Autoridades talibãs expressaram neste domingo dúvidas sobre a autenticidade de uma mensagem atribuída ao mulá Akhtar Mansur e destinada a provar que continua vivo, um sinal da desconfiança que reina neste movimento que já escondeu durante dois anos a morte de seu líder anterior.

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Os talibãs afegãos divulgaram no sábado uma mensagem de áudio atribuída ao seu líder, o mulá Akhtar Mansur, na qual ele afirma que as informações sobre sua morte em uma disputa interna são mera “propaganda inimiga”.

Funcionários de alto escalão dos serviços de inteligência afegãos e várias fontes talibãs afirmaram que o mulá Mansur havia ficado gravemente ferido após uma disputa entre líderes do movimento em Kuchlak, perto da cidade paquistanesa de Quetta.

“Gravei esta mensagem para que todos saibam que estou vivo”, afirma nesta mensagem sonora de mais de 16 minutos um homem que se apresenta como Akhtar Mansur.

Mas a dúvida reina entre os talibãs, que desconfiam de uma direção que manteve em segredo a morte de seu líder histórico, o mulá Omar. Sua morte, ocorrida em 2013, só foi oficializada em 31 de julho de 2015.

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Durante dois anos, foram divulgadas mensagens atribuídas ao mulá Omar. Apenas quando sua morte foi oficializada, Akhtur Mansur, até então número dois dos talibãs, foi nomeado seu sucessor.

Mawlawi Hanifi, um comandante baseado na província meridional de Helmand, explicou à AFP ter ouvido a gravação e afirmou que parece ser falsa. “Acredito que sua voz foi imitada. O próprio Mansur nos enganou durante dois anos. Como podemos confiar nele?”, afirma.

A voz atribuída a Mansur acrescenta que as informações sobre sua morte eram rumores para enfraquecer o movimento islamita.

“Não houve nenhuma briga, nenhuma reunião e não vou a Kushlak há anos. Tudo isso é propaganda inimiga”, afirma o homem na mensagem de áudio enviada por um porta-voz dos talibãs aos meios de comunicação.

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Para acrescentar mais confusão ao caso, alguns comandantes talibãs declaram que a mensagem é autêntica, e afirmam ter estado presentes no momento de sua gravação. “Esta mensagem foi gravada ontem por nosso líder Mansur, estávamos lá”, declarou um deles.

Um porta-voz do governo afegão, Sultan Faizi, disse não ter certeza da autenticidade da mensagem. “Faremos nossa própria avaliação”, escreveu em sua conta no Twitter.

Divergências profundas

“Os talibãs têm um problema de credibilidade desde que admitiram ter escondido a morte do mulá Omar”, explica à AFP o analista militar Jawed Kohistani.

O incidente parece demonstrar as profundas divergências no seio da insurgência e pode complicar os esforços em andamento para relançar o diálogo entre o governo afegão e os talibãs, com a ajuda do governo do Paquistão.

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A rapidez na nomeação do mulá Mansur foi criticada por alguns setores do movimento rebelde, incluindo a família do mulá Omar e alguns chefes militares.

No início de novembro foi criada formalmente uma facção dissidente que escolheu outro chefe, o mulá Mohamed Rasul.

Esta facção, partidária de uma linha dura e próxima ao grupo jihadista Estado Islâmico (EI), constitui um grande desafio às negociações de paz, atualmente suspensas.

Pelo contrário, o mulá Mansur é considerado favorável ao diálogo com o governo afegão.

Após uma primeira sessão histórica em julho no Paquistão, as negociações foram suspensas com o anúncio da morte do mulá Omar.

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Os talibãs foram expulsos do poder no Afeganistão após uma intervenção militar liderada pelos Estados Unidos, semanas após os atentados de 11 de setembro de 2001.

Desde então, estes insurgentes jihadistas realizam uma forte rebelião contra o governo afegão e seus aliados da Otan.

* AFP