Confira na íntegra a entrevista com o governador eleito
Comenta-se que, a título de manter uma certa independência, o seu governo estaria abrindo mão da participação do governador Luiz Henrique da Silveira. Até onde isso é verdadeiro?
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Raimundo Colombo – Não é verdadeiro. Tenho a melhor consideração pelo Luiz Henrique. Temos uma convivência harmoniosa. Estive quinta-feira de manhã com ele. Tenho trocado ideias constantes com ele. Da minha parte é total amizade, respeito e desejo de colaboração mútua.
Mas isso significa que ele tem grande influencia no governo?
Colombo – Ele vai ser meu parceiro. Claro que ele nunca toma a iniciativa, aguarda que eu o procure. Ele não busca a discussão de assuntos administrativos, mas eu puxo. Quero a participação dele, o aconselhamento dele, a convivência com ele só vai me ajudar e ajudar o meu governo.
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Nos corredores da SC Parcerias se fala até que quem fosse indicado pelo Luiz Henrique ou quem tivesse participado do governo dele como secretário ou em outra posição de destaque não seria contemplado com cargo. Até onde isso é verdade?
Colombo – Isso é uma mentira. Não há nenhum sentido nisso. Absolutamente nenhum. O governo do Luiz Henrique é exitoso tanto nas urnas quanto na sua execução administrativa. O resultado está aí.
Então quer dizer que o senhor confere aquela gratidão do homem que montou a aliança que o levou ao governo?
Colombo – Claro. Admiração e gratidão. Sem nenhuma dificuldade de afirmar isso.
O senhor tende a anunciar novos nomes na semana que vem, depois de falar com a bancada federal?
Colombo – Conversei com o Luiz Henrique, com o Eduardo (Pinho Moreira), com o PMDB, com o PSDB. Eles, agora, estão fazendo discussões internas e, semana que vem, quero ver se a gente consegue avançar. Conversei com o DEM também, vou conversar com o Coruja em Lages. Não queria impor um prazo, mas acho que a semana que vem a gente vai avançar.
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Quando o senhor fala vou conversar, já tem um cronograma estabelecido? Datas?
Colombo – Não. Troquei ideias com eles e vamos voltar a conversar na semana que vem. Aí talvez a gente consiga definir algumas coisas importantes.
Esse número de secretarias que se especulou para o PMDB que, aparentemente, é um número muito grande, confere com a realidade? Administração, saúde, infrestrutura…
Colombo – Não tem nada definido ainda. Estamos fazendo o levantamento. Eu vou levar em consideração o resultado das urnas, mas ele não é o único (critério). Ele tem que estar associado a pessoa que vai executar o trabalho. Então essa é a engenharia que tem que ser construída.
Sobre o número de deputados participando do seu governo no primeiro escalão, tem definido?
Colombo – Não tenho. Conforme forem acontecendo as conversas, a gente vai fazendo um mapa. Não tenho isso definido.
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Essa escolha de nomes tem dois momentos: uma escolha política, que é definir a sua liderança na Assembleia e uma técnica, que é dos secretários, que também não deixa de ser política. O que é mais difícil nesse momento?
Colombo – Estou me dedicando mais a estudar os números do governo, a estrutura, a função de cada área. É um trabalho extenuante. A gente vai tem informações e vai avaliando.
E preocupa esse gasto aumentado da folha?
Colombo – É um gasto muito expressivo. Vai estar em torno de R$ 900 milhões só o aumento da folha para 2011.
E qual o remédio?
Colombo – A receita tem respondido bem. Espero que no ano que vem ela faça isso. Agora, vamos ter que reduzir despesas e fazer ajustes. Mas isso a gente ainda está estudando.
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O senhor pensa em diminuir os comissionados? O tamanho da máquina?
Colombo – A estrutura do Estado de Santa Catarina é a mais enxuta do Brasil em relação a cargos comissionados.
Quantos são, hoje?
Colombo – Aqui você tem função gratificada, mas ela é dada para uma pessoa que já é do quadro. Então a estrutura é pequena, não chega a mil em todo o Estado.
Chegou a vazar que o senhor mantém as secretarias regionais em 36, mas diminuiu o número de pessoas que trabalham. Isso é verdadeiro?
