Durou somente cerca de quatro horas a estadia do vice-presidente Hamilton Mourão em Santa Catarina nesta sexta-feira (28). Com palestra marcada para as 10h30min no auditório da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), o general chegou ao local às 11h40min por conta de um atraso no voo em Brasília. Palestrou até as 13h e saiu em disparada ao lado de seguranças e assessores para um almoço com empresários antes de voltar à capital federal.

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No bate-volta em Florianópolis o vice-presidente recebeu da Fiesc cobranças em relação às obras de infraestrutura atrasadas em Santa Catarina, especialmente as BRs 470 e 280. A entidade cobrou também melhorias nas BRs 163 e 282, além de sinalizar para projetos de ferrovias que estão parados há anos.

Foi em resposta a essas cobranças a única menção que Mourão fez à Santa Catarina em seu discurso ao auditório cheio. Disse que as concessões são a saída para os problemas de infraestrutura, ao enfatizar a concessão da BR-101 e apresentar o programa de parcerias do governo federal como um dos principais caminhos para a retomada da economia brasileira.

No resto da palestra o vice-presidente repetiu muito do que já havia falado nas duas passagens anteriores por Santa Catarina, no ano passado. Com toques de aula de geopolítica, analisou conflitos internacionais, falou sobre o Oriente Médio, sobre o crescimento da China, sobre o Brexit, globalização, tecnologia 5G e até sobre a história das guerras — de Napoleão até a guerra ao tráfico no Brasil.

Mourão saiu do roteiro da apresentação somente em breves comentários sobre as polêmicas da vez em Brasília. Em julho de 2019, quando palestrou no mesmo auditório da Fiesc, ele teve que comentar as falas de Eduardo Bolsonaro sobre a volta de um possível AI-5. Agora, não conseguiu evitar falar sobre o vídeo compartilhado por Jair Bolsonaro no começo da semana, convocando manifestações contra o Congresso:

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— Os mares não estão tranquilos. Vídeos são divulgados, redes sociais se inflamam, as pessoas, muitas vezes, não raciocinam sobre aquilo que estavam escrevendo, que estão discutindo, emoções são colocadas à flor da pele, e parece que nós vivemos num eterno turbilhão — disse, sem fazer referência direta ao presidente.

A democracia é o melhor sistema mesmo com todas as suas confusões. Sabemos que na política até a raiva é combinada.

Com a presença de deputados e senadores no auditório, Mourão também reforçou várias vezes ao longo da palestra a importância do diálogo com o Congresso. Em tom apaziguador, afirmou que a reforma tributária deve ser discutida por Senado e Congresso sem interferência do executivo, e que a reforma administrativa está pronta para ser enviada ao Legislativo depois que “os turbilhões” passarem.

Motim no Ceará e conversa com todos os lados

Mourão também aproveitou para falar sobre a situação dos policiais militares amotinados no Ceará. Tratou o caso como “grave” e disse que o mesmo problema pode acontecer em outros estados se algo não for feito:

— Não foi o presidente Bolsonaro que politizou a polícia. Governos anteriores politizaram e sindicalizaram as polícias. E uma coisa é certa: se a política entra pela porta da frente de um quartel, a disciplina e a hierarquia saem pela porta dos fundos.

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Na conclusão da palestra, Mourão sinalizou para uma política de boas relações com países de opiniões divergentes. Apontou que a Argentina é um grande parceiro do Brasil e que a situação econômica dos hermanos impacta os países vizinhos. Fez questão, também, de afirmar repetidamente um “compromisso com a democracia”:

— Dentro da democracia a gente consegue solucionar os problemas, a democracia é o melhor sistema mesmo com todas as suas confusões. Sabemos que na política até a raiva é combinada.