É meio difícil definir Marcelo Mirisola. Com quase 50 anos e mais de 10 livros publicados, sendo “dois geniais, um seminal, uns cinco acima da média e alguns meia-boca, porém indispensáveis”, como ele próprio diz, o escritor coleciona leitores fiéis, críticas elogiosas, confusões definitivas e textos que, justiça seja feita, causaram grande impacto no panorama da literatura brasileira. Alguns deles, acho inclusive que os “dois geniais”, como O Azul do Filho Morto e O Herói Devolvido, se passam em grande parte na cidade de Florianópolis, reflexo do período em que morou isoladão no Costão do Santinho. Mas essa já é outra história. A questão agora é que Mirisola está lançando duas novas obras: uma reunião de crônicas intitulada O Cristo Empalado (Oito e Meio, RJ) e Paisagem em Campos do Jordão (e-galáxia, SP), uma peça teatral bem pornográfica escrita em parceria com Nilo Oliveira. De resto, o autor fala por ele.

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Depois de escrever contos, romances, novelas, crônicas e até um livro infantil, você atacou com uma peça de teatro. Como foi isso?

Também falo de trás pra frente com fluência e sei fazer um Spaghetti Marítimo delicioso. Só falta meter meu bedelho na poesia. Aí a ruína será completa.

O livro Proibidão, de 2008, reúne várias crônicas recusadas, é isso? Desta vez, com O Cristo Empalado, elas foram publicadas originalmente no site Congresso em Foco. Você está pegando mais leve ou é o editor que também quer ver o circo pegar fogo?

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Nos agradecimentos do Cristo eu falo sobre isso. Desfrutei de uma liberdade que jamais tive em qualquer outro lugar. E foram anos e anos desafiando Sylvio Costa, o editor do site – aliás, aproveito a oportunidade para tirar o chapéu pra ele outra vez, sujeito bom de briga tá lá. Tem duas crônicas publicadas na revista Cult – acho que a Daysi Bregantini também é boa de briga. Vamos ver até onde ela me aguenta.

Em suas crônicas, os alvos vão desde Pedro Bial e Marisa Monte até Chico Xavier e Ivete Sangalo. Está muito difícil viver no Brasil?

Viver no Brasil é broxante, sobretudo porque o tempo passa e os alvos continuam os mesmos.

Chamam a atenção tantas crônicas sobre o tema religioso. Você relata o dia em que foi expulso de um terreiro por desafiar um exu, por exemplo, e confessa também que passou a acreditar em Deus por total falta de opção. Continua acreditando?

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Também chamaram minha atenção. Ocorre que no processo de seleção nem eu nem a editora notamos esse corte. Incrível, né? Parece que é o sobrenatural se manifestando. Com relação à falta de opção, eu faço uma proposição simples e lógica, que é a seguinte: se tem gente que vota e acredita no Kassab, por que eu – por absoluta falta de opção – não posso acreditar em Deus, gnomos e extraterrestres? Sigo firme e forte no meu credo. Eu e milhares de crentes acreditamos que Jesus voltará – resta saber se empalado ou numa nave espacial.

É verdade que o Lou Reed não veio pra Flip de 2010 porque leu um texto seu criticando o evento?

Bem, se for mentira, agora é tarde demais pra ele refutar. Então, fica sendo verdade, né?

Há crônicas que são mais, digamos, otimistas. Em uma delas você até deseja feliz Ano Novo aos leitores! Há alguma luz no fim do túnel?

Nesse caso o otimismo é um regozijo com o texto. Como se eu me presenteasse com meu próprio estilo. Pura vaidade. Nessa hora, eu me permito extravagâncias tipo luzes no final do túnel e natais felizes, muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender.

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No fim dos anos 1990, você morou em diversas cidades catarinenses, chegando a viver durante meses no Costão do Santinho, ocasião em que começou a fazer sucesso como escritor. Não sente saudade? Pode ser sincero.

Três anos na Praia do Santinho. Naquela época, meus piores inimigos (de hoje) me puxavam o saco ostensivamente. Tenho provas, cartas, declarações de amor. Fiz muito sucesso com eles e, graças a Deus, briguei com todos. Saudades mesmo tenho da Marisete, que atendia nos classificados de sacanagem do Diário Catarinense.