Hermeto Pascoal libertou a música das coisas, dos gêneros e das classificações. Nunca entendeu a razão de só existirem oficialmente sete notas musicais, porque seu caminho foi sempre o som, muito antes da escala musical: o som da água, do corpo, até da barba. Com tudo ele faz música e com a mesma genialidade com que toca piano, sax ou flauta. Chamado gênio, bruxo, mago e o mais inventivo músico de todos os tempos, o músico de 78 anos é um dos convidados do Acústico Brognoli 2014.

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Nesta quarta-feira ele se apresenta em duo, com sua amada e também multi-instrumentista Aline Morena. Os dois vem se apresentando juntos desde 2014. Em 10 anos já lançaram dois CDs e um DVD e Aline acabou de lançar um disco solo, chamado Sensações. Juntos eles têm mais de 40 músicas.

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– No palco temos muitos, muitos instrumentos. Como se fosse uma banda. Hermeto fica mais solto, ele gosta de criar na hora – comenta Aline.

Tem música que é só letra, tem letra que não é letra, é só música e o sentido sonoro das palavras. Tem até piscina no palco, afinal nada como o som da água.

Por telefone Hermeto Pascoal é uma simpatia. Confira trechos do bate-papo.

Eu, bruxo?

Foi uma jornalista que falou pela primeira vez em bruxo. Eu morava no Rio. Bruxo do som, foi ela que botou. Até eu me assustei, porque na minha terra fui criado com essas histórias de bruxa. Aí eu perguntei a ela: “e esse buxo que você diz que é?” (eu já tinha uma ideia mais ou menos). E ela respondeu que sentia uma mágica em mim, mágica de transformar música. E pegou no mundo inteiro, Bruxo do Som.

Mas a gente nunca sabe como a gente é. Eu vivo sempre imaginando as coisas de dentro de mim para fora. Eu vou sentindo muito mais que escuto. Tenho que sentir primeiro que qualquer coisa.

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Saudades de Luiz Henrique Rosa (Saudades de Floripa)

Tem um grande amigo meu, que já viajou (morreu), o Luiz Henrique Rosa. Eu ia muito para Florianópolis e fazia coisas com ele. Era um cara legal. Uma vez fizemos uma sinfonia em Santa Catarina. Toquei ao vivo no teatro, era na época do Esperidião Amim. Tinham rendeiras no palco. Fizemos música com o som dos bilros, aquele som saindo junto com a orquestra.

Florianópolis é um dos lugares onde eu tocava mais. Mas as cabeças vão mudando.

Tem uma turma que chamo de Nave Mãe. Porque daqui (do Sul) saíram grandes músicos.

Por que um estilo só?

A música é universal. Senti logo que no Brasil todo mundo tem uma ascendência, é o país mais miscigenado. Então como a gente vai fazendo um estilo só?

Todas as músicas são universais. E quem não tem semelhança não tem criatividade. Não é copiar, mas a semelhança vem sempre natural. Cada um ouve para tirar a sua maneira de ser.

Bem bolado na hora (sobre Acústico Brognoli)

A gente só sabe uma coisa: que a gente vai se apresentar. Nenhum show é bolado. A gente chega na hora e sente o clima. Cada show é uma história.

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Não tem jeito de fazer música ruim

Meu repertório de músicas já está indo para 6 mil. É o que eu faço todo dia e há que se levar em conta meu tempo de existência. Mas eu tenho muito cuidado para não ficar só na quantidade, mas sim qualidade. Mas não tem jeito de eu fazer música ruim.

Eu me sento e sei o que vou escrever. E espero chegar, como se fosse um médium mesmo. Fico esperando a intuição. Com a maior naturalidade. E ela chega, linda. E quando eu componho eu curto ela, a música, naquele momento. Porque não terei a oportunidade de escutar todas elas.