Desde pequena, quando brincava de escolinha com as sobrinhas mais velhas, Claudete Benta Oda, 55 anos, já sabia que tinha gosto pela sala de aula. Com os pedaços de giz que a mãe trazia da escola onde trabalhava como cozinheira, Claudete ensaiava os primeiros passos na profissão. Professora de educação infantil da rede municipal de Florianópolis há 26 anos, a manezinha da Ilha é apaixonada pelo que faz e se emociona ao falar da trajetória.
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Moradora da Armação, no sul da Ilha, Claudete é conhecida por toda a comunidade desde os tempos do antigo primeiro grau – atual ensino fundamental. Depois de formada, ela voltou para o bairro onde começou a dar aulas e chegou a ser diretora do Núcleo de Educação Infantil (NEI) Armação por seis anos.
— Agora eu trabalho como professora, mas sempre alguém vai lá me perguntar alguma coisa. Quando eu saio na rua todo mundo pergunta sobre matrícula, essas coisas, às vezes coisas que eu nem sei, mas como eu sou mais conhecida, tem pessoas que ainda pensam que eu sou diretora — conta.
Mãe de três filhos e avó de dois netos, em tempos de férias, a casa da professora vira o lugar preferido da família. Assim estava o lar de Claudete quando ela recebeu a reportagem da Hora para um bate-papo e um cafezinho. A nora Nayara Limas, 25, mora em São José, mas afirma que adoraria poder matricular a filha, a pequena Laura Limas Oda, de dois aninhos, na escolinha onde a sogra trabalha.
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— Ela é referência para mim. Queria muito que minha filha tivesse ela como professora, não é só porque é vó, porque eu sou uma mãe exigente, mas porque ela é maravilhosa e referência para todos — enfatiza.
Da roça à sala de aula
Claudete nasceu na Costa de Dentro, no sul da Ilha. Filha caçula de pais agricultores, a professora começou a trabalhar na roça, assim como toda a família. O pai plantava mandioca e café. A mãe trabalhou na roça até ser merendeira da prefeitura. Ainda pequena, ela e os irmãos – no total são cinco, mas um já faleceu – iam para a roça com o pai.
— Ia para ajudar meu pai, mas também brincava muito. Se ele via uma semente, uma flor, uma coisa diferente, ele dava aquilo pra gente brincar. A gente ia com ele pro trabalho, mas ali pra gente era uma brincadeira — relembra a professora.
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Foi na roça também que ela deu os primeiros passos na profissão que tanto ama. Assim como toda criança, Claudete brincava de escolinha e sempre era a professora.
— O meu irmão, que já era casado, ia pra roça com a esposa ajudar, e eles já tinham duas filhas, que eram apenas três anos mais novas que eu, então as minhas sobrinhas eram como minhas irmãs e a gente sempre brincava. Eu, como era mais velha, era a professora e elas eram as alunas.
As aulas aconteciam no engenho e com os pedacinhos de giz que a mãe levava para casa. No segundo grau — atual ensino médio — Claudete, por sugestão de uma diretora da escola, tentou fazer um curso de edificações para trabalhar na criação de projetos da construção civil.
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— Desde criança eu já achava que tinha vocação pra ser professora. Até tentei não querer ser professora e fui fazer na escola técnica por seis meses o curso de edificações, mas não me identifiquei e fui fazer o magistério. Eu sempre gostei de ter contato com gente, do carinho, aconchego, da conversa.
Claudete cursou o magistério e se formou em 1982. No mesmo ano começou a trabalhar como professora substituta numa escola em Armação e depois no Morro das Pedras. Em 1985, engravidou do segundo filho e parou de trabalhar. Voltou em 1995, quando fez concurso para auxiliar de sala no ensino infantil, área que ela mais se identificava, e ficou por nove anos numa creche no Pântano do Sul.
Com as mudanças na legislação da educação, que prevê curso superior para professores do ensino infantil, Claudete teve que correr atrás e cursou pedagogia. Quando terminou, em 2004, prestou outro concurso, dessa vez para o cargo de professora. Passou e em fevereiro de 2009 foi chamada. Nesse meio tempo, entre 2004 e 2011, ela foi escolhida para ser diretora da creche Armação. Hoje faz 40 horas semanais como professora em sala.
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A vida nos olhos das crianças
Atualmente a creche de Armação atende cerca de 280 crianças. Claudete cuida de uma turma com 15 pequenos com idade entre um e três anos. A professora é dedicada e é visível a emoção nos olhos ao falar do trabalho que realiza dentro e fora da sala de aula:
— As pessoas acham que trabalhar com educação infantil é só brincar e cuidar, mas não é. Até o fato de você dizer para um aluno “dá o brinquedo para o colega”, você já está educando.
Nas atividades em sala, Claudete gosta de trabalhar com coisas que as crianças vivenciam no dia a dia. Até sushi — receita aprendida com a família do seu Nelson — ela já preparou para os pequenos com a missão de inseri-los no aprendizado do alfabeto.
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— No final do ano, recebi uma foto de uma mãe que disse: “Claudete hoje a gente comeu sushi e o Otávio falou do dia em que vocês fizeram sushi e que ele nunca esquece”, isso que ele já está no 4º ano.
A professora foi homenageada pela prefeitura em outubro passado no Dia do Professor. A dedicação ao trabalho e o amor pela educação são reconhecidos pela comunidade.
— Eu acredito numa educação de qualidade e a escola pública é a que tem que ter uma educação ainda melhor porque a gente se esforça para isso. Sinto muita alegria, são seres tão pequenos, mas é muito prazeroso leva-los para uma saída na praia pra catar conchinha, é um simples catar conchinha, mas que pra eles tem um valor muito grande. É gratificante e fico emocionada.
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Amor que nasceu da amizade
Claudete é casada há 36 anos com Nelson Massami Oda, 57. O funcionário da Celesc aposentado é descendente de japonês e ganhou o coração da professora através da amizade. Os dois eram colegas de escola e participavam dos grupos de jovens da época.
Ela tinha 18 e ele 20 anos quando começaram a namorar. Foram apenas quatro meses de namorico e resolveram morar juntos. Um ano e meio depois nasceu a primeira filha.
Os dois têm muita coisa em comum. O que todo mundo sabe, e nem precisa perguntar, é a paixão que eles têm pelo Leão da Ilha. Por coincidência ou não a casa e até as unhas de Claudete são pintadas de azul. O brasão do time está estampado na parede na entrada da residência, porém a professora garante que não são fanáticos.
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— Não é tão forte assim. O Nelson tem uma tatuagem do Avaí no braço, mas não é aquele torcedor fanático, não é de brigar por causa do jogo. Como eu moro na comunidade e todo mundo me conhece, às vezes os figueirenses cobram mais de mim do que dele.
Claudete é quem não perde um jogo por nada. A única reclamação é que o marido não é de ir ao estádio.
— Se ele gostasse de ir para o estádio eu gostaria de estar lá sempre para acompanhar os jogos — conta.
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