A bola está no pé da criança brasileira desde muito cedo. A brincadeira começa em casa, passa para disputa na rua com as traves feitas de chinelos, se espalha nas escolinhas pelos bairros, pelos times amadores e grandes clubes. Talvez por isso o futebol seja um esporte tão popular, capaz de transformar a vida de meninos e meninas.

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Essa trajetória parece simples, mas pode levar os meninos longe. Dez anos após se matricular na escolinha de um projeto social no bairro em que morava, Diego Jara Rodrigues defendeu três times e percorreu cerca de 2.500 quilômetros pelo Brasil antes de assumir a lateral esquerda do Joinville Esporte Clube.

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Desde os dez anos, Diego chama a atenção dos técnicos esportivos pela força e estatura. A descoberta foi na escolinha de futebol do Projeto Anhuma, na cidade de Corumbá, Mato Grosso do Sul, divisa com a Bolívia. Ele entrou no projeto para se divertir com os amigos. Três meses depois, foi convocado por um técnico e trocou o campo pelas quadras de futsal, onde permaneceu até os 17 anos participando de campeonatos regionais.

A meninada vendia rifa para bancar as viagens. Foi nessa época que Diego percebeu o potencial do esporte, quis se aprimorar e alçar voos mais altos. Quando o técnico de futsal virou auxiliar de campo, o levou para iniciar sua carreira nos gramados.

Segundo Diego, as oportunidades eram muito raras em Corumbá. Naquela época, não havia referência de pessoas que se profissionalizaram a partir do esporte lá. Entretanto, um olheiro fez peneira no Projeto Anhuma e Diego foi selecionado para jogar em Morrinhos, interior de Goiás, onde disputou o campeonato estadual sub-18. Foi a primeira oportunidade.

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– Viajei o Brasil sozinho. Na primeira vez que saí de casa fiquei nove meses sem voltar. No começo, tudo é novo, então é bom, mas depois comecei a sentir saudade. Eu era bem apegado aos meus dois irmãos mais novos, de quem eu cuidava enquanto meus pais trabalhavam. Mas isso me ajudou a ter mais maturidade para lidar com as coisas, sempre soube me virar – conta, com fala calma.

O segundo teste foi pouco tempo depois, no União São João Esporte Clube, na cidade de Araras, São Paulo. Foi esse time que revelou o pentacampeão Roberto Carlos, na década de 1990. Mas, por falta de patrocínio, Diego não chegou a vestir a camisa do União. O agente encontrou um empresário de Blumenau disposto a investir no atleta, o que provocou a vinda para o Estado de Santa Catarina.

Diego começou na base do Metropolitano em 2013, onde conseguiu aprofundar a experiência dentro de campo. Disputou dois campeonatos catarinenses sub-20 e os Jogos Abertos. Ele treinava com os profissionais, mas jogava pelo time de base, até que chamou a atenção mais uma vez.

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Desde que chegou ao Joinville Esporte Clube, em 2015, disputou a Copa Sul-americana, Campeonato Catarinense, Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro pelas séries A e B. Em Joinville, encontrou a oportunidade de trabalhar com profissionais qualificados, bons equipamentos e dividir o campo com atletas experientes. Diego relata ter desenvolvido mais força, preparo físico e maturidade. Entretanto, a experiência mais marcante para o atleta foi ter disputado o campeonato na primeira divisão do futebol brasileiro, em 2015.

– Era contra o Fluminense. O jogo estava empatado. Bem nos acréscimos, consegui dar uma arrancada, fiz uma meia-lua no zagueiro e bati cruzado, onde o zagueiro acabou batendo gol contra para eles e os torcedores começaram a gritar o meu nome, bem no fim do jogo. Isso foi muito marcante, o estádio estava cheio. Foi a minha primeira experiência de ter essa importância num jogo e ver o pessoal reconhecer, valorizar – relata.

Dedicação para colher os frutos no futuro

Aos 20 anos, com vários campeonatos estaduais e três nacionais no currículo, Diego almeja, como muitos atletas, chegar a uma disputa internacional, como a Copa Libertadores da América. Apesar de ter o Palmeiras como time de coração, não há uma equipe que o atleta sonhe em atuar no futuro. Ele planeja se dedicar ao máximo ao JEC e colher os frutos no futuro, como vem fazendo há uma década.

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– Eu tento fazer cada jogo único. Isso é muito prazeroso. Eu me lembro da minha infância, vendo pela televisão os jogos em estádios lotados e tendo vontade de estar lá jogando. Já tive o privilégio de torcedores gritarem o meu nome, pude jogar em grandes estádios, com grandes jogadores que até pouco tempo almejava ir assistir em campo. Eu fico muito feliz – diz.

As transformações que o futebol provocou na vida de Diego foram muitas. Filho mais velho de uma família humilde, ele hoje consegue ajudar os pais e irmãos financeiramente. A saudade, causada pela distância, também ajudou Diego a valorizar mais a família.

– Isso me aproximou deles, passei a dar mais valor para as coisas pequenas. No futebol, quando a gente se envolve, muita coisa muda, a gente amadurece muito.

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