Confissões de Adolescente marcou uma geração. A história começou nos anos 1990, quando a atriz Maria Mariana resolveu transformar seus diários escritos dos 13 aos 19 anos em uma peça teatral por ideia do pai (Domingos Oliveira), com orçamento de US$ 300. No segundo dia de temporada, no porão do Teatro Laura Alvim, em Ipanema, o diretor Daniel Filho foi conferir a produção. Encantado, imediatamente decidiu comprar os direitos da história para TV e cinema.
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Dois anos depois, em 1994, a série estreou na TV Cultura, emissora na qual foi exibida durante dois anos. Os 40 episódios, divididos em duas temporadas, também foram veiculados nos canais Band e Multishow. A versão original foi protagonizada por Maria Mariana, Daniele Valente, Georgiana Goés e Deborah Secco, que interpretavam as quatro irmãs filhas do personagem de Luiz Gustavo. A trama abordava as aventuras, dúvidas e dramas típicos da fase entre os 13 e os 19 anos.
Quase uma década depois da primeira estreia, o espetáculo ganhou nova montagem. Em 2009, o texto foi readaptado por Matheus Souza e Clarice Falcão. Somando todas as temporadas, Confissões de Adolescente ficou 20 anos em cartaz e teve mais de 1 milhão de espectadores.
No dia 10 de janeiro, a peça vai ganhar os cinemas. Com direção de Daniel Filho e Cris D’Amato e roteiro de Matheus Souza, o longa-metragem reúne as atrizes Sophia Abrahão, Bella Camero, Malu Rodrigues e Clara Tiezzi como protagonistas.
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Entrevistas
Diretores Daniel Filho e Cris D’Amato e roteirista Matheus Souza
Como foi a escolha do elenco?
Cris – Foram quase 450 meninas sendo testadas. Mas, se você separasse, ia ver que tinha cem ali Claras, cem Malus etc, porque a essência é a mesma. Eu tenho filhos adolescentes e vejo nestas meninas aquilo tudo que meus filhos fazem comigo – e o que faço com eles. Quando eu vejo as quatro juntas, tenho a sensação de ver um mapa dos adolescentes.
Daniel – No filme, eu não tinha como não trazer as atrizes que fizeram a série: Deborah Secco, Dani Valente, Maria Mariana e Georgiana Góis. Então, todas elas fazem uma pequena participação, que eu chamo de participação afetiva, como se elas tivessem abençoando o filme novo.
O que mudou no comportamento adolescente nesses 20 anos entre o seriado e o filme?
Daniel – Houve uma mudança de comportamento muito grande nestes 20 anos, mas não houve uma mudança de sentimentos nas adolescentes. A sociedade pode ter ficado mais tolerante ou mais compreensiva com o comportamento sexual de uma garota de 15 anos, ela pode ter mais liberdade em casa ou apoio, mas não mudou na menina o sentimento dela.
Cris – É claro que certos sentimentos nunca mudam: a sensação do primeiro beijo, da primeira transa, do primeiro grande problema… Mas hoje o adolescente é muito mais tecnológico, né? Está conectado o tempo inteiro. Também percebo que não há mais diários fechados. O Facebook, quando pergunta “O que você está pensando?”, se tornou um grande diário aberto. Que tem muita mentira também, né? (risos).
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O que vocês abordam no filme?
Daniel – O seriado tinha praticamente um tema por episódio. No filme, a gente reuniu vários temas importantes, ligados às quatro personagens principais e também aos outros adolescentes da história. Falamos dos principais ritos de passagem, sem grandes dramas de processos dramatúrgicos, shakespearianos… Mas, realmente, dos 13 aos 18 anos as pessoas não param de mudar. É quando a gente deixa de ser essa pessoa absolutamente espontânea, descompromissada com a vida e passa a ter a responsabilidade do que eu vou fazer da minha vida, quem eu sou?! Então, essas perguntas todas são contadas de uma forma, às vezes com todo o sentimento que ela tem, mas também de uma maneira leve. Nós tentamos manter todo o clima terno que tinha o seriado.
Você fez algum tipo de pesquisa para descobrir os hábitos dos adolescentes (sociais, virtuais e até mesmo linguísticos) de hoje em dia?
Matheus – Eu assisti a milhares de vídeos do YouTube, li outros milhares de perfis de Twitter de adolescentes aleatórios. Fiz entrevistas informais com todos os adolescentes ao meu redor: primos, irmãos de amigos, filhos de amigas da minha mãe… Eu realmente quis que tudo soasse verdadeiro e sincero no filme. Como você vê as produções nacionais voltadas para o público jovem atualmente? O que ainda falta?
Matheus – O meu maior problema é com as produções nacionais jovens para a televisão. Todas tratam o jovem como um tolo, as cenas de humor são terríveis, os dramas são reciclados, as redes sociais são tratadas de maneira boba e artificial. Acredito que uma produção jovem tem que acrescentar algo a ele (e não falo de lições de moral caretas) e funcionar como um “abraço”. O jovem deve se identificar a ponto de se sentir abraçado por aquela obra, de ver que não está sozinho naquilo que está vivendo. Foi assim que me senti assistindo às obras de referência para o roteiro do Confissões.
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Sophia Abrahão
Como surgiu o convite para participar de Confissões de Adolescente?
Quando soube do teste para o filme fiquei muito empolgada, tinha feito a peça em 2010 e queria muito fazer parte do longa! Foram quatro testes no total, até vir a resposta de que estava no elenco. Uma vitória na minha carreira! Você nunca tinha feito cinema. Como foi essa experiência? Sim, foi minha primeira experiência com cinema e eu posso dizer que me apaixonei. Todo o cuidado, o trato com as cenas, a atenção da equipe é diferente da TV, na qual, por ter um volume maior de conteúdo a ser gravado, funciona mais rápido. Adorei a experiência e vou amar repetir.
Como você se preparou para o papel? O seu contato com os fãs nas redes sociais foi uma fonte de pesquisa?
Sempre é. Fico em contato diário com pessoas que têm realidades bem parecidas com as personagens do filme. Gosto de ouvir um pouco de cada um… É como construir um personagem novo em cima disso! Não deixa de ser um trabalho em conjunto. Quais as diferenças entre a sua personagem no teatro e a do cinema? Acabou que não foram as mesmas personagens… No teatro, atuávamos em cima de esquetes, não havia um personagem, toda cena era uma coisa nova. A Tina do cinema vem bem definida, com traços bem marcados. Adorei interpretá-la. Acho que é uma garota bem diferente de mim, apesar de termos a idade em comum.
Você acha que seus fãs vão estranhar te ver na telona sem estar muito produzida?
Se eles vão estranhar não sei, agora que eu estranhei, eu estranhei muito! (risos) Dava muita vontade de passar um rímel! Vai ser duro me ver ser make na telona… Mas é isso aí, eu sou atriz e não modelo. Nestes três anos entre sua participação na peça e o filme, você já sentiu alguma diferença de linguagem ou de interesse nos adolescentes? Sim! Acho que a relação com as mídias sociais cresceu muito. Eu lembro nitidamente quando o Twitter começou, era uma coisa meio distante, até meio cool… Só alguns tinham. Hoje é muito difícil achar quem não tenha seu @.
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Qual a sua relação com o Confissões de Adolescente? Você tinha diário, quando mais nova?
Nunca tive diário, mas me identifico muito com várias cenas do filme. Quem foi ou é adolescente vai se identificar também. E o mais divertido é reconhecer e dar risada das situações mais banais, mas que na hora parecem o fim do mundo! Bem coisa de adolescente, mesmo.