A major Clarissa Dias Soares, de 42 anos, é a primeira mulher comandante de um batalhão da Polícia Militar (BPM) na região da Grande Florianópolis. Ela assumiu o comando do 22º BPM da Capital na segunda-feira (6) após 18 anos de trabalho na corporação. Apesar de ter recebido a proposta de promoção com surpresa, ela celebra o novo cargo e fala em adotar uma gestão criativa para atender as demandas de segurança da população do bairro Monte Cristo.

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Bacharel em Segurança Pública pela Academia da Polícia Militar e com especialização em Direito Militar, Soares é natural de Florianópolis e ingressou na corporação como aspirante oficial em 2008. Desde então, passou por todas as funções operacionais em um batalhão e também por cargos de assessoria do Comando-Geral.

Em entrevista ao Hora de Santa Catarina, a nova comandante relembrou que não esperava assumir um batalhão quando entrou na PM. No entanto, reconhece que encarar o comando era mais uma parte da trajetória que construiu naturalmente dentro da instituição.

— Sempre conto que eu cheguei ao lugar certo no momento certo. Eu estava cursando o final da graduação de História na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e me inscrevi no concurso por incentivo de amigos. Quando saiu o resultado, eu fui para a polícia sem titubear — contou.

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Após a formação da Academia, Soares foi designada para realizar estágio em Herval d’Oeste. Com uma carreira dinâmica, passou por todas as funções dentro de um batalhão e retornou à Capital. Questionada sobre o que mais gostou de fazer dentro da PM, a comandante demonstra o carinho e a admiração pela carreira que escolheu.

— Eu gosto de todo o serviço da polícia! Sério, eu gosto de tudo. Mas eu sempre fui muito da comunicação social, bastante comunicativa —  disse enquanto ria.

Nos últimos oito anos, Soares esteve na assessoria do Comando-Geral e longe das posições mais operacionais da polícia. Por isso, relata que já não imaginava mais que seria levada a um batalhão pelo comandante-geral.

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— Foi uma surpresa e um misto de emoções, por estar há tempos fora do operacional. Mas, essa transição é muito natural. Eu sou major, prestes a ser tenente-coronel, a tendência é que a gente seja promovido para comandante de batalhão — reconheceu.

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Oficial de carreira e mulher dentro da PM

A comandante afirma que um dos problemas comuns no mundo civil, a falta de promoção para mulheres, é mais difícil de acontecer dentro da Polícia Militar. Ela explica que a carreira possui previsão legal, e por isso é menos comum que as oficiais sejam impedidas de ascender nas funções por questões de gênero.

A major justifica o seu pioneirismo no comando do batalhão em Florianópolis pelas poucas vagas ocupadas por mulheres em concursos para oficiais ao longo dos anos.

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— Já faz 40 anos que temos mulheres na instituição e nem todos os concursos abriram com vagas para mulher, dependia do comandante. Praticamente só depois dos anos 2000 que a maioria dos concursos contavam com vaga para mulheres.

Mulheres presentes na troca de comando do 22º batalhão (Foto: Divulgação/PMSC)

Falando sobre o machismo enfrentado durante a carreira, a comandante afirma que a PM, assim como outras instituições, está sujeita aos preconceitos enraizados e velados na sociedade. Para combater ações e falas que a diminuíam ao lado de colegas homens, Soares relatou que fazia questão de reafirmar seu protagonismo e competência.

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— Minha personalidade é de me posicionar, dizer ‘aqui é o meu lugar, eu sou parte deste grupo tanto quanto os senhores’ — assegurou. 

Novo comando no 22º BPM

A major relata que, quando entrou na corporação, não tinha expectativas de assumir o comando de um batalhão. No entanto, reconhece que essa posição concede uma oportunidade única de implementar um trabalho diferenciado com impacto na vida da população.

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— O comandante de batalhão trabalha de forma muito autônoma para definir como atuar. Eu acho que esse é o sonho de todo trabalhador, ter autonomia para fazer escolhas — afirmou.

Soares já contou com 30 dias para se ambientar e conhecer a dinâmica da unidade, quando estava atuando como subcomandante. A troca de comando do 22º batalhão aconteceu durante a semana do Dia Internacional da Mulher. De acordo com Soares, as datas coincidiram por conta do aniversário de serviço do comandante anterior, tenente-coronel Maurício Gonçalves Viríssimo.

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— Foi uma grata coincidência. O antigo comandante completaria 30 anos de serviço policial militar e gostaria de aposentar na data, que era 6 de março. Então coincidiu de ser junto da semana da mulher — explica a major. 

Para a sua gestão, a comandante pretende manter os números positivos do batalhão. Segundo ela, o 22º consegue atender 90% das ocorrências geradas pelo Centro de Operações (Copom) e possui 100% das escolas da área como participantes do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd).

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— Esses números exigem que o comandante seja criativo para trazer melhorias para a população. O que incomoda hoje são os pequenos furtos e som alto. E esses são crimes mais difíceis de combater porque acontecem em todas as esquinas. Muito provavelmente nós vamos nos esforçar em dobro para ações preventivas — disse a major.

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