É com indisfarçável nostalgia e orgulho que Siegfried Alexander Wojtech relembra a montagem do primeiro equipamento estereofônico da fábrica de radiolas Elwo. Era por volta de 1961, seus pais dormiam e a madrugada já ia alta enquanto na oficina, o jovem construía o aparelho, que seria entregue no dia seguinte. De manhã, abriu uma garrafa de vinho e comemorou o trabalho feito ouvindo discos, antes mesmo que o cliente colocasse as mãos na aquisição. Ao fazê-lo, teria uma radiola no nível das grandes marcas do País, só que fabricada em Joinville e com know-how europeu. A “mágica” acontecia num antigo casarão na rua 15 de Novembro, que recentemente voltou a incorporar sua vocação musical.
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No entanto, a história da fábrica de radiolas Elwo começou na região da Bavária, no momento em que um desiludido Waldemar Alexander Wojtech resolveu deixar a Alemanha após perder sua empresa de rádios e as economias na 2ª Guerra Mundial. O destino da família foi o Rio de Janeiro, em 1951. Dois anos depois, em São Paulo, virou funcionário na que viria a se tornar a Gradiente, mas um desentendimento o fez desistir do (bom) emprego. De férias, os Wojtech seguiram para o litoral catarinense. No caminho, pararam em Joinville, onde uma nova vida os esperava.
Siegfried Alexander Woitech, filho do fundador da fabrica de radiolas Elwo, ao lado de Niviane Teresinha da Cunha, gerente da loja de discos da família.
Waldemar continuou fazendo o que sabia: construir e consertar rádios – em 1955, montou uma oficina, na rua do Príncipe. Cerca de três anos mais tarde, trocou de endereço e de negócio, iniciando, na casa da família, a Elwo Eletrônica Catarinense, a única fábrica de radiolas de Santa Catarina. Um marceneiro da cidade produzia as “molduras” dos aparelhos quase que exclusivamente para a empresa, que oferecia diversos modelos, desde o mais básico (vitrola, rádio e caixas de som) até exuberantes móveis dotados de espaço para vinis e até mini-bar. No local trabalhavam quatro pessoas, incluindo Alexander.
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– Eu construia as radiolas desde o chassi até os “finalmente”. Também dava assistência técnica – conta.
A crescente falta de espaço obrigou a expansão para uma sala no começo da rua Dr. João Colin. Ali, sob o comando da esposa Luise e do filho mais novo, também batizado Waldemar, ficavam expostos os aparelhos e os discos de 78 rotações, que já eram vendidos na fábrica. Até sete radiolas eram comercializadas por mês, principalmente para clientes de Joinville.
– A qualidade, o acabamento, o som, tudo era fantástico, por isso elas ficaram tão famosas. E os preços eram módicos, tanto é que vendíamos muito – conta Alexander, que em 1969 abriu o próprio negócio, a Discolândia, prestes a completar 50 anos de existência. Tão tradicional quanto, a Elwo seguiu funcionando como loja de discos e aparelhos de som mesmo após o fechamento da fábrica, na primeira metade dos anos 70, quando Waldemar pai se aposentou. A casa, no entanto, permaneceu na família e há três meses virou o novo endereço da loja Elwo.
A alguns quilômetros dali, no bairro Saguaçu, um colecionador de aparelhos de áudio guarda duas radiolas Elwo como relíquias. São exemplares bem conservados, ainda em pleno funcionamento, que ocuparão um lugar especial no museu do áudio e vídeo que John Reis pretende montar um dia.
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– É um aparelho muito bom, até por ser valvulado, e não transistorizado. O acabamento também é bom, as peças do rádio são de alumínio, e não de ferro. Era um aparelho top de linha na época – garante.
John Reis guarda dois modelos originais em casa