Por três noites seguidas a cozinheira Tereza Machado dos Santos, de 55 anos, ficou sem energia na Rua das Gérberas, no Bairro Rio Vermelho, em Florianópolis. A conta de luz, cobrada pela Celesc, nunca vem abaixo de R$ 200,00. O motivo do valor tão alto é a cozinha, com vários equipamentos eletrônicos ligados para a produção de doces, salgados e tortas encomendados semanalmente.

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– Estou no meu limite. Toda a noite sem luz, sem banho, sem comida decente. Perdi clientes por esta situação. Eu sou legalizada, por que não cortam estes gatos? – reclama.

Os gatos, ligações irregulares da residência com a rede elétrica, são comuns na rua de Tereza e em outras vias da Capital. Somente na Gérberas, a reportagem constatou pelo menos 10 residências furtando KW/h dos cabos.

A produtora Érica Dias Silva, vizinha de frente de Tereza, fica indignada quando acaba a luz, pois os únicos imóveis iluminados são os que fizeram o tal “rabicho”.

– Quando não temos luz, eles têm – protesta.

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Celesc cobra de quem paga

Um transformador de 45 KW/h de potência proporciona o consumo de até 70 unidades. Mais do que isto, gera sobrecarga no equipamento e o fornecimento de energia é cortado. É uma sobrecarga deste tipo que está ocorrendo na rua das Gérberas, segundo explicou o coordenador regional da Celesc, Carlos Alberto Martins.

– É um jogo de gato e rato, que não tem muita solução. A gente identifica e corta, logo religam. Quando voltamos, o eletricista é ameaçado pelos moradores. Falta conscientização – alega.

Justificativa está na burocracia

Segundo Martins, a principal justificativa para as ligações irregulares está no crescimento desordenado que implica na demora da liberação de alvarás de licença que permitam a regularização do serviço.

Como forma de compensar as perdas de energia, o que inclui os gatos, a Celesc cobra na fatura dos consumidores regulares 0,5 % do valor consumido no mês, em concordância com a Aneel, que regula o serviço no país.

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Por questões de segurança, a Celesc tem em mãos uma relação de áreas consideradas de risco, onde o atendimento é restrito. As áreas são reavaliadas a cada dois anos seguindo critérios próprios. Atualmente são 9,8 mil unidades nesta situação.

Gato é crime, você sabia?

A prática de gato é enquadrada no código penal por furto e o responsável pode pegar de 1 a 4 anos de prisão, fora a multa. Na 8ª Delegacia de Polícia Civil, no Norte da Ilha, o delegado Alexandre Carvalho diz que há inquéritos apurando gatos na região do Rio Vermelho, mas afirma não conhecer um caso de prisão por este delito.

– Quanto mais denúncia, melhor. As ocorrências chegam principalmente pela própria Celesc, mas qualquer pessoa que se sinta prejudicada pode fazer a denúncia – incentiva o policial.

No ano passado, a Celesc chegou a levantar R$ 15 milhões com a fiscalização de cerca de 500 casas e estabelecimentos comerciais que fraudavam o relógio de registro de consumo, revelou o coordenador da Celesc.

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– Se há a suspeita, vamos ao local. A porcentagem de acerto é de 30 %. Quando pegamos, o tombo é feio – alerta Martins.

Quem faz gato:

-Vai receber energia de péssima qualidade,sem qualquer controle de resistência;

-Perde os direitos de ser ressarcido por um equipamento queimado;

-Pode provocar um curto circuito na rede elétrica;

-Pode causar um incêndio;

-Pode pegar de 1 a 4 anos de cadeia, além de pagar multa;

Para denunciar o gato na sua rua:

-Avise a Polícia Civil, por meio de boletim de ocorrência na delegacia da sua região;

-Avise a Celesc, através do site clicando no link “Denunciar Furto de Energia” ou pelo telefone 0800-48 01 20.