Ao digitar “Ilha Velha São Francisco do Sul” no Google, você encontrará uma fotografia. A imagem aérea mostra uma ilha cercada por pedras e de natureza preservada, com um trapiche na recepção. É um terreno intocado, acessível para convidados e encontrado apenas por barco. Um pedacinho de terra perdido no mar, no norte de Santa Catarina e sem acesso para turistas.

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Seu Nelson, caseiro contratado pelo dono para cuidar do espaço, mora nessa ilha deserta com a mulher, Teresinha. Mais duas araras fazem companhia. O lugar tem uma casa com gerador, um santuário para oração no topo do morro e um horizonte azul em 360 graus. Ele não cansa da vida sem supermercado, shopping e carro.

– O melhor é o silêncio na hora de dormir – conta.

Para chegar até a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes, protetora daqueles que trabalham no mar, há uma trilha marcada por azulejos portugueses com os passos de Jesus antes de ser crucificado. Lá em cima, a santa protege toda a ilha, acompanhada pelo barulho do mar. Do topo do morro, nota-se que não há qualquer tipo de poluição, seja visual, sonora, ou criada pelo ser humano.

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A Ilha Velha é propriedade privada e tem dois bangalôs para aluguel por pelo menos R$ 1 mil a diária, além de um salão de festas. Também preserva uma construção de pedras coladas com óleo de baleia. Era ali que os antigos pescadores sacrificavam os animais.

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Uma pequena praia está no lado esquerdo da ilha, com indicativo para cuidado com águas vivas. Aquelas grandes e coloridas adoram circular por lá. A água é tão limpa que é possível enxergar os peixes grandes circulando a cinco metros de profundidade.

Com pés no mar, se pode ver as cores da água se intensificando única e exclusivamente pela luz, sem sujeira. São três tons refletidos: um bege claro e transparente na parte próxima à costa; um verde quase esmeralda, em sequência; e uma imensidão azul que se junta com o céu no horizonte.

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Negócio feito segundo a lei

O promotor José Eduardo Cardoso, que trabalha na Promotoria Temática da Serra do Tabuleiro, na Grande Florianópolis, explica que ilhas podem ser compradas. O interessado deve requerer o terreno com a União e a Marinha do Brasil para conseguir o título de ocupação. Os órgãos deverão avaliar a possibilidade de acordo com a situação.

Se a ilha tiver valor histórico – como a presença de quilombos ou sambaquis -, ou for Área de Preservação Permanente (APP), ou estiver localizada em um ponto estratégico para a Marinha, ela não poderá ser vendida. Segundo o promotor, cada caso é analisado em separado, e os órgãos podem encontrar outros motivos para que a área não seja cedida. A decisão sobre a venda é levada de acordo com as necessidades nacionais.

– As taxas geralmente são altas. É preciso que o dono pague duas receitas. A taxa de ocupação e o laudênio. O segundo só é cobrado na aquisição ou na transferência do terreno – explicou.

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Caso não haja problema, as ilhas marítimas, que são as mais próximas da costa, podem inclusive ter registro de imóvel, igual aos terrenos em regiões continentais. As ilhas oceânicas não podem ter registro.

Trajeto a partir do Centro Histórico leva 50 minutos

Saindo do Centro Histórico de São Francisco do Sul, o trajeto de barco é de 50 minutos até a Ilha Velha. Os golfinhos fazem a festa na Baía da Babitonga, enquanto se vê a península de São Chico sendo deixada para trás. Há também a parte continental, onde a Vila da Glória é avistada à direita. Do outro lado está Itapoá, outro município.

Depois do percurso, avista-se uma placa indicando o trapiche da Ilha da Velha. Vê-se, também, outras três ilhas vizinhas. A Ilha do Farol (ou da Paz e da Graça) está no lado esquerdo e, como o nome diz, tem um farol de 16 metros de altura. Uma trilha pesada de cerca de uma hora leva até o topo do morro onde fica a lâmpada giratória de sinalização. Para poder atracar o barco e subir até lá, é preciso ter autorização da Capitania dos Portos.

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Há ainda a Ilha do Pirata, nomeada depois que foram encontrados o nome de um corsário escrito em uma rocha e um canhão. A Ilha dos Veados está a metros de distância, sem registro do motivo da escolha do nome.

As três ilhas têm costões altos com pedras, não possuem praias ou espaço fácil de atracagem. São Áreas de Preservação Permanente (APPs), de acordo com a lei municipal nº 763/81, ricas em fauna e flora nativas de Santa Catarina. Um dos poucos espaços genuinamente preservados.