Colombo – Isso não está pronto. Vamos tomar algumas medidas de contenção de despesas. Que é natural, tem isso em qualquer governo. Estamos avaliando exatamente esse impacto da folha, compatibilizado com o aumento da receita e a necessidade de obras e ações que precisamos e vamos fazer.
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Isso não levaria o senhor a ter que mexer no orçamento do ano que vem?
Colombo – Estamos estudando. A gente está fazendo tudo com bom senso, sem pressa, com cuidado para não vazar números e depois ficar mudando a toda hora. Isso tira a credibilidade da gente e de vocês também. Não adianta ficar divulgando coisas que são superficiais, não são definitivas, e depois ter que mudar. Então o Bira (Ubiratan Rezende) está mergulhado nesse trabalho, está levantando todos esses dados. E a verdade é uma só, a posse é só dia 1 de janeiro.
Para mudar o orçamento vai ter que ter uma ação antes do recesso na Assembleia Legislativa.
Colombo – Mas se tiver que fazer algum ajuste a gente pode fazer em fevereiro, março.
O senhor falou no Ubiratan Rezende, que é o nome mapeado para uma supersecretaria que seria a união da Fazenda com o Planejamento. Essa fusão já está definida?Colombo – Não está. A gente está estudando a estrutura. A gente está só levantando dados, avaliando, checando números.
Dentro da estrutura, também a previsão de outras medidas administrativas como, por exemplo, um desmembramento da Secretaria de Turismo, Esportes e Cultura ou uma fusão de outras áreas para formar uma supersecretaria de Desenvolvimento Econômico?
Colombo – Não vai haver supersecretaria no meu governo.
Mas a Assistência Social vai ganhar um papel de destaque?
Colombo – Vai, porque é um compromisso de governo. Quero fazer uma política firme para o idoso, uma política forte para o jovem. Conseguimos aprovar a emenda constitucional, em Brasília, para fazer políticas públicas para a juventude. Essa é uma área que vamos nos dedicar bastante e vai ser uma área muito importante do governo.
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O senhor pode anunciar algum nome antes dessas reuniões da semana que vem?
Colombo – Não. Os únicos com quem eu conversei foram o Ceron (deputado Antonio Ceron) e o Bira (Ubiratan Rezende). Tudo que for dito, além disso, não é verdade.
A coisa mais frequente, ultimamente, é ligar para pessoas que têm biografia política relevante, quem tem um contato mais estreito com o senhor e com o Eduardo Pinho Moreira e eles têm dito “não fui convidado”. Isso tem sido a prática?
Colombo – É porque eu não convidei e não vou convidar ninguém até quarta-feira. Vou agora a Lages, estou levando um monte de material. Vou ler, vou interagir por telefone. Segunda-feira eu tenho um encontro no Rio de Janeiro, com a empresa do Eike Batista, e de lá vou para Brasília.
Como ficou na sua impressão essa decisão de transferir o investimento bilionário para o Estado do Rio de Janeiro?
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Colombo – A gente vai buscar uma discussão, foi o Luiz Henrique inclusive que fez o contato pra gente, porque há uma possibilidade de um investimento forte em Santa Catarina. Mas isso a gente só vai tratar depois da reunião porque pode ser que não seja bem isso. Nossa ideia é assegurar investimentos do grupo naquela área, em Biguaçu.
O senhor acha que, em algum momento, pode ter havido corpo mole do governo federal, do ICMBio, depois do resultado desfavorável em Santa Catarina para a presidente eleita Dilma Rousseff?
Colombo – Não, não acredito nisso. Houve ali um radicalismo do instituto e ele (Eike Batista), pela demora, como já tinha ações na bolsa, precisava dar uma resposta ao mercado.
Mas o senhor não acredita que faltou força política de Santa Catarina ou até mesmo vontade política de alguns segmentos para que esse investimento se tornasse realidade?
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Colombo – Fizemos a nossa parte, acho que todo mundo ajudou. Vocês, da imprensa, ajudaram. As coisas não aconteceram. Mas o que precisamos fazer, agora, é não perder o investimento, que também é importante para Santa Catarina.
O senhor já recebeu alguma sinalização ou tem alguma agenda marcada com a presidente eleita?
