Poucas coisas denunciam tanto a curiosidade humana quanto listas. Seja para categorizar, dividir ou julgar a opinião alheia – listas servem para basicamente dois motivos: celebrar o passado e compartilhá-lo com quem ainda não o viveu. Deixar firme no papel alguma emoção que você obteve por meio de uma mensagem audiovisual, algo que lhe provocou dor, tensão, amor, esperança e lhe fez viver, por que não, uma pequena história.

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Para esquecer: os 10 piores filmes brasileiros do ano

Colunista de cinema elege as 10 cenas inesquecíveis de 2015

As listas, vez ou outra, também servem como uma forma de controlarmos a nossa versão do cinema. Fazer com que olhemos para trás e entendamos, em retrospecto, quais foram as nossas emoções dentro de um contexto – seja ele qual for, em nível cinematográfico.

Você poderá ler ou ouvir que 2015 para o cinema foi um ano de firmação política, abastecido com documentários importantíssimos sobre revoluções na Europa, evidências da crise econômica mundial e múltiplas perspectivas sobre imigração.

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Igualmente, tantos outros apontarão para o tom mais feminista que ele ganhou neste ano, com obras que estimulam a luta da mulher por direitos iguais e ridiculariza (ao seu modo) a virilidade. Quem sabe também não tenha sido o ano da extravagância e o da pretensão de cineastas já familiares? Ou a redenção de tantos outros?

2015, agora, apenas no papel – nas dúvidas, perguntas e exclamações de autores, de retrospectivas e de listas. Sem mais futuro. Apenas uma forma de celebração (ou ao contrário, vá lá) do que já se tornou um ontem. Aqui, nas listas, o cinema não é feito de luz e de sombras.

É um princípio que os historiadores esqueceram de prever ao considerar a busca pela imagem perfeita como ciência: a carga sentimental que cada imagem carrega e como ela afeta cada um. A seguir, como o cinema me afetou em 2015:

NO BRASIL

Melhores filmes lançados no país em 2015

Outros grandes filmes que merecem menção (na ordem): Vício Inerente, Ponte dos Espiões,Leviatã, Um Pombo Pousou num Galho Refletindo Sobre a Existência, Calvário, O Fim da Turnê, A Pequena Morte, Call me Lucky, Birdman, Retorno a Ítaca, Cássia, Mapas para as Estrelas, O Ano Mais Violento, Citizenfour, Cinderela, Amizade Desfeita, Sono de Inverno, Amy, Casa Grande, Whiplash, A Gangue, Acima das Nuvens, Dois Dias, Uma Noite, Taxi Teerã, Ex-Machina, Blind, Frank, Magic Mike XXL, Nick Cave: 20.000 Dias na Terra, Deus Branco

Cauã Reymond é “Mad Max do sertão”  

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NO MUNDO

Melhores filmes de 2015 (ainda não lançados no Brasil)

1. Spotlight

Tom McCarthy se torna uma voz respeitável acerca de uma discussão sobre jornalismo e coloca seu nome entre outras obras seminais sobre o papel da mídia. 

2. A Grande Aposta

Com o auxilio da brilhante montagem, o filme navega entre seus momentos tragicômicos com a mesma facilidade que fascina na análise econômica sobre a bolha de 2008 e o favorecimento proporcionado para muita gente. 

3. Anomalisa 

Onde um homem não diferencia vozes uma das outras, uma obra extremamente melancólica e magnetizante. 

4. 3 ½ Minutes, Ten Bullets 

Durante as atuais manifestações contra o racismo da polícia norte-americana, talvez seja o documentário mais importante do ano. 

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5. Love & Mercy 

Um apanhado específico sobre momentos de uma banda e um artista nada convencional, que gera uma experiência riquíssima, somando-se aos talentos dos extraordinários Paul Dano, John Cusack e Elizabeth Banks. 

6. My Nazi Legacy 

Serve como um intermediário perfeito (e, pontualmente, assustador) entre a negação/aceitação de duas pessoas em busca de uma paz interior. 

7. I Smile Back 

Percebendo na figura de Silverman todas as nuances de sua protagonista, o diretor Adam Salky centraliza toda a atenção na face emblemática da atriz, que parece carregar todo o peso do mundo consigo. 

8. 99 Homes 

O filme de Ramin Bahrani estende a discussão da ganância levantada por longas como Wall Street, usando a moralidade, a lei e a humanidade como ganchos para chegar até onde quer chegar: a facilidade de se corromper, numa crise. 

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9. Faults 

Traços de Martha Marcy Marlene e Borgman numa trama sombria e insana, mas extremamente palpável e agoniante, onde a aleatoriedade das situações que se sucedem e a tentação de usufruir do controle sobre o outro demarcam o território da narrativa. 

10. The Hounting Ground 

Um documentário assustador sobre o alto índice de estupros nas universidades americanas. Menções honrosas: The Disappearance of Eleanor Rigby: Him/Her, A Garota Dinamarquesa, Carol, The Keeping Room, A Verdade Sobre Marlon Brando, The Subjects, Descompensada, Hidden, Horsehead e Brooklyn.