Digamos que você é torcedor do Flamengo e mesmo quando o time não está em campo torce alucinadamente por outra equipe. Comemora um gol do Atlético-GO em cima do Bahia como se fosse do seu próprio time. Quando estão jogando contra o Flamengo, de leve dá até aquela torcidinha para que o volante adversário roube umas bolas e, quem sabe, faça um gol (mas sem vencer o jogo, por favor). Torcer contra o próprio time pode até parecer um exagero enlouquecido para boa parte dos fãs de futebol, mas há quem ache normal em tempos de fantasy games.
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O Cartola FC – jogo lançado pela Rede Globo em 2005 – é o tipo de diversão que mudou a maneira como muita gente acompanha os jogos do Campeonato Brasileiro. No papel de dirigentes de um time fictício, quem participa do jogo compra e vende atletas que pontuam de acordo com o que fazem em campo a cada rodada. A febre é tamanha que não é difícil encontrar quem aposta de verdade em ligas do fantasy game, ou que invista horas do dia pesquisando e analisando estratégias na hora de montar a escalação. E o número de cartoleiros aumenta a cada ano: o recorde de times escalados foi batido na décima rodada do Brasileirão deste ano, com 5.540.835 times escalados.
– Jogo desde 2010, e antes costumava demorar até duas horas para montar um time. Olhava esquema tático, observava tudo com calma. Esse ano estou confiando mais no meu instinto. Durante os jogos logo que alguém faz gol já vou abrindo o aplicativo para conferir a pontuação parcial – conta Kelvin Von Den Bylaardt, auxiliar de produção gráfica na vida real e, no mundo do Cartola, dirigente do K. Bylaardt FC, atual líder da liga Blumenau 2017, uma das maiores que levam o nome da cidade.
Botafoguense de coração, Kelvin é do discurso ¿sem clubismo¿ no jogo. Ele escala sem nenhum peso na consciência atletas que vão entrar em campo contra o Fogão, mas, no fundo, torce para a vitória do Alvinegro.
Em outra liga na cidade, a Blumenauenses EC, quem desponta na liderança é o time ¿Jomengol¿, da estudante de enfermagem de 22 anos Johanna Camila. Com 1,2 mil pontos acumulados no game no fim do turno do Brasileirão, ela se diverte ao ver os amigos quietos nos grupos de WhatsApp quando ela é a melhor da rodada.
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– O que mais gosto é ser a melhor entre outros 11 homens da liga. Acho que por ser mulher eles ficam indignados quando ganho – brinca a jovem, que começou no fantasy game em 2017 e gasta um bom tempo olhando dicas e notícias dos times para pontuar bem a cada rodada.
Torcedora do Flamengo, ela diz que é impossível não acompanhar também para outros times por causa do Cartola. E é daí que vem boa parte da diversão do jogo para muita gente: um gostinho a mais para partidas que, de outra forma, não teriam tanto tempero. Aos mais entusiasmados e profissionais o Cartola oferece prêmios aos melhores de cada rodada no Brasil. Tarefa difícil quando se compete contra mais de 5 milhões de times, mas não impossível. Para os meros mortais, o que vale é a brincadeira entre a galera e a zoeira pós-rodada.