Walmor Alves Moreira é procurador do Ministério Público Federal em SC e protagonista de uma das maiores polêmicas do ano em Florianópolis: o fechamento de beach clubs de Jurerê Internacional. Aos 46 anos, evangélico, o paulista tem travado algumas discussões a respeito do assunto.
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Em Florianópolis desde 2001, quase diariamente aperta o botão do sexto andar do elevador da sede espelhada do Ministério Público Federal para chegar ao gabinete de 25 metros quadrados onde trabalha. Com frequência pede chocolate quente e fica de costas para a janela para evitar a distração com a paisagem composta pelo mar da Baía Norte e a Ponta do Goulart. Dedica-se ao caso dos beach clubs, tão polêmico quanto outros do passado como o da Moeda Verde, o de corrupção no Ibama e ação para demolir bares na Praia Mole em Florianópolis.
Há duas semanas, o Conselho Nacional do Ministério Público o impediu de fazer novas recomendações sobre o caso dos beach clubes e anulou as já feitas, como o corte de energia elétrica e a suspensão de licenças argumentando que determinações administrativas não poderiam ter sido solicitadas uma vez que existe uma ação judicial em andamento. Não quis falar sobre o assunto na época, mas no Facebook reproduziu enunciado do próprio conselho que não poderia interferir na atividade fim dos procuradores.
>>> Confira a entrevista com Walmor Moreira
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Parte dos empresários da cidade o considera de difícil diálogo. Discordam mais da forma como são conduzidos os processos do que dos objetivos. Um deles critica o procurador como uma pessoa inteligente e de bons propósitos, “mas que não escolhe bons caminhos para agir”. Outro o carimbou como extremista. Já um colega do MPF o defende e diz que todos os trabalhos de Moreira têm sólido respaldo em parecerestécnicos e em jurisprudência.
Moreira é ciente de todos os adjetivos atribuídos a ele. Para o bem e para o mal. E tem as fórmulas dele para aliviar a tensão do dia a dia: lê a Bíblia, que mantém sobre a mesa de trabalho em meio a pilhas de processos, consulta Uma Cidade Numa Ilha (compilação de textos sobre os problemas ambientais da Ilha de Santa Catarina) e O Mínimo que Você Precisa Saber para Não ser um Idiota, do filósofo Olavo Carvalho. Também gosta de viajar.
A página dele na rede social, bloqueada na sexta-feira para quem não é reconhecido como amigo e que não era de receber muitas atualizações, tem álbuns de fotografias dos roteiros que fez com a família pela Europa, onde conheceu Paris, Mônaco e Barcelona.
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Histórico controverso
O procurador João Marques Brandão Nèto conheceu Moreira em 1997 e o define com “nem de esquerda nem de direita e com a preocupação de aplicar a lei”. Os dois compuseram a força-tarefa, junto de outros quatro procuradores, que comandou as investigações da Operação Moeda Verde, deflagrada em 2007 em Florianópolis. Foi o momento mais conturbado da vida de Walmor Moreira.
Ele foi afastado da investigação pelo juiz federal Zenildo Bodnar por suspeição – havia suspeita da amizade do procurador com um dos investigados. Na sequência a força-tarefa foi dissolvida.
O resultado inconcluso do processo é uma das maiores frustrações do procurador. O decorrer do caso também provocou rachas dentro do Ministério Público Federal por desentendimentos na distribuição das matérias relacionadas a questões ambientais – ferida não cicatrizada.
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Se polêmicas não bastassem, ainda na época da Moeda Verde foi alvo de ação penal privada por difamação, movida por Eduardo Jorge Caldas Pereira. Numa entrevista, associou o nome do ex-secretário-geral da Presidência da República no governo FHC ao de PC Farias e Delúbio Soares. Hoje, Moreira reconhece que a declaração foi infeliz. A ação foi extinta após retratação. Também em 2007, tramitou em segredo de justiça no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) um processo no qual Moreira era suspeito de cometer concussão – exigir para si vantagem em função do cargo que ocupa – e abuso de autoridade num posto de combustíveis de Florianópolis. Após análise das procuradorias Regional e Geral o processo foi arquivado.
Despertar para nova vida
Com 26 anos de idade Walmor Moreira estava diante do primeiro dos 64 júris que participaria como defensor público em São Paulo. Pescador, o cliente de 65 anos era acusado de matar um conhecido mais jovem que devia dinheiro a ele. Se condenado à pena máxima o réu passaria a vida na prisão.
Nervoso pela estreia e pela presença de um promotor experiente na acusação, Moreira decidiu arriscar as técnicas de persuasão. Passou a interagir com os sete jurados – também havia sido jurado cinco anos antes -, chamando-os pelo nome e fitando-os nos olhos. Com o oficial de justiça, simulou no plenário a cena do crime, para fúria do promotor. A ousadia é contada como proeza por Moreira, pois conseguiu vencer o julgamento por 7 a 0. Percebeu ali que tinha feito a escolha certa pelo Direito.
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Filho de pai advogado, Moreira nasceu em Taubaté (SP). Na juventude costumava passar o verão na casa da avó em Balneário Camboriú. Funcionário da tesouraria da Editora Abril, cursava Jornalismo quando passou em Direito na renomada Mackenzie. Em 1996, ingressou no Ministério Público Federal e se mudou para Uruguaiana (RS). Mediou conflitos no auge do Movimento dos Sem-Terra e atuou na operação que desmantelou uma quadrilha de traficantes de armas para o Oriente Médio. Nas ações regionais, conheceu os atuais procurador-geral da União, Paulo Henrique Kuhn, e o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Coimbra.
Apreciador de arquitetura e urbanismo, mudou-se para Florianópolis em 2001 para atuar nas áreas de meio ambiente e patrimônio cultural. Dois anos depois se tornou procurador-chefe do MPF de Santa Catarina. Hoje, aos 46 anos, Moreira se considera catarinense por escolha. Casado, tem três filhos. O mais velho cursa Direito na UFSC, onde o pai, mestre pela Universidade de Barcelona, deu aulas em 2011 e 2012. Hoje não tem mais tempo para a academia. Nas redes sociais é visto com frequência e não esconde as preferências. Assume-se contra o casamento gay, é apaixonado por leitura, torce para o São Paulo e pratica tênis.
O irmão de Walmor Moreira é pastor evangélico. Foi quem o ajudou no período mais crítico da carreira, na derrocada da operação Moeda Verde. Membro da igreja evangélica Bola de Neve, relata as transformações por que passou intercalando com trechos bíblicos. Acredita que as adversidades do passado serviram para despertar para a nova vida.
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