Allan Vieira – Para mim representou bastante. Talvez não tanto por esse lance de ser o primeiro diploma, mas para minha trajetória pessoal, porque fiquei muito tempo sem estudar. Pegar o diploma e ver que fiquei parado, fiz supletivo, foi bem realizador. Saí bem cedo de casa, eu era músico, e saí para tocar, ganhar minha vida assim. A gente tocava de tudo, fiquei muito tempo em banda de baile, fazia formatura, casamento. Toca de tudo, de Strauss a Iron Maiden. E a música é uma coisa muito apaixonante, então eu queria me dedicar para aquilo 24 horas por dia. Acabei parando de estudar. O tempo foi passando e quando eu vi tinha passado 10 anos. Aí pensei ‘queria dar uma mudada na minha vida, o que poderia fazer?’. Pensei em voltar estudar. Só coisas boas a partir do momento que voltei a estudar.

Em que momento decidiu voltar a estudar?

Allan – Acho que por causa da idade. Nesses 10 anos me dediquei muito à música, mas chegou um tempo que pensei “poderia fazer uma outra coisa, não ocupar tanto tempo com a música’. Sempre gostei muito de ler, literatura, quadrinho. Foi uma coisa de amadurecimento.

A opção pela Filosofia foi de primeira?

Allan – Eu queria Filosofia desde o início, mas não sei nem explicar por quê. Lia muito sobre Filosofia, mas também não entendia muito, mas achava interessante. Quando fui prestar vestibular, logo quando eu concluí o ensino médio no EJA, a Universidade Federal não estava funcionando ainda em Chapecó, iria começar só no outro ano. Aí eu fiz vestibular para uma universidade comunitária, só que naquele ano fechou o curso de Filosofia deles. Daí fiquei sabendo do vestibular para História. Quando saiu a notícia que era oficial a vinda da UFFS, vi que teria o curso de Filosofia, pensei que era a oportunidade de fazer o que eu queria, apesar de já fazer um ano que eu estava cursando História.

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O curso e a universidade atenderam às expectativas?

Allan – Acho que até foi melhor do que a expectativa, porque acabei descobrindo outros interesses que não tinha antes de começar a cursar. Principalmente no primeiro ano foi complicado porque a universidade estava bem no início, principalmente trâmites burocráticos. Mas com excessão desse detalhe, em relação a nível de ensino, professores, material para pesquisa, quanto a isso, 100%, foi muito bom.

Quais os seus projetos?

Allan – Sempre projeto a curto prazo. Um passo por vez, primeiro terminar o mestrado. Mas a médio, longo prazo, vislumbro fazer o doutorado. Vamos ver se ano que vem consigo passar na seleção para doutorado. Mas a minha ideia é dar continuidade na carreira acadêmica.

E você passou em primeiro no mestrado na UFSC?

Allan – Quando eu tava terminando o curso lá, eu fiz a seleção aqui. Passei em primeiro, com muito trabalho, tive de estudar bastante.

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O que recomenda para quem está se preparando para a universidade? É permitido experimentar, trocar de cursos, como você?

Allan – Muitas vezes quando a gente sai do ensino médio não tem uma clareza do que se quer. Claro que ajuda se tiver muito bem focado. Mas acho que a pessoa nessa idade também tem uma gordurinha para queimar, para experimentar alguma coisa. Se não der certo, experimentar outra. Mas em relação à vestibular, uma vez que a pessoa tenha se decidido a dar continuidade nos estudos, estudar muito, se preparar muito porque é muito concorrido. E queira ou não queira, tem que se dedicar, tem que se planejar e aproveitar bem os horários.