Todos os dias, a primeira atividade do eletricista Marcos Denke é despertar a filha de dois anos e nove meses. Tira a menina do berço e já começa a ouvir ¿papaizinho¿ pela casa. ¿Papaizinho¿ na hora de tomar café da manhã; ¿papaizinho¿ no banho e na escolha da roupa, ¿papaizinho¿ nas manhãs em casa, antes de ir para o trabalho; e ¿papaizinho¿ enquanto ela espia na janela da frente no fim do dia, à espera do responsável por colocá-la para dormir.

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Marcos sonhou tornar-se pai, se preparou para assumir a responsabilidade, mas nunca pensou que a assumiria sozinho: a espera por Letícia foi sonhada ao lado de Adriana, companheira há 16 anos, mas, em 27 de novembro de 2014, complicações no parto impediram que os planos de formarem uma família se realizassem.

— Eu saí do enterro da minha esposa e fui buscar a minha filha na maternidade. Era uma mistura de tristeza e felicidade. Foi ela quem me deu forças para continuar — recorda Marcos.

Na época, Marcos conquistou o direito à licença-maternidade, com a possibilidade de permanecer 120 dias afastado do trabalho sendo remunerado pelo INSS – atualmente, o tempo máximo para os homens que têm filhos se ausentarem é de 20 dias, de acordo com a lei 13.257/2016, destinado apenas a quem aderir ao Programa Empresa Cidadã. Em outras situações, a licença-paternidade é de apenas cinco dias.

Pai ganha direito à salário-maternidade em Joinville

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A situação de Marcos foi inédita e repercutiu nacionalmente, levantando discussões sobre paternidade e sobre a importância deste direito para a criança. Mas na casa que ele divide com a mãe, na zona Norte de Joinville, não havia espaço para dúvidas ou reflexões: era momento de luto e aprendizado.

— Eu não tinha nenhuma experiência. Tinha medo de pegar, de dar banho, porque ela era tão pequena — conta ele.

— Minha mãe é quem me ajudou, me ensinou.

Com a avó materna vivendo lado a lado, Marcos poderia ter deixado que a figura feminina da casa se encarregasse da responsabilidade sobre os cuidados com o bebê, mas não era desta forma que ele esperava ser pai.

Apesar da inexperiência, ele tinha uma lembrança muito forte de como o próprio pai, Antônio, morto há 20 anos, havia criado os filhos: diferentemente da maioria dos homens de sua geração, Antônio assumia não só o papel de provedor econômico, mas também de dividir as tarefas básicas do dia a dia.

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Com essa inspiração, Marcos passou os primeiros meses de Letícia dormindo ao lado do berço, acordando a cada suspiro mais alto e cumprindo o ritual de oferecer a mamadeira a cada três horas.

— Se não tivesse recebido a licença de 120 dias, eu teria deixado o emprego. Foi muito importante estar perto dela naqueles dias, para a nossa ligação. Hoje, a gente não se larga — afirma.

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