Inicialmente um mistério, a “Sereia da Lagoa” apareceu em setembro de 2020, próxima à antiga ponte do bairro da Lagoa da Conceição, em Florianópolis, na Avenida das Rendeiras. Quem ia em direção às praias Joaquina e Mole, no Leste da Ilha, via a estrutura com o formato do ser mitológico em cima de uma pedra. Cerca de três anos depois, em outubro de 2023, a sereia foi removida do local em função das obras da nova ponte do bairro.

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Juan Mandala é o artista que produziu a sereia junto do Coletivo Espaço Tempo, que busca potencializar as ações de cuidado coletivo com o meio ambiente na capital catarinense.

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— A ideia do surgimento da sereia foi coletiva, com moradores da Lagoa da Conceição. A gente ficou imaginando qual seria a imagem que iria resgatar uma ancestralidade da vida da Lagoa, que tivesse ligação com esse passado que foi transformado. E a sereia continua hoje, mesmo com todas as mudanças que a lagoa e a Ilha da Magia passaram — conta o artista.

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Ainda de acordo com ele, o coletivo foi convidado a produzir a obra por moradores da região. Na época, ela foi recheada com resíduos que foram coletados na região da antiga ponte.

— A sereia tem a ver com o cuidado coletivo com as áreas públicas e com a natureza da Lagoa da Conceição, com a responsabilidade individual que a gente tem em trazer benefícios ao nosso meio — explica Juan.

Remoção da sereia e troca de localidades

Antes de solicitar que a sereia fosse removida da localidade original para as obras da nova ponte, a Prefeitura de Florianópolis entrou em contato com Juan e o coletivo pedindo autorização.

— Nós fizemos contato com vários entes da comunidade, conversando sobre essa perspectiva de mudança de lugar e para onde ela poderia ir. Na época, havia recém acontecido o desastre ecológico do rompimento da barragem. Então, esse foi o ponto escolhido para que ela fosse realocada — relembra.

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Ele se refere às fortes chuvas que atingiram Florianópolis em janeiro de 2021. Naquele período, um deslizamento da encosta da lagoa artificial de evapoinfiltração que recebe efluente tratado do Sistema de Esgotamento Sanitário da Lagoa da Conceição provocou vários estragos e afetou moradores.

Em nota divulgada um ano após o acidente, a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) comunicou as providências tomadas pela companhia, dando uma ideia sobre a magnitude do evento.

Há um ano, as fortes chuvas que atingiram Florianópolis (422,3 milímetros, quando a média esperada era de 138,6) provocavam o deslizamento da encosta da lagoa artificial de evapoinfiltração que recebe efluente tratado do Sistema de Esgotamento Sanitário da Lagoa da Conceição.

Desde então, a CASAN desenvolve ações para atendimento aos moradores, recuperação ambiental da região, melhorias e segurança do sistema.

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Já nas primeiras horas após o acidente, no dia 25 de janeiro de 2021, a Companhia iniciou uma operação para a contenção da lagoa de evapoinfiltração, além de mobilizar seus profissionais, da área operacional e de escritório, para apoio à comunidade.

Empresas foram convocadas emergencialmente para retirada de entulhos, areia e lama nos imóveis e na Servidão Manoel Luiz Duarte, o local mais prejudicado. Foi montado um Centro de Operações na Servidão para oferecer apoio social, psicológico, médico e alimentação à população. O local também deu suporte aos trabalhos realizados pela Companhia para limpeza inicial das residências e da própria servidão.

Foi realizada a limpeza e manutenção da rede de drenagem pluvial, além de instalação de um mecanismo emergencial de bombeamento, para controle de nível da lagoa de evapoinfiltração, com acionamento remoto e monitoramento 24 horas. Em novos períodos de chuvas, o rebaixamento no nível da lagoa foi acionado, garantindo segurança aos moradores“, diz a nota.

Quando a sereia foi removida da localidade original, em 2023, gerou controvérsias entre alguns moradores da Lagoa. Para Juan, os comentários “polêmicos” acerca da sereia são importantes para a causa que ela representa.

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— As polêmicas, por um lado, cumprem um propósito de diálogo social — diz.

Ainda conforme Juan, a nova localidade da sereia, que fica no Eco-Memorial VERA, nas Dunas da Lagoa, também reflete o propósito original da estrutura.

— Mais uma vez ela fez sentido. No começo, era uma imagem de algo muito natural que perdurou ao longo das mudanças. Agora, no novo lugar, isso faz mais sentido ainda. Com o desastre do rompimento da barragem, foi causado um impacto negativo terrível [naquela região]. A sereia, de novo, serve como um elo de ligação entre a vida do passado e a vida do presente — conta.

Produção da sereia

A produção da sereia teve, basicamente, cinco etapas. Primeiro, o coletivo, junto de Juan, idealizou uma imagem que seria significativa para a comunidade.

— É um diálogo com os moradores sobre quais são os símbolos que os representam — explica.

Depois, Juan produziu a escultura de metal, que foi preenchida com os resíduos coletados perto da antiga ponte. Em volta da escultura, camadas de concreto consolidaram a obra, que teve pintura e o mosaico como finalização.

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— Todas essas fases foram feitas de forma coletiva, com exceção da construção da estrutura metálica. Essa é a única parte do trabalho que só eu faço — compartilha.

Veja fotos da “Sereia da Lagoa”


Coletivo Espaço Tempo

O Coletivo Espaço Tempo promove ações sociais em vários locais de Florianópolis, principalmente na Lagoa da Conceição. Algumas das ações incluem mutirões de construções de viveiros de mudas nativas de dunas para reflorestamento, coleta de resíduos, construção de esculturas que homenageiam a cultura local, como a tainha, os pescadores e o surfe.

*Sob supervisão de Andréa da Luz

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