A necessidade de apalpar o tecido, provar o calçado e testar o visual na frente do espelho antes de escolher a melhor roupa está cada vez mais perdendo espaço para a experiência virtual de comprar moda. Uma das grandes varejistas do setor, a catarinense Hering, divulgou que vai intensificar sua aposta no comércio online. Para especialistas como Cris Rother, diretora de negócios da e-bit, 2012 será o ano da moda no e-commerce.
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No ano passado, o segmento moda e acessórios ocupou a quinta posição entre as categorias de produtos mais vendidos no comércio eletrônico. Ele representou 7% do bolo total de pedidos – empatado com saúde, beleza e medicamentos e apenas 1% atrás dos eletrônicos. No Natal, a categoria teve um desempenho ainda melhor, ficando em segundo lugar.
– Em outros anos, a moda aparecia de forma sazonal no ranking das 10 categorias com maior volume de pedidos. No ano passado, ela já se firmou no top 5 e, este ano, apostamos que ela terá um peso ainda maior. Será o ano da moda na internet – aposta Rother.
Um fator importante para o aumento do consumo deste segmento da indústria, explica a diretora da consultoria e-bit, é o aumento da presença da classe C e das mulheres nas compras pela internet. Dos 9 milhões de novos consumidores online registrados em 2011, 61% pertenciam à classe C. No segmento de compras coletivas, produtos relacionados à moda já ocupam a segunda posição no volume de negócios, seguido das compras de saúde e beleza.
As classes A e B foram as primeiras a se “arriscarem” na compra da moda na internet. Nos últimos anos, especialmente em 2011, a classe C reforçou este contingente de pioneiros. Os heavy users (usuários que utilizam a internet com alta intensidade) são os principais compradores de moda, ressalta a especialista, diretora da consultoria e-bit.
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São pessoas como a empresária Marina Speranza, de 29 anos, que tem uma empresa de pesquisa e gerenciamento de mídias digitais em Florianópolis. Ela compra com frequência livros – a primeira febre do e-commerce, junto com a compra de CDs -, já adquiriu impressora e fez compras de supermercado, mas há cinco anos fez a primeira aquisição de moda: uma Melissa.
Depois, escolheu à dedo 16 roupas e um acessório para câmera fotográfica na loja Urban Outfitters, dos Estados Unidos. A compra totalizou US$ 671,99, com frete incluído – em valores atualizados, a fatura seria de cerca de R$ 1.254.
A encomenda foi perdida no caminho e o Urban Outfitters teve que reenviar a compra. Sem alguns itens, a conta somou US$ 485. Marina pagou pouco mais de R$ 500 em impostos. Ainda assim, achou que valeu o investimento.
– Onde eu compraria aqui 17 produtos por cerca de R$ 1,2 mil? – pergunta a empresária, justificando a escolha pelo site americano.
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Ela fez a compra na Urban Outfitters porque diz que não encontra roupas acessíveis e interessantes nas lojas brasileiras. Fora as roupas compradas virtualmente dos Estados Unidos, Marina comprou alguns sapatos no Brasil, algumas Melissas e um Converse. Achando as roupas no Brasil caras, a empresária gosta da internet pela possibilidade de comprar moda no exterior.
E se a roupa não servir?
A principal barreira para o consumidor adquirir roupas ou calçados na internet é a dúvida se o item que será comprado vai servir no corpo. O receio procede porque distintas marcas apresentam tamanhos diferenciados para os estabelecidos P, M, G e GG.
Uma ajudinha para quebrar com esta barreira, segundo os especialistas, é o início da padronização por medidas para as roupas no Brasil, processo já estabelecido no mercado internacional e que ajudou o segmento a prosperar. As roupas infantis foram as primeiras a passar por esta mudança, explica Ari Meneghini, diretor executivo da Interactive Advertising Bureau (IAB) Brasil.
Depois das crianças, que tiveram roupas padronizadas em 2010, este ano a informação das principais medidas por centímetro chegou ao segmento masculino. A adoção destes padrões não é obrigatória. Mas no caso das lojas online, o recurso poderá ser vital.
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– Em uma loja eletrônica você precisa desse tipo de informação para saber se a roupa vai servir ou não – sintetiza.
O especialista explica que a adesão do consumidor à compra de têxteis em lojas virtuais nos EUA foi mais fácil porque o consumidor estava acostumado a comprar roupas por catálogo. No Brasil, não há esse hábito, por isso a centimetragem surge para facilitar as vendas.
Outras ferramentas inteligentes estão sendo utilizadas pelas varejistas do vestuário para aumentar o crescimento das vendas online. Desde as clássicas fotos com a possibilidade de lente de aumento e mudança de cor das peças até combinações sugeridas para a roupa escolhida e a utilização de webcam para simular o uso das roupas – como um provador.
Para o designer de consumo Mauricio Queiroz, do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), o vestuário rompe uma regra básica do comércio online, que é a venda feita pelo preço mais baixo. A motivação do consumidor não é pagar menos, mas ter uma peça de uma marca conhecida, assim como experiências e produtos exclusivos.
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– Uma tendência fora do país é o uso de equipamentos móveis (como smartphones) como acessórios para as compras, com o cliente consultando amigos quando visitam uma loja, por exemplo.