Colombo – Não. Só fiz um discurso no Senado em que a cumprimentei, desejei sucesso e demonstrei desejo de trabalharmos em parceria para o bem do Estado e do país.
Ela fez uma manifestação na imprensa em que disse “nós temos que ser generosos com os aliados e compreensivos com os adversários”. Isso é bom para Santa Catarina?
Colombo – Acho positivo. Esse tem que ser o espírito. A eleição terminou. Agora, temos compromissos de governar a sociedade como um todo. A gente não é governador ou presidente da República apenas para uma parte da população ou para um grupo político. A gente é governador da sociedade como um todo. Sempre disse, em todos os meus discursos, sou oriundo de partido político, sou apresentado em convenção, mas a minha aliança é com a sociedade.
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José Carlos Oneda, seu ex-secretário de Finanças em Lages; Celso Calcanhoto, uma pessoa que lhe acompanha hoje e também foi seu secretário; deputado Antonio Ceron, que o senhor já confirmou como secretário de Coordenação e Articulação; e também o Lauro Pruner, que lhe acompanha há muito tempo. Está se formando uma República de Lages?
Colombo – Não, não há nem uma chance de isso acontecer. Oneda é meu amigo de infância, jogamos futebol, é uma pessoa da minha mais absoluta confiança. Não sei nem se ele deseja vir para Florianópolis, nunca conversei isso com ele. O Lauro é uma pessoa que trabalhou com Vilson Kleinübing, vai exercer um papel mais de assessoria direta pra mim, não vai assumir um cargo executivo. E o Celso é uma pessoa boa e competente e me acompanha até hoje. Os amigos são aqueles que são mais sacrificados em composições políticas.
Nomes como o do ex-governador Paulo Afonso Vieira e de João Matos, atual presidente do PMDB catarinense, terão espaço no seu governo?
Colombo – O PMDB vai fazer as indicações. Sou muito amigo do Paulo Afonso e tenho um carinho especial por ele, que extrapola a questão partidária. Mas a ocupação do PMDB será feita pelo PMDB, com a participação de todos os seus líderes.
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E o seu líder na Assembleia o senhor já definiu?
Colombo – Não, ainda não tratei disso.
Poderia haver a manutenção do atual líder?
Colombo – Pode, acho que ele fez um grande trabalho. Quero só conversar com as bancadas, mas é muito provável que sim. Acho o trabalho do Elizeu de alto nível e me sentiria muito tranquilo com a liderança do Elizeu. Agora, quero sentir das bancadas se há disposição deles.
E o papel que o vice-governador Eduardo Pinho Moreira está desempenhando dentro do que vocês combinaram?
Colombo – Sim, com certeza. Nós vamos trabalhar juntos. Vamos decidir juntos, vamos conversar todo dia, em todos os momentos. Pra mim é importante a participação do Eduardo. A gente é bem amigo. Vamos ter uma bela convivência, tenho certeza.
O senhor tem mantido contatos frequentes com o governador Pavan?
Colombo – Não. Não houve nenhum tipo de contato, nem por telefone nem pessoal. Tenho procurado participar o mínimo possível de eventos e procurado ser o mais discreto possível, porque não me cabe fazer qualquer tipo de governo paralelo e querer aparecer. Tenho procurado respeitar o governo que vai até 31 de dezembro. Ainda existe um governo e ele deve exercer plenamente a sua função.
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O senhor disse que não quer estabelecer prazos para estabelecer o secretariado, mas também disse que não vai haver transição. Serão os novos secretários que vão cuidar desse trabalhos com os atuais integrantes das pastas. O senhor não acha que o mês de dezembro é muito pouco tempo para essa interação, apesar de ser um governo de continuidade?
Colombo – É uma coisa serena, tranquila. Em janeiro você pode desenvolver também um papel de adaptação, de construção. Não acho que a gente deva fazer de forma atrapalhada ou acelerada. Tem que ser de forma serena. É um processo normal, tranquilo, previsto na lei, dentro dos prazos. Vou tentar semana que vem avançar bem. E vou informando. Não tem nenhum tabu. Resolveu, está resolvido e está liberado. Gostaria de já na semana que vem anunciar alguns nomes do primeiro escalão.