Na Fundação Hassis, a poucos metros da Praia do Itaguaçu, lado Continental de Florianópolis, a equipe formada pelos professores Delmir José Valentini, Rita Petrykoski Peixe e o diretor de fotografia Beto Acunha, começou a recolheu imagens e entrevistou Leila Correia Vieira, uma das duas filhas do artista Hassis, falecido há 10 anos.
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Com a técnica de nanquim e bico de pena, Hassis deixou 78 desenhos, além de um painel em madeira e acrílico. Um outro encontra-se no Museu Histórico e Antropológico do Contestado, em Caçador. Uma parte da plotagem da obra, disponível no chamado Mundo Encantado de Hassis foi feita à pedido do ex-governador de SC Esperidião Amin e levada para um dos salões do Senado Federal, em Brasília, em alusão ao centenário do conflito.
– Esta obra vem dos ano 1980, quando não se falava quase nada sobre o Contestado – observou a filha.
Para Rita Peixe, professora de artes da Univille e da Unoesc, doutoranda da UFRGS com trabalho de artes visuais sobre o Contestado e membro da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), o artista conseguiu, além do valor histórico da guerra, mostrar através de sua plasticidade os sentimentos que marcaram os personagens da época:
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– Muitas cenas trazem mulheres com crianças no colo e pela mão em cenas de combate ou mesmo nos redutos.
Todo o material será disponibilizado em DVD
Ontem, a equipe esteve em Tubarão, no Museu Raymundo Zumblick. Conforme os curadores, o artista teria pintado 11 telas sobre o Contestado. Uma estaria desaparecida.
Caçador e Concórdia também serão visitados pela equipe e todo o material será passado para um DVD que será distribuído nas escolas, universidades e centros culturais de SC.
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HQ para popularizar o fato
Neste final de semana, em Florianópolis, também houve filmagens com Eleutério Nicolau da Conceição, professor aposentado da Universidade de Santa Catarina (UFSC) e que usa a arte da história em quadrinhos para retratar o conflito.
Autor de diferentes obras, Tero, como é conhecido, tem dois volumes relacionados à Guerra do Contestado:
– Sinto que a linguagem da HQ é capaz de popularizar a história. Tenho visto que essa técnica aproxima o público, que ainda sabe pouco sobre o fato.
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O primeiro volume aborda as causas da gurra, relacionadas com a construção da estrada de ferro, ligando União da Vitória, na fronteira do Paraná, com Marcelino Ramos, no Rio Grande do Sul, e a expulsão dos caboclos que viviam nas terras cruzadas pela ferrovia.
A obra descreve, também, a in- fluência dos monges João Maria e José Maria no imaginário religioso do povo e o reflexo da organização na longa controvérsia pelo estabelecimento de limites entre os estados do PR e SC. O ponto central deste primeiro livro é o combate ocorrido em Irani, em 22 de outubro de 1912, no qual pereceram seis caboclos, o monge José Maria, 20 soldados da Força Pública paranaense e seu comandante, coronel João Gualberto Gomes de Sá.
O segundo volume trata dos acampamentos rebeldes, o surto de banditismo que tomou conta da região e os inúmeros confrontos entre caboclos e soldados, resultando com a intervenção do Exército Nacional para o fim do conflito.
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Agora, o artista trabalha na junção dos dois volumes. O projeto foi aprovado pela Lei de Incentivo à Cultura e Tero busca empresas interessadas no patrocínio. Serão 160 páginas aquareladas. Delmir José Valentini, doutor em História do Brasil pela PUC de Porto Alegre, pesquisador do tema Contestado e professor na Universidade Federal Fronteira Sul, sugeriu que o terceiro volume possa ser lançado junto com o documentário em outubro.
Motivos da guerra
Entre 1912 e 1916, o sertão catarinense foi palco de um episódio chamado Guerra do Contestado. Para muitos autores, esse foi o maior conflito social brasileiro superando Canudos (entre 1896 e 1897 no interior da Bahia) em extensão, combates, mortos e gastos. Houve a participação de um terço do Exército republicano, a utilização de armamento pesado e, pela primeira vez, o uso da aviação militar em operações de guerra.
Território
Regiões do Meio-Oeste e Planalto de SC e a divisa com o PR. Dados apontam que cerca de 20 mil camponeses enfrentaram forças militares dos poderes federal e estadual. Ganhou o nome de Guerra do Contestado porque os conflitos ocorrem numa área de disputa territorial entre os estados do Parará e Santa Catarina.
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Ferrovia
A estrada de ferro São Paulo-Rio Grande do Sul estava sendo construída por uma empresa norte-americana, com apoio de grandes proprietários rurais com força política. Para a construção da estrada de ferro, milhares de família de camponeses perderam suas terras, o que gerou muito desemprego entre os camponeses, que ficaram sem terras para trabalhar.
Madeireira
Outro motivo da revolta foi a compra de uma área da região por de um grupo de pessoas ligadas à empresa construtora da estrada de ferro, adquirida para o estabelecimento de uma grande empresa madeireira, voltada para a exportação. Muitas famílias foram desalojadas de suas terras.
Social
Quando a estrada de ferro ficou pronta, muitos trabalhadores que atuaram em sua construção tinham sido trazidos de diversas partes do Brasil e ficaram desempregados. Eles permaneceram na região sem qualquer apoio por parte da empresa norte-americana ou do governo.
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O documentário
Pesquisa e roteiro: Rita Peixe e Delmir José Valentini
Direção de imagem: Beto Acunha da Cinesc Vídeo Produtora
Financiamento: Fapesc
Previsão de lançamento: outubro