Apesar do entusiasmo inicial com a ideia de ter um bichinho em casa, muitas pessoas se arrependem de ter que criar um animal doméstico e acabam largando os peludos pelas ruas. O reflexo disso é o aumento no número de cães abandonados, de acordo com a Secretaria de Bem-Estar Animal da Prefeitura de Florianópolis.
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Quem é atarefado vive dilemas antes da escolha do companheiro: falta de tempo para cuidar do animal ou dúvidas sobre como combinar o perfil do dono com a personalidade do pet.
Ceres Faraco, veterinária especialista em comportamento de cães e gatos, explica que os de raça, por terem pai e mãe conhecidos, são mais previsíveis. Ao mesmo tempo, não é difícil entender um vira-lata, maior parcela dos disponíveis para adoção:
– Existem formas de saber se o cão é brincalhão ou apático, mas qualquer um é adotável, desde que o tutor tenha disposição para ensiná-lo e corrigir problemas de comportamento.
Quem passa o dia fora de casa pode optar por um gato. Mas os bichos exigem atenção e não são objetos decorativos. Portanto veja um guia para não errar na hora de tomar essa decisão.
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Beiçola, Alemão e Ronda
Fotos: Felipe Carneiro/Agência RBS
Desde criança, Keila Pimentel, 35 anos, salvava animais de rua maltratados. A comerciante não consegue ver um bichinho sofrer. Transformou a sina em satisfação pessoal, uma maneira de se sentir viva. Encontrou cerca de 300 lares diferentes para animais abandonados em Florianópolis, Palhoça e São José.
Segundo ela, o importante é proporcionar amor e saúde para o animal e o dono. Keila cuida, atualmente, de seis cachorros que encontrou na rua. Três deles – Beiçola, Alemão e Ronda – adotou como seus. Os outros três estão para adoção. Quando encontrarem um lar, ela quer salvar a vida de mais cães e diz que só não junta mais animais em casa porque quer ter tempo e dinheiro suficientes para cuidar bem deles.
– Castro, vacino e encaminho para uma família. Sou criteriosa, faço entrevistas. Tenho três vagas rotativas no meu coração – explica.
Todo mês, gasta de R$ 800 a R$ 1 mil com castrações e qualquer tipo de ajuda aos pets. Ela não tem pressa em doar os três cães que esperam por um novo lar. Quer conhecer bem os candidatos e explicar o que é uma adoção consciente.
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– Pessoas como eu precisam existir até as pessoas entenderem que os animais precisam de cuidado. Não posso tirar o animal de um lugar ruim e encaminhar para outro péssimo – diz.
Keila encontra um maior número de animais abandonados nas comunidades carentes. Beiçola (à esquerda na foto) recebeu este nome porque foi encontrado no bairro Monte Cristo com a mandíbula deslocada, provavelmente por conta de uma agressão. Fez cinco cirurgias e parte da pele não colou novamente. Por isso, o lábio avantajado.
– Cada um deles tem uma história. Acredito que eles nos enxergam como vemos a Deus. E nós os sentimos como se fossem anjos. É uma relação que não permite tristeza.
Como adotar
Há centenas de ONGs (veja lista de algumas abaixo) com animais disponíveis para adoção. Geralmente, elas têm sites e compartilham as fotos dos bichos abandonados nas redes sociais. Os próprios cuidadores podem ajudar no esclarecimento das dúvidas quanto à adoção
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Vai encarar?
– Pense no tempo que você terá para ficar perto do seu bicho. Cães não podem ficar mais do que cinco horas sozinhos, o que pode provocar sofrimento e distúrbios de comportamento
– Avalie se você terá espaço para o bichinho em casa. Os animais precisam reproduzir em ambientes fechados o que fazem na natureza, explorando, se exercitando e demarcando território
– Prepare-se para gastar: eles precisam de vacinas anuais, banho, tosa, ração, acessórios, vermífugo, remédios para pulgas e carrapatos e consultas veterinárias
– Em muitos passeios ou viagens, pode ficar mais difícil de transportá-lo com você, por isso pense também como você se organizará nestes casos. Hoje, existem hotéis para cães e gatos que podem ser aliados
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Faça os cálculos
Gasto médio com um animal de pequeno porte
– Vacinas anuais: a partir de R$ 100
– Consulta com veterinário: de R$ 50 a R$ 200
– Ração: R$ 10 a R$ 30 (1 kg, que dura 10 dias)
– Vermífugo: R$ 20 (a cada quatro meses)
– Banho: R$ 25
– Tosa: R$ 25
– Remédio para pulgas e carrapatos: R$ 50
Escolhendo o seu animal
– O que as pessoas normalmente buscam é um companheiro que não dependa delas o tempo todo. Neste caso, a veterinária Ceres Faraco dá uma dica: observe se o animal demonstra interesse pelas pessoas e pelo ambiente, mas fica bem sozinho. Se você não tem muito tempo, evite um mascote desesperado por atenção. Animais muito apáticos ou que demonstram agressividade devem ser adotados por quem está disposto a auxiliá-los, por meio de reforços positivos, a mudar seu comportamento
– Gatos tendem a ser mais autossuficientes e a depender menos da atenção do dono
– O tamanho do espaço que você tem para recebê-lo pode ser decisivo. Quanto maior o cachorro, mais espaço ele precisa para viver
– Animais de pelo longo exigem mais cuidados, como pentear e tosar, mas deixam menos cheiro na casa
– Animais de pelo curto são mais simples de cuidar, mas não se iluda: eles trocam os pelos com maior frequência, espalhando-os pela casa
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Diário de uma adoção
Foto: Karen Sica, Arquivo Pessoal
A jornalista Karen Sica é fã de bichos de estimação e dona do blog Confraria do Pet, onde dá dicas sobre os animais. Foi só em março deste ano que adotou o primeiro cachorro. Todo o esforço em fazer a adaptação da vira-lata ao seu apartamento virou uma série do site Diário da Kyra. Confira algumas das técnicas que ela tem empregado.
E se ele chorar?
– Antes de sair, apenas dê um comando (“fica”, “cuida a casinha”, “tchau”).
– Deixe a casa preparada para que o seu pet sinta-se seguro e distraído: ligue o rádio em um volume baixo, deixe brinquedos para cães espalhados pela casa, limite um espaço para que ele possa circular, mas não muito grande.
– Quando voltar, não faça festa imediatamente para que ele não relacione a volta com algo muito legal. Assim, ele não ficará ansioso esperando.
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– As três dicas acima, de adestradores experientes, não deram certo, e Karen fez do seu jeito. Explica: “No mesmo dia, demos pequenas saídas propositais para ver a reação dela. Sempre antes de sair começamos a usar o comando fica. Na primeira saída proposital, ela chorou bastante. Os adestradores sempre mandam os donos não voltarem quando ouvirem o choro. Nós desobedecemos, voltamos quando ouvimos os choros e falamos não!. Fizemos isso três vezes. Na quarta vez que saímos, ela não chorou mais. Nada mesmo!”.
Comandos de obediência
– Comece com o básico: “senta”! Basta pegar um petisco ou um brinquedo e falar “senta” em um tom de voz forte. Se ele não se mexer, faça um carinho nas costas do animal.
– Não adianta só falar, o dono precisa colocar a mão em um ângulo um pouco mais alto daquele em que o animal está. Isto serve para que o bichinho tenha que olhar para cima e facilita que o comando seja compreendido. Depois que o cão atender o pedido, dê o petisco ou o brinquedo, faça festa e brinque à vontade.
Necessidades no lugar certo
– Separe um espaço da casa para colocar o jornal. O ideal é que não seja ao lado da comida. Deixamos o box de um dos banheiros exclusivo para o uso da Kyra. É fácil de manter o local sempre limpo.
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– Sempre que o cachorro fizer xixi ou cocô no lugar errado, fale bem alto: “não”! Em seguida, leve-o ao local certo e diga: “aqui sim”.
– Se você pegar o cachorro fazendo xixi na sua frente, melhor ainda. Foi assim que funcionou com a Kyra.
– Quando ele finalmente fizer no lugar certo, faça festa para que o animal perceba a sua alegria. Diga várias vezes: Parabéns! Bom garoto! Que bonito! E claro, dê um petisco para cães.
Tudo pronto para recebê-lo
– Gatos gostam de estantes e móveis altos pela necessidade que têm de observar o mundo de cima. Prepare um móvel desse tipo para agradá-lo
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– Se já existe outro gato em casa, cuidado ao introduzir o novo. Eles podem ficar estressados se não forem preparados, defecando e urinando em local inadequado, por exemplo. O recomendável é mantê-los afastados por cerca de uma semana. Depois, tente apresentá-los em uma gaiola. Quando eles começam a apresentar indiferença um com o outro, é hora de apresentá-los de verdade
– Se optar por um gato e for deixá-lo por um período mais longo sozinho, recheie a casa com brinquedos específicos para os bichanos. O melhor mesmo é ter outro gato para fazer companhia. O mesmo vale para cães
– Fazer uma bateria de exames pode ser interessante para identificar se o bicho tem alguma doença que pode ser tratada antes de chegar ao novo lar.
Saiba mais no confrariadopet.com.br
Onde adotar
Balneário Camboriú
Viva Bicho – vivabicho.org
Blumenau
Aprablu – aprablu.com.br
Procure 1 Amigo – procure1amigo.com.br
BluPet – blupet.com.br
Florianópolis
Adote um Patudo – facebook.com/AdoteUmPatudoFloripa
É o Bicho – eobicho.org
OBA – obafloripa.org
AMAR – Amigos dos Animais de Rua – amigosdosanimaisderua.com.br
Joinville
Abrigo Animal – abrigoanimal.org.br
Cão Paixão – caopaixaoanimal.blogspot.com.br
Lages
Associação Lageana de Proteção aos Animais (ALPA) – alpalages.com.br
Indaial
Entre cães e gatos – ongentrecaesegatos.wix.com/adotar