Maura de Senna Pereira recebia convites, como representante da literatura feminina e da cultura catarinense, para participar de eventos políticos, sociais e culturais do Estado em que nasceu, no ano de 1904. Continuou com esta influência mesmo ao mudar-se, ainda jovem, para o Rio de Janeiro, onde morou e, em 1992, morreu aos 88 anos. 

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A trajetória dela foi notória como jornalista e escritora defendendo temas considerados tabus, principalmente relacionados ao feminismo. Destacou-se nos espaços públicos dominados por homens. Tornou-se conhecida como uma das jornalistas pioneiras de Santa Catarina e ingressou como a primeira mulher membro da Academia Catarinense de Letras em 1930. 

Apesar deste prestígio, enfrentava resistência e preconceito por não seguir e propagar os “bons costumes” da mulher dedicada exclusivamente ao lar e à família. Com seu talento na escrita, sensibilidade, inteligência e cordialidade, se fez ouvir e não rompeu com a elite cultural que frequentava.

As histórias de vida e as temáticas dos discursos, das reportagens, prosas e poesias de Maura se entrelaçam. À força da escrita, somou o exemplo de vida. Quando o pai morreu, Maura tinha 19 anos, era a filha mais velha e se responsabilizou por trabalhar para sustentar a mãe e os 10 irmãos.

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Casou-se aos 27 anos e, em 1933, foi morar com o marido em Porto Alegre. Sete anos depois, decepcionada com o casamento, teve a ousadia de transgredir a promessa “até que a morte nos separe” e voltar para Florianópolis, cidade natal dela.

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Maura morreu em 1992, aos 88 anos, no Rio de Janeiro (Foto: Reprodução, Douglas Santos, Academia Catarinense de Letras)

Recebida com o preconceito da sociedade a uma mulher “separada”, em menos de um ano foi em busca do antigo sonho de morar no Rio de Janeiro. Apaixonou-se pelo poeta mineiro José Coelho de Almeida Cousin e assumiu, inclusive nas obras, o novo relacionamento que se prolongou por quase 50 anos, até a morte dele, em 1991.

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Maura havia estudado para ser professora e começou a trabalhar no magistério, como era a tradição da época. Mas logo passou a colaborar em jornais e revistas. Teve uma longa e destacada trajetória nos periódicos catarinenses e cariocas a partir de 1923, fazendo reportagens, assinando seções e colunas, que ficaram marcadas pelas polêmicas reivindicações de igualdade e justiça social.

O caminho que apontou para estas conquistas foi o da educação e qualificação profissional. Pois com oportunidades de trabalho, as mulheres poderiam assumir novos papéis e espaços, sem precisar se submeter à limitação do lar e às figuras masculinas, como o pai e o marido.

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Entretanto, manteve-se atenta aos desafios femininos no trabalho e apresentou outras reivindicações, como a equiparação dos pagamentos a homens e mulheres. Ainda defendeu diversas outras causas sociais, entre elas, o direito ao divórcio e ao voto feminino.

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Como escritora, Maura estreou em 1931, com a publicação do livro “Cântaro de Ternura”. Dezoito anos depois, lançou a primeira edição de poesias, com “Poemas do Meio-Dia”. Em 1962, publicou uma das obras mais destacadas, uma coletânea de poesias sobre um mundo idealizado onde exista igualdade, justiça social e convivência harmoniosa junto à natureza. O livro “País de Rosamor” é o novo mundo, o mundo que Maura sonhou e pelo qual lutou.

*Texto de Gisele Kakuta Monteiro

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