Foi pela literatura que Flávio José Cardozo vislumbrou o mundo além do paredão da Serra do Rio do Rastro e das minas de carvão de Lauro Muller, região onde nasceu 83 anos atrás. O menino do distrito operário de Guatá, que gostava de ler “As mil e uma noites”, tornou-se escritor premiado com obras publicadas por editoras nacionais. Aos 46 anos, entrou para a Academia Catarinense de Letras. Traduziu o argentino Jorge Luis Borges, autor de clássicos da literatura mundial. 

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Na escolinha de Guatá, começou a se encantar pelos livros ao conhecer as histórias populares de Ali Babá e outros personagens da coleção. Aos 11 anos, passou a estudar no seminário de Turvo, município próximo, onde o professor de língua portuguesa apresentou os grandes clássicos e incentivou a leitura como hábito.

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Lançou a primeira obra em 1970, aos 32 anos. “Singradura” apresenta contos ambientados na Ilha de Santa Catarina, local que escolheu para morar após residir em algumas cidades catarinenses e em Porto Alegre (RS). Neste e em outros volumes, Cardozo criou personagens locais e, com o olhar arguto da sua terra e sua gente, mostrou as sutilezas da existência humana. O volume de estreia na literatura teve uma reedição comemorativa de meio século, pela Editora UFSC, em 2020.

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Em “Guatá” (2005), foi a vez do escritor resgatar o modo de vida e o lugar da infância. Ele retornou ao pé da exuberante Serra do Rio do Rastro, que se contrapõe à degradação da exploração da natureza, inclusive humana. O catarinense recorreu às lembranças e também à pesquisa que fez com antigos mineiros para criar o ambiente e os protagonistas dos contos de “Guatá”. O mesmo espaço e tempo entrelaçam os causos, convite para a leitura da coletânea como um romance. 

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Mesmo quando não escrevia livros, Cardozo manteve-se próximo das letras e das artes. Trabalhou na Editora Globo, em Porto Alegre (RS), foi diretor da Imprensa Oficial de Santa Catarina e da Fundação Catarinense de Cultura. Também esteve presente junto ao leitor e a outros escritores. Em parcerias, lançou obras e organizou coletâneas, como “Trololó para flauta e cavaquinho” (1999), com Silveira de Souza, e “Batuque bem temperado” (2009), junto a Jair Francisco Hamms.

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Por cerca de 10 anos, chegou assiduamente aos leitores com as crônicas publicadas no Diário Catarinense, gênero que reuniu em “Água do pote” (1982) e “Senhora do meu Desterro” (1991), entre outras obras. Para o público infanto-juvenil, levou os bastidores de “O Tesouro da Serra do Bem-bem” (2004) visitando escolas e conversando com os alunos. Neste título, o autor conectou o lugar onde nasceu ao que escolheu para viver. 

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“O Tesouro da Serra do Bem-bem” (2004) reúne Xandro, Leco e Lucinha em uma aventura para uma grande descoberta. Eles partem da casa do avô Pedro, em Florianópolis, para a Serra do Rio do Rastro, quando são surpreendidos por algo inusitado. Com o encantamento da escrita de Flávio José Cardozo, a viagem continua para além do paredão.

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*Texto de Gisele Kakuta Monteiro

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