O país espera que o poder público saiba oferecer respostas às reivindicações sem deixar de identificar e tratar os vândalos como uma minoria de criminosos. ?

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É um equívoco insinuar que as violentas manifestações de rua que se repetem em algumas capitais são a extensão dos protestos de junho do ano passado, que em sua maioria reuniu brasileiros preocupados em expressar seus apelos de forma pacífica. Não há conexão possível entre aquelas e as atuais ações que atemorizam as cidades e invariavelmente reúnem vândalos, sem a menor preocupação com os danos de seus atos.

Foi em decorrência dessa falta de limites que um cinegrafista da Rede Bandeirantes sofreu ferimentos graves nesta semana, ao ser atingido por um rojão num protesto contra o aumento da passagem dos ônibus no Rio. O caso é exemplar da ameaça de descontrole das manifestações e volta a acionar o temor nacional diante de ações predatórias disfarçadas de protestos. Há, nesse e em outros episódios, fortes indícios de que movimentos organizados como reação a problemas específicos – como os relacionados com o transporte público – se prestam à infiltração de radicais.

O artefato que atingiu o jornalista, no momento em que ele se dedicava à sua missão de informar, foi deliberadamente colocado num espaço urbano em que circulavam dezenas de pessoas. O responsável pelo gesto criminoso sabia que qualquer um poderia ser atingido pela explosão. É de se perguntar, mesmo que a resposta possa ser a mais óbvia, quais são, afinal, os objetivos de quem atenta contra alguém que não pode nem mesmo ser identificado como adversário ou inimigo. Esses e outros episódios marcadamente violentos se disseminam pelo país, apesar de, racionalmente, não se sustentarem sob nenhum argumento.

A contribuição é apenas a do aumento da insegurança nas capitais, sem qualquer outro resultado efetivo. Nesse sentido, cumpre-se o planejado pelos grupos que saem às ruas com essa intenção. A população, muito mais do que as autoridades escolhidas como alvo, é a grande vítima da agressividade. Afasta-se definitivamente de tais atos a possibilidade de virem a ser encarados como expressões de demandas concretas de parte da sociedade ou mesmo de posições políticas.

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O certo é que as tensões provocadas por reivindicações justas, em especial as que se referem à mobilidade urbana, não podem continuar servindo de abrigo ao radicalismo. Reconhecer as sérias deficiências do transporte público não significa transigir com quem sai às ruas com a única intenção de levar violência. Há nesse e em outros acontecimentos recentes uma advertência aos governos, para que as respostas contemplem, de imediato, a preservação da segurança de todos e também da imagem do Brasil, às vésperas de um evento com a dimensão da Copa do Mundo. O país espera que o Estado saiba oferecer respostas às reivindicações, sem deixar de identificar e tratar os vândalos como uma minoria de criminosos.