Joel de Andrade caminha pela antiga vila operária de Criciúma, no Sul do Estado, como se voltasse 40 anos no tempo, e vai apontando para os locais que nunca saíram de sua memória.
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– Aqui ficava a casa dos meus pais, ali a venda onde a gente comprava doces. Onde hoje há uma praça era o campo de futebol do Clube Atlético Operário – descreve.
Foto: Caio Marcelo / Agência RBS
Chega à Escola de Educação Básica Coelho Neto, onde cursou do primeiro ao quarto ano do ensino básico. Joel fica emocionado. Afinal, saiu de lá ainda criança. Ao entrar na sala de aula, que muito pouco mudou depois de tantos anos, ele comenta, com os olhos úmidos:
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– Essa sala parecia tão grande, mas era o meu olhar de menino.
O histórico escolar, um presente que recebeu da escola durante a visita, atesta que desde muito cedo Joel tinha as características que moldariam para sempre a sua personalidade: estudioso, aplicado, curioso, inteligente, solidário. Uma observação da professora, escrita no boletim, parecia prever o futuro: o menino nutria uma paixão especial por Ciências.
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Joel de Andrade: médico e cozinheiro da família
De classe média baixa, filho de um radiotelegrafista e de uma dona de casa, Joel continuou os estudos em outras escolas. Aos 14 anos jogava bola na Praia do Rincão quando soube que um homem que estava por ali era o deputado Eno Steiner. Não teve dúvidas: foi até ele e pediu uma bolsa de estudos, pois já sonhava em ser médico, mas não tinha condições financeiras para estudar em bons colégios e se preparar. Impressionado com a determinação do jovem, o deputado atendeu ao pedido.
Joel passou a frequentar o Colégio São Bento, de Criciúma. Depois fez cursinho pré-vestibular e passou para a Faculdade de Medicina da UFSC. Uma vitória e tanto para o menino da escola da vila operária.
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Suas raízes ainda estão no Sul do Estado. A mãe mora na Praia do Rincão, e outros parentes em Urussanga – cidade natal de Joel, já que quando ele nasceu sua mãe optou por ficar próxima da família.
Cientista pela vida
Desde 2005 o médico intensivista, hoje com 49 anos, comanda um dos grandes orgulhos dos catarinenses: a SC Transplantes, a central ligada à Secretaria de Estado da Saúde que tem a função de coordenar todas as atividades que envolvam captação e transplante de órgãos no Estado. Neste período sob a sua coordenação, o número de doações de órgãos em Santa Catarina cresceu vertiginosamente.
A SC Transplantes surgiu em 1999 e tem sede em Florianópolis. Um ano depois da criação foram registradas 25 doações. Em 2002, foram mais 26. Mais tarde, chegou-se a 30 doações por ano. Este ano, só no mês de julho, foram feitas 24 doações – quase uma por dia.
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– Não é mérito só meu. Temos uma excelente equipe – afirma Joel, que faz questão de deixar isso claro.
– Nosso objetivo é mostrar às famílias que quando acontece uma doação de órgãos o beneficiário não é só aquele que recebe, mas também quem doa. Isso faz toda a diferença – explica o médico.
Joel não atua diretamente nas cirurgias de retirada, nem de transplante de órgãos. Além da coordenação do programa, ele treina as equipes que trabalham na área nos hospitais (dentro e até fora do Brasil), para que elas saibam como abordar as famílias, nos casos de morte encefálica, a fim de que a doação dos órgãos seja consentida.
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Ele também viaja muito para mostrar em outros Estados e países o (bom) exemplo catarinense. Como se não bastasse, Joel é especialista em Medicina Intensiva (o primeiro titulado nessa área em SC), atuando ainda hoje como médico plantonista da Emergência e da UTI do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
A primeira vez que Joel acompanhou uma doação e transplante de órgãos foi quando duas crianças receberam simultaneamente novos rins, que lhes devolveram a saúde.
– Me apaixonei. Senti que era nesta área que queria atuar.