O Santa apresenta cinco histórias de roubos que aconteceram em Blumenau entre o fim do ano passado e este mês. Três dos cinco entrevistados preferiram não divulgar a identidade por medo de represália dos criminosos.

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C.F., 33 anos gerente de mercado no Passo Manso

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“O assalto foi no dia 21 de janeiro, em uma quinta-feira à noite, perto das 19h. Trabalhávamos até as 20h e ainda estávamos em atividade. Foi quando dois rapazes entraram. Achamos que fossem clientes ou até representantes de empresa. Eram jovens e estavam bem arrumados. Quando fomos atender, vestiram bonés e óculos de sol para esconder o rosto e anunciaram o assalto. Estavam armados com uma pistola e um revólver. Pediram o dinheiro que estava no caixa, celular, correntes de ouro e relógio. Foi tudo muito rápido e eles queriam levar o que podiam carregar na hora. Agora a atenção dobrou, evitamos dinheiro em volumes maiores no caixa e alteramos o horário de funcionamento, com a redução de uma hora no fim do dia. Há três meses também sofri outro assalto. No domingo à noite estava chegando em meu apartamento na Itoupava Norte e, quando fui abrir o portão eletrônico, fui abordado por um rapaz com um revólver. Ele sentou no banco do carona, ficou com a arma apontada em meu pescoço o tempo todo e fez eu dirigir cerca de 40 minutos. Ele pediu que eu guiasse até a Pedreira, no bairro Vorstadt. Avisou que estariam esperando a gente lá e que eu ficasse quieto. De lá, achei que eu não ia sair mais, pois ele estava de cara limpa. Lá, mandou eu descer e dar uns 50 passos para dentro do mato e fugiu com o carro. Fora o veículo, perdi cerca de R$ 2 mil em pertences. Fui descendo o caminho e cheguei na residência mais próxima para pedir ajuda.”

Jair dos Santos, 45 anos, dono de agropecuária no Testo Salto

“Tentaram invadir minha casa por volta da 1h de ontem. Eles estouraram a porta da lavação e arrombaram a que dá acesso aos quartos. Nesse momento eu e meus dois filhos – um de 18 e outro de 23 – acordamos. Eram três criminosos e dois estavam armados. Se os três estivessem armados, nós estaríamos mortos agora. Um deles apontou a arma para o meu filho, que foi para cima dele. Em seguida me atraquei no tapa com outro também. Meus dois filhos foram atingidos no ombro esquerdo e eu no braço esquerdo. Em mim, a bala entrou por dentro do punho, correu pelo braço e saiu no cotovelo. No embate, eles acabaram fugindo e não levaram nada. A ação durou 15 minutos, mas parece que foi uma vida. Foi um ano. Me sinto um lixo porque tenho uma empresa, pago meus impostos em dia para ter um retorno em segurança. E não há um retorno sequer. Depois não adianta vir a polícia aqui e ver o que aconteceu. Tudo é paliativo.”

Johao Marcelo de Oliveira Malfatti, 22 anos, estudante

“Foi no dia 5 de outubro do ano passado, por volta das 21h30min. Vinha retornando de meu curso a pé, tranquilamente pela Rua São José (no Centro), onde moro. Pouco antes da Escola Luiz Delfino fui abordado por dois jovens, creio que eram menores de idade. Um deles correu em minha direção e me segurou, enquanto o comparsa veio com uma faca. Na hora achei que iria morrer. Ele estava visivelmente transtornado, creio que sob efeito de drogas. Me ameaçou diversas vezes, mas consegui manter a calma e entreguei tudo que tinha: celular, mochila, documentos, carteira, material do curso, óculos. Creio que o fim só foi diferente porque teve fluxo de carros no momento, e os dois saíram. Se não fosse isso, nesta hora estaria morto. Eu fui até minha casa, contei aos meus pais e chamei a polícia. Em cerca de 15 minutos chegou a viatura e os PMs foram simpáticos e se mostraram solidários, porém de nada adiantou a ronda, nem mesmo o boletim de ocorrência. Até hoje não consegui reaver nenhum bem.”

P.S., 23 anos, balconista de farmácia na Velha

“Era por volta das 22h. Ficamos abertos até as 23h e a porta sempre fica trancada, só que ele chegou de cara limpa e temos o costume de abrir. Simplesmente entrou e anunciou o assalto. Estava sozinho e armado, mas tinha um rapaz de moto lá fora esperando. A ação durou quatro minutos, foi tudo muito rápido. Ele levou o dinheiro que estava no caixa e o celular da farmácia. Ele nem passou do caixa pra dentro. Ficou só na frente. Na hora achamos que ele ia atirar pois estava extremamente nervoso. Só passou pela cabeça entregar todo o dinheiro e não reagir. Agora, na hora de abrir a porta, quando alguém chega de moto, na garupa, ficamos de olho e esperamos um pouco mais para abrir. Ladrão não tem cara, mas a gente fica com atenção redobrada. Nos sentimos reféns, sem segurança nenhuma.”

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O.G.F., 56 anos, dono de um comércio de sucata

“Era por volta das 8h da última quinta-feira (11 de fevereiro). Quando fui fechar o portão da minha casa, apareceram dois homens, um deles armado. Eles mandaram eu não gritar e me abaixar. Colocaram a arma nas minhas costas e foram me empurrando pra dentro de casa. Tentei resistir pra não entrar e um deles me golpeou com várias coronhadas na cabeça. Pediram o dinheiro e celular e enquanto um deles ficava com o revólver apontado no meu peito, o outro foi procurar dinheiro pela casa. Tentaram me trancar no banheiro e me amordaçar com corda, mas me deixaram dentro da lavação, de onde consegui sair. Eles queriam dinheiro. Ofereci a chave do carro para que eles fossem embora pois dinheiro eu não tinha. Depois atravessaram a rua e renderam os quatro funcionários e dois clientes. Levaram celular e dinheiro, saíram a pé e se jogaram no mato. A polícia chegou e nada foi feito. Enquanto eu estava na mão deles, só pensava na família. Tinha hora que eu chorava e pedia pra ser solto. Também havia momentos que eu tinha vontade de voar neles porque a raiva era muito grande. Já fui roubado outras duas vezes e levaram cerca de 200 kg de cobre. Não contentes, voltaram dessa vez para levar o dinheiro. Roubaram de R$ 4 mil a R$ 5 mil dessa vez. Não tem o que fazer para se proteger. A violência é cada vez maior e cada vez os criminosos são menos punidos. Se eu for enfrentar eles, a chance de eu me dar mal é muito maior. Eles amanhã estão soltos e eu continuo preso na mão dos criminosos.”

Entenda a diferença

Furto: é o ato de tomar para si ou para os outros algo alheio, sem que haja ameaça. A pena pode variar de um a quatro anos, além do pagamento de multa.

Roubo: quando a ação envolve grave ameaça ou violência à vítima. A pena pode variar em prisão de quatro a 10 anos, além do pagamento de multa.

Fonte: Código Penal