Os moradores de Buriticupu, no Maranhão, vivem com medo e preocupação há pelo menos 30 anos, quando começaram a surgir grandes crateras, também conhecidas como voçorocas, na cidade. O avanço dos precipícios pode fazer com que o município seja “engolido” e deixe de existir em um futuro próximo. As informações são do g1.
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O medo acontece porque nas últimas três décadas cerca de 70 casas foram engolidas pelas crateras, com sete mortes no total. Atualmente, são 26 voçorocas ao redor da cidade, sem perspectiva de solução. Alguns chegam a 600 metros de extensão e 80 metros de profundidade.
Pesquisadores acreditam que, caso nada for feito para resolver o problema, a cidade pode se tornar um vale ou uma área plana rebaixada. Como explica Marcelino Farias, chefe do departamento de Geociência da Universidade Federal do Maranhão, que possui pesquisas sobre as voçorocas de Buriticupu.
— Diante dessa dinâmica natural, seria possível sim que a cidade fosse arrasada por erosão, dentro, claro, de um tempo geológico. Entretanto, a cidade vai se adaptando e, ainda que não tenha obras significativas, as pessoas vão se movimentando, a cidade vai mudando seus limites, mudando de lugar, e se adaptando a essas ameaças — diz.
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De acordo com os moradores, os problemas com as voçorocas estão ligados ao nascimento da cidade em 1980. Na época, a ocupação da região foi feita sem planejamento e com muita extração irregular de pedras e madeira.
O solo desprotegido foi provocando, lentamente, o início das crateras, que não pararam de crescer durante os períodos de chuva. Atualmente existem 180 casas em situação de risco em Buriticupu.
— Nós não sabemos o que fazer, por onde começar. Os gestores sempre vão passar de um para o outro essa responsabilidade. Os geólogos já vieram aqui e o que eles falam é que restaurar o Buriticupu é quase impossível, pois precisaria de grana demais para preencher as voçorocas. Seria caro demais e inviável. Seria o dinheiro de construir outra cidade — explicou Isaías Neres, presidente da Associação de Moradores das Áreas Atingidas pelas Erosões de Buriticupu.
A casa de Kailanny Pinheiro, de 21 anos, é uma das que correm risco de serem engolidas pelas crateras. Isso porque há 3 anos, uma enorme voçoroca começou a crescer perto de uma das ruas da caasa e, gradualmente, foi engolindo moradias.
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— Toda chuva ela [voçoroca] cresce um pouco. Todo inverno é uma preocupação. (…) Eu tenho medo [de perder a casa], a gente tem muitas lembranças aqui. A minha sobrinha nasceu e cresceu aqui. A gente tem lembranças, apego, carinho, tem memória — conta a estudante, que também nasceu em Buriticupu.
Veja as fotos das crateras
Situação de calamidade pública
A Defesa Civil Nacional esteve em Buriticupu em março de 2023 e decretou situação de calamidade pública. O Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional se comprometeu em ajudar a resolver o problema.
No entanto, segundo os moradores, houve ações paliativas apenas em algumas áreas críticas, como próximo de rodovias. Em outras regiões, como no Residencial Eco Buriti, as voçorocas seguem avançando e engolindo casas.
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Em nota, a pasta informou que no dia 8 de fevereiro de 2024 foi publicado o convênio para ações de recuperação em Buriticupu, no valor de R$ 11.220.347,48. A primeira parcela, no valor de R$ 3.366.104,24, foi repassada em 27 de março para a reconstrução de 89 Unidades Habitacionais no município, em razão das voçorocas. O processo, porém, ainda estaria em fase de execução.
A Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec) disse que, em março de 2023, houve o repasse de R$ 687 mil para aquisição de materiais de assistência humanitária para as famílias desabrigadas, desalojadas e afetadas pelo avanço erosivo das voçorocas.
A reportagem do g1 entrou em contato com a prefeitura de Buriticupu e o prefeito da cidade, João Carlos, para solicitar explicações sobre a falta de obras, sinalização e o uso dos recursos enviados pelo governo federal para conter as voçorocas. No entanto, não houve retorno.
Em abril, a prefeitura de Buriticupu havia informado apenas que os recursos foram destinados à assistência emergencial e para construção de 89 casas populares para as famílias afetadas pelas crateras. Disse ainda que a obra já foi licitada e que aguarda recursos federais para obras emergenciais de drenagem das crateras.
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