No país que tem a maior taxa de juro do mundo, é preciso fazer malabarismo para não se perder nas contas. Bruno Ely prefere comprar tudo à vista. Israel Santos espera sair da inadimplência agora que conseguiu um novo emprego. Conheça as histórias.

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    Se tem coisa que o advogado tributarista Bruno Ely, 28 anos, detesta é comprar a prazo. A fama de só levar produtos à vista já é conhecida entre amigos e familiares. A “mania”, como ele mesmo define o hábito de não comprar nada parcelado, vem desde a infância, relata.

    Longe de ser mão fechada como o Tio Patinhas, personagem dos quadrinhos conhecido por evitar gastar um só centavo, Ely explica que o costume acabou se transformando em aliado. Ele atua como profissional liberal.

    – Trabalho por conta, não tenho certeza da minha renda futura. Então, ajuda muito. Evito comprometer ganhos que eu ainda não tive com parcelamentos. E, de quebra, ainda me livro do juro – afirma.

    A regra vale para quase tudo. Nada de comprar roupas a prazo. Embarcar para as férias, então, só depois de quitar as contas.

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    – Uma vez, durante o verão, surgiu uma viagem de última hora com amigos para o Nordeste e acabei parcelando. Foi muito divertido, mas, no inverno seguinte, eu ainda estava pagando. O bronzeado já tinha ido embora há tempos, mas a conta ainda estava lá. Prometi que nunca mais faria isso – conta.

    O hábito foi posto à prova recentemente quando Ely precisou mobiliar o apartamento novo, o que significava gastar uma quantia maior. Mesmo assim, passou longe do cartão e de prestações.

    Esperou meio ano para fazer a mudança, até conseguir juntar dinheiro e comprar móveis à vista.

    A exceção, explica o advogado, foi na compra do imóvel:

    – Economizei bastante para dar uma entrada maior. Mas consegui um crédito imobiliário com juro bem baixo. Então, resolvi dar uma entrada menor e investi o restante. Usei o juro a meu favor.

    Com ajuda da namorada Sandra, Israel planeja quitar contas em atraso

    Com faturas de dois cartões de crédito atrasadas, seis parcelas do empréstimo pessoal em aberto e algumas contas de lojas não pagas, Israel Castro dos Santos, de Cachoeira do Sul e morador em Porto Alegre, sabe o estrago que o juro pode fazer. Seis meses sem emprego foram o suficiente para desandar o orçamento. A dívida, que inicialmente somava pouco mais de R$ 800, praticamente dobrou.

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    Sair da inadimplência no Brasil é tarefa ingrata. O juro do cartão de crédito, por exemplo, é o mais alto da América Latina. Ao usar o chamado rotativo, quando não se paga toda a fatura, o usuário é obrigado a desembolsar em média 280% ao ano. E há taxas maiores. Na Argentina não chega a 36%. Apesar de menor, o juro do empréstimo pessoal também não é baixo quando comparado a países como os Estados Unidos.

    Com um novo emprego, Israel tem a ajuda da namorada, Sandra Regina Moraes, para sair da situação. Ela pretende renegociar a dívida até chegar a um valor justo.

    – Tu compra uma calça e acaba pagando duas, três. Acho esse juro abusivo – critica.

    Organizada com as próprias despesas, Sandra conta que é complicado comprar tudo à vista quando as contas são apertadas.

    – Pobre não precisa pagar juro alto. Tem de pesquisar, procurar uma boa oferta. Às vezes, os vendedores dizem que o juro é zero, mas na verdade não é – reflete.

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    Mesmo sabendo que o juro no cartão de crédito é mais alto do que o do empréstimo pessoal, Israel pretende dar atenção igual às duas dívidas em vez de privilegiar a taxa mais salgada. O objetivo é tirar o nome do cadastro de maus pagadores o mais rápido possível.