Somente um mês após receber o diagnóstico é que Ronilda Maria Vieira contou para a filha que tinha câncer de mama. Maria Luíza estava concluindo a faculdade de Farmácia. A mãe não queria que a notícia atrapalhasse a festa de formatura. Quando chegou o momento certo, a filha reagiu como uma profissional recém-formada: racionalmente.

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– Ela entendeu bem. Normal demais até. Foi mais profissional do que filha – lembra Ronilda, de forma bem-humorada, sem transparecer reclamação.

Duas semanas depois, o comportamento de Maria Luíza foi bem diferente:

– Ela me viu chorando, veio até mim e disse “estás com medo, eu também estou”, e me abraçou, abraçou, abraçou – conta a mãe, agora com a voz levemente embargada.

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– É disso que a gente precisa. Não queremos alguém que entenda a doença, mas que passe por isso junto. Dê conforto, carinho. Isso que dá força – completa.

Nesse aspecto, Ronilda só tem a agradecer. O marido José Carlos, que esteve presente desde o momento do diagnóstico e depois tirou licença de dois meses do trabalho para cuidar da mulher, o outro filho do casal, Carlos Augusto, que no ano do diagnóstico, 2006, estudava engenharia, as três irmãs dela, uma já falecida, e demais parentes e amigos tiveram, como a própria Ronilda afirma, “importância sem fim” na luta contra a doença.

Casos assim são, felizmente, a regra, diz o mastologista Bráulio Fernandes, que atende na rede privada e também no Hospital Universitário e na Maternidade Carmela Dutra, ambos em Florianópolis.

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– Em geral, se há bom convívio na família antes, a gente nota que os laços se reforçam após o diagnóstico. Se o casamento já está desgastado, a doença pode ser a gota d?água, mas isso não é comum – afirma.

Segundo o especialista, pesquisas médicas já tentaram avaliar cientificamente a influência do apoio familiar no tratamento. Embora nada tenha sido comprovado, o que se nota, diz ele, é que mulheres com pouco ou nenhum apoio tendem a ser mais negligentes durante o tratamento.

– Não têm estímulo para fazer o que precisa ser feito – afirma Bráulio.

Ronilda conta que o apoio recebido durante o tratamento a fez se sentir forte, ao ponto de assumir publicamente a doença. Raspou o cabelo e não usou peruca. Saía na rua com os olhos bem marcados e brincos grandes.

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– Recebia carinho nas ruas e conversava abertamente sobre a doença – conta ela, que atualmente procura devolver o apoio com trabalho voluntário na Associação Brasileira dos Portadores de Câncer (Amucc), em Florianópolis.