A discussão sobre a transformação da Reserva Biológica Marinha da Ilha do Arvoredo em Parque Nacional – proposta apresentada recentemente por parlamentares catarinenses ao Ministério do Meio Ambiente – levanta questionamentos e gera discussões entre comunidade, especialistas e políticos.
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Desvantagens
– Não há um estudo detalhado dos impactos da presença humana na área, que poderia determinar quais zonas poderiam ter visitação sem ameaçar os ecossistemas. Também não foi feito um levantamento de todas as espécies da Rebio Marinha do Arvoredo. Corre-se o risco inclusive, de espécies desaparecerem sem terem sido nomeadas.
– Há formações como o banco de corais e de algas calcárias. A interação desses bancos com os outros animais, em relações de abrigo e alimentares estão em estudo e podem ser os únicos no mundo. Caso não se estabeleça ao menos uma norma para essas regiões, as formações frágeis poderiam ser destruídas com uma simples batida de nadadeira de um mergulhador inexperiente
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– São muitos os pontos com restrições biológicas, por abrigarem animais ameaçados de extinção ou que podem ser endêmicos – existindo apenas na região. Além disso, o acesso à maior parte terrestre é difícil, com muitas rochas e inclinações. Por essas limitações na maior parte da reserva, pesquisadores colocam em cheque se a mudança de categoria compensaria.
– Haveria impactos na reserva principalmente por uma atividade praticada no verão, quando a água no litoral do Estado é mais quente e mais atrativa aos visitantes
– Pelo tipo de espécies que transitam pela região, a visão de um mergulhador em uma nova área teria pouca diferença, comparando-se com aquela que já se tem no Lado Sul, onde o mergulho contemplativo já é permitido.
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Vantagens
– As operadoras de mergulho poderiam auxiliar na fiscalização do parque, inibindo a captura ilegal de espécies
– Conhecendo o parque, os visitantes ficariam sensibilizados com as belezas da região e perceberiam a importância de preservar os recursos naturais
– O parque garantiria ações de educação ambiental na área o que hoje, não acontece
– Os próprios mergulhadores e as operadoras do serviço contribuiriam para a retirada de lixo da região, como embalagens plásticas que chegam com a corrente. Por prestarem serviços na área, as operadoras poderiam dar também uma contrapartida em ações sociais, oferecendo o mergulho para estudantes de baixa renda, por exemplo
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– Os valores arrecadados para a visitação no parque poderiam ajudar na manutenção e fiscalização
– Historicamente, o mergulho na região foi sempre explorado. O parque seria o último grande ponto de mergulho do sul do país, atraindo mais turistas de todo o Brasil e da América Latina.
A visão dos mergulhadores
De acordo com o presidente da Associação de Escolas e Operadoras de Mergulho do Estado de SC, Julio Cesar Silva, o parque faria com que a comunidade participasse mais da preservação do entorno do Arvoredo. Julio destaca que há bons exemplos de parques, como os do Caribe e o de Fernando de Noronha, em Pernambuco.
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A visão dos pescadores
O presidente da Colônia de Pescadores de Bombinhas, Adolar Serafim, destaca que os pescadores que atuavam na região nunca foram considerados antes da titulação da área. Ele conta que dezenas de profissionais que viviam da pesca perderam o “ganha pão” quando a reserva foi oficializada. Para ele, privilegiar o setor turístico agora significa que os órgãos ambientais teriam “dois pesos e duas medidas”.
A visão dos pesquisadores
Não há um consenso entre os estudiosos. O professor de ecologia e zoologia da UFSC, Alberto Lindner, pede para que, caso haja a mudança para parque, sejam levados em conta a capacidade de suporte de visitante das áreas da reserva e medidas para que as embarcações não ancorem em determinados trechos. Ele considera que a maneira mais fácil para garantir a preservação das espécies é a categoria de reserva.
Para o biólogo da Universidade Federal, Maurício Graitel, com uma fiscalização continuada, seria possível ter um parque que tivesse impactos mínimos para as espécies. O biólogo acredita nos efeitos positivos da visitação, como a conscientização ambiental.
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A visão de especialistas
O coordenador técnico do atual Plano de Manejo da Rebio Marinha do Arvoredo, José Olympio da Silva Júnior, ressalta que a categoria poderia ser mantida. Ele defende, porém, que deveriam existir atividades de lazer com o foco educativo, como já está previsto no plano em vigor, mas não acontece. André Freyesleben Ferreira, que foi o autor da proposta que deu origem à lei da reserva, em 1990, defende a categoria de parque. Ele conta que já tinha sugerido essa titulação na época, pelo visual da região e pelo incentivo que poderia dar para o turismo, mas foi contestado pelos órgãos ambientais.
Em Fernando de Noronha
– O Parque de Fernando de Noronha existe desde 1988. Visitantes que fazem mergulho ou passeios de barco têm que pagar para o ICMBio uma taxa de R$ 66, válida por 10 dias. O sistema está em mudança e, daqui a cerca de quatro meses, a taxa deverá ser cobrada no aeroporto. Além da taxa do órgão ambiental, o governo de Pernambuco cobra R$ 42 por pessoa por dia na Ilha, para investimentos na administração
– Atualmente, o parque conta com lanchonete, banheiros e pontos com lixeira
– Entre as atividades no parque, estão cerca de 25 quilômetros de trilhas e 28 pontos de mergulho
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– O parque tem áreas com acesso proibido para a manutenção das espécies, como a Baía de Golfinhos, restrita à reprodução da espécie
– 22 funcionários do ICMBio fiscalizam a área de 11 mil hectares.
Este assunto é tema de reportagem especial do DC neste domingo
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