Depois de passar mais de um mês sem ouvir a água sequer pingando na caixa-d?água durante o verão passado, a família da dona de casa Daniele Pscheidt radicalizou. Agora, eles têm um sistema de reservatórios de dar inveja: são mil litros em uma caixa-d?água para lavar roupas e outras atividades da casa e outra caixa de dois mil litros para tomar banho e fazer comida.
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-A gente tem muita dificuldade de receber água aqui. Ano passado ficamos 31 dias sem água nenhuma, nem de dia nem de noite. Nada!-, diz a dona de casa, que mora com o marido e um filho de oito anos no loteamento Santa Mônica, em Araquari, região que virou símbolo da revolta pela falta de água no ano passado em todo o Norte do Estado.
O problema que a região do Santa Mônica tem de encarar não é diferente do enfrentado por outros bairros de Joinville e de balneários de São Francisco do Sul e Balneário Barra do Sul. Quando chega o verão, aumenta o consumo e diminui a vazão dos rios. O resultado é a falta de água na torneira.
As casas do Santa Mônica ficam no ponto mais alto do Itinga, no limite de Araquari com Joinville. O bairro é atendido pela Casan, por isso todos os moradores pagam contas de água para a empresa. Mas quem leva a água até lá é a Companhia Águas de Joinville. E ela só chega depois de passar pelos bairros da zona Sul da cidade mais populosa da região.
Como não se pode prever com tanta antecedência o volume de chuvas para a região, nem saber se todos os investimentos feitos pelas companhias vão dar o resultado esperado, o melhor a fazer é se prevenir. “A Notícia” foi buscar algumas dicas que podem ser valiosas e alternativas que, mesmo com algum custo, podem garantir um verão tranquilo.
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35% das casas de Joinville não têm caixa d?água
A principal dica é ter uma caixa-d?água com capacidade adequada para o número de pessoas que moram ou vão permanecer na casa durante o verão. A média de consumo é de 200 litros por dia por pessoa. Ou seja, em uma família com cinco pessoas, são necessários pelo menos mil litros em reservatório para garantir um consumo mínimo diário.
Segundo dados da Companhia Águas de Joinville, 35% das residências da cidade não têm caixa-d?água, equipamento que armazena a água que vem da rede. Com essa reserva, sempre que houver um desabastecimento momentâneo, causado por alguma manutenção na rede ou pelo alto consumo, a casa terá água disponível até que o sistema seja normalizado.
Casan vai construir reservatório em Araquari
No início de setembro, a Casan confirmou investimentos de mais de R$ 3 milhões em Araquari. Os recursos serão aplicados na instalação de duas estações de tratamento e na construção de um reservatório com capacidade para 2 milhões de litros de água na rua Santa Fé, no bairro Itinga.
Esse reservatório, cuja obra está orçada em pouco mais de R$ 2 milhões, também abastecerá os bairros Cerro Azul e Porto Grande. A licitação para sua construção já foi realizada. A empresa vencedora é a RGS9 Tecnologia, Importação e Construções.
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Ao contrário da maioria dos reservatórios construídos pela empresa, que são em concreto, esse será feito em aço vitrificado, para melhorar a aparência, a manutenção e a conservação, além de reduzir o tempo de implantação. O prazo inicial para a entrega é dezembro.
Mudanças no sistema melhoraram o abastecimento, diz gerente da Águas
Bruno Gentil (Gerente do setor de abastecimento da Companhia Águas de Joinville)
A Notícia – Como a companhia se preparou para que a falta de água do ano passado não se repita nesta temporada?
Bruno Gentil – No ano passado, a gente teve uma situação diferenciada. A ETA do Cubatão, que fica lá no pé da Serra Dona Francisca, abastecia todo o Sul da cidade, até parte de Araquari. Em março, mudou a configuração do sistema e a região passou a ser abastecida pela ETA do Piraí. A região baixa, do R11 que a gente chama, envolvendo os bairros Santa Catarina, Profipo, Boehmerwald, João Costa, Itinga e Araquari, hoje é abastecida pela ETA do rio Piraí. A gente consegue mandar mais água para essa região desde março.
AN – É uma melhoria que a população vai sentir?
Gentil – Com a entrada do Piraí, os reservatórios do Nova Brasília e do Profipo ficam sempre cheios. Então, essa é uma das principais melhorias no abastecimento da cidade em comparação ao ano passado.
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AN – Quem sentiu mais falta de água no ano passado?
Gentil – A região mais crítica foi a Sul. A água saía lá do Cubatão e passava por toda a cidade para chegar à região. Agora não é mais assim. Isso melhorou bastante o abastecimento. E também melhorou para outra região, do Paranaguamirim, do Fátima, que dividia a água com a zona Sul e agora recebe só do Cubatão.
AN – Como está dividido agora o abastecimento?
Gentil – Antes, 70% da cidade eram abastecidos pelo Cubatão e 30% pelo Piraí. Agora, são 65% pelo Cubatão e 35% pelo Piraí.
AN – Qual é o papel do cidadão em tempos de crise?
Gentil – É tentar usar a água de forma consciente nestes períodos de alto consumo. É não esbanjar. Se possível, reproveitar a água para fazer um uso consciente. Não desperdiçar água, como se vê muitas vezes no verão. Tem uma coisa cultural que é molhar a rua por causa da poeira. Tentar fazer isso com água de reúso, água de chuva. Jamais com água potável. E precisa, claro, ter caixa-d?água.
AN – A caixa é fundamental para não ficar sem água?
Gentil – A gente tem um sistema de abastecimento que ainda tem problemas de infraestrutura. A gente não consegue atender a todas as demandas da cidade com água 100% do tempo. A caixa-d?água resolve isso perfeitamente. Todos os dias, à noite, a gente consegue encher todas as caixas da cidade. Tem pressão, tem água, tem tudo. Por isso é muito importante ter a caixa. No momento em que baixa a pressão do sistema, a casa não fica sem água. Durante a noite, ela recebe, e durante o dia pode consumir.
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AN – Muita gente ainda não tem caixa?
Gentil – Cerca de 30% das casas de Joinville ainda não têm. Existe até uma lei municipal (que determina que construções com até 120 m² tenham reservatórios com capacidade mínima de 500 litros e prédios acima de 120 m² precisam de reservatórios com no mínimo mil litros).
AN – Onde esse problema é maior?
Gentil – Por incrível que pareça, uma das regiões onde há mais gente sem caixa-d?água é o Costa e Silva. É algo cultural, talvez porque a região sempre foi muito bem abastecida. Não dá para precisar o porquê. Talvez por ser uma região de casas e famílias antigas.