É praticamente impossível eleger uma obra em Joinville que marque a trajetória política de Luiz Henrique da Silveira. Seriam os terminais urbanos e o sistema de transporte interligado, por onde passam milhares de pessoas todos os dias? Ou o Centreventos Cau Hansen e o Bolshoi, imponentes prédios que servem de palco para a cultura? A Ponte do Trabalhador, que ajudou a ligar três regiões importantes da cidade? O Eixo de Acesso Sul, que na época foi considerado exagerado e que hoje é um eixo de desenvolvimento na zona Sul?
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A tentativa de eleger uma única obra recai sempre em uma discussão sem fim e logo aparece uma lista. Por isso, “A Notícia” elegeu dez obras com participação direta de LHS, que morreu no último domingo (10), após passar mal na sua casa, em Joinville. A série não se esgota e certamente cada leitor terá mais algumas para incluir. Também não está em ordem de importância. São marcas deixadas pelo político que foi prefeito de Joinville durante 11 anos (de 1977 a 1982; de 1996 a 2000; e de 2000 a 2002, quando elegeu-se governador e deixou a Prefeitura para o seu vice, Marco Tebaldi) e governador por mais oito anos (entre 2002 e 2010).
– Em cada canto de Joinville há asfalto, escola, posto de saúde, obras que hoje a população reconhece como investimentos feitos por ele. E há isso no Estado inteiro também – afirma Cleonir Branco, presidente do PMDB de Joinville e que acompanhou toda a carreira política de LHS de perto.
Centreventos Cau Hansen/Bolshoi
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O conceito de Centro de Eventos, idealizado por LHS quando ele estava à frente da Prefeitura no final da década de 1990, é uma de suas principais marcas. O complexo foi construído para abrigar eventos de grande porte na cidade, como o Festival de Dança de Joinville. Além disso, trazia equipamentos para funcionar como a arena multiuso _ o Expocentro Edmundo Doubrawa e o Teatro Juarez Machado. Batizado de Centreventos Cau Hansen, ele foi inaugurado em pouco mais de um ano de obras, em 26 de junho de 1998. A luta de LHS para trazer a Escola do Teatro Bolshoi para a cidade se concretizou ali também. São duas obras separadas em um complexo que têm tudo a ver com as passagens de LHS na Prefeitura e no governo do Estado. O conceito foi expandido para o Estado nos dois mandatos como governador, com a construção de arenas semelhantes em Florianópolis, São José e outras cidades do interior.

Pontes do Trabalhador e Mauro Moura
As pontes do Trabalhador e Mauro Moura, que ligam os bairros Bucarein, Guanabara e Boa Vista, foram obras de LHS. As estruturas também encurtaram o trajeto entre os bairros da zona Leste, especialmente o do Boa Vista com a BR-101, desviando o tráfego do Centro da cidade. As duas pontes são um marco no sistema viário de Joinville na passagem entre as zonas Sul, Central e Leste. A Mauro Moura, erguida na década de 1990, foi a última grande obra de trânsito ligando regiões importantes sobre os rios que cortam a cidade. Luiz Henrique homenageou Mauro Moura porque ele morou por décadas no final da rua Inácio Bastos. O armazém da família fornecia mantimentos para os barcos que atracavam no cais do Bucarein.

Eixo de Acesso Sul
O sistema viário que compõe o Eixo de Acesso Sul não foi financiado com recursos do governo federal, mas a ideia central que começou a ganhar corpo em 2000 e previa não somente o asfalto, mas todo um conceito de crescimento industrial da zona Sul e a criação de artérias até a zona Leste e o Centro. O Eixo Sul liga a BR-101 e a Waldomiro José Borges, que dá acesso a Araquari e a São Francisco do Sul. Todo o sistema, que compreende a avenida Paulo Schroeder, tem quase nove quilômetros de extensão e é onde está o único viaduto fora da BR-101, em zona urbana de Joinville. O Eixo Sul também possibilitou a construção do campus da UFSC.

Terminais urbanos
Milhares de pessoas usam todos os dias os terminais urbanos construídos no fim da década de 1990 e inaugurados (os dez primeiros) entre os anos 2000 e 2001. Os terminais fazem parte de um modelo de sistema de transporte de modelo tronco-alimentador com terminais fechados, integração física, temporal e financeira. O modelo possibilitou a implantação do passe único e melhorou a integração das linhas troncais. Os terminais tinham, quando idealizados, a função de funcionar como pontos de encontro e de solução de problemas, com comércio, lanchonetes e até órgãos públicos. Embora não funcionem exatamente dessa forma, eles têm importante papel na modernização do transporte coletivo de Joinville.
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Praia da Vigorelli
É uma das obras mais controversas de Luiz Henrique da Silveira e mereceria estar na lista apenas pela volumosa e acalorada discussão que provoca. O que era apenas o ponto final de uma estrada abandonada na vila Cubatão, na zona Norte, cercada de mata atlântica e mangue, foi aterrado e pré-urbanizado. Não é mar aberto, nem tem ondas, mas foi imediatamente batizada de “a praia dos joinvilenses”. A Vigorelli é banhada pela Baía da Babitonga e começou a atrair banhistas e, principalmente, pescadores. A travessia para Itapoá pelo ferryboat e os diversos bares que se instalaram na orla completaram o que é hoje a praia.

Rodoviária Harold Nielson
Foi LHS quem deu, no começo dos anos 2000, a cara que tem hoje a rodoviária Harold Nielson. O terminal operava desde 9 de março de 1974, mas passou por uma grande reforma que culminou com a reinauguração do espaço em 2001. Na gestão de Luiz Henrique, foi instalado o estacionamento, os portões ficaram melhor organizados e o espaço todo foi remodelado. Polêmicas à parte em relação ao abandono ou a administração do espaço, até hoje não muito bem resolvidos, o fato é que a cara e o conceito da rodoviária são até hoje os mesmos da época de LHS.

Secretarias regionais
Mais do que uma obra ou um investimento em prédios, a palavra descentralização faz parte das marcas de Luiz Henrique da Silveira. A criação das secretarias municipais, espalhadas pelos bairros de Joinville, foi um conceito, depois ampliado para todo o Estado, com a formatação das secretarias de desenvolvimento regional, as chamadas SDRs. Luiz Henrique falava muito dos modelos de cidades europeus, com o governo sempre mais próximo à população. Embora não seja uma unanimidade, o modelo que é uma marca dele à frente do Executivo, foi mantido por prefeitos Marco Tebaldi, Carlito Merss e Udo Döhler e pelo governador Raimundo Colombo, seus sucessores.

Costa do Encanto
A Costa do Encanto é um sonho que talvez jamais seja concluído. Mas também tem a marca de LHS. O objetivo era construir um destino turístico regional unificado, com atrações variadas e complementares, como hotéis, restaurantes, pousadas, parques, trilhas, praias, estradas, abrangendo as cidades de Joinville, Araquari, Balneário Barra do Sul, Barra Velha, Garuva, Itapoá, São Francisco do Sul e São João do Itaperiú. De todo o projeto, que chegava às atrações culturais e a preservação ambiental de toda a baía da Babitonga, pouco foi feito. Até agora, as ligações asfálticas são as que mais avançaram.
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Navegação Cachoeira/Babitonga
Luiz Henrique da Silveira vivia repetindo que Joinville havia, com o passar das décadas, dado as costas para o mar e para a Baía da Babitonga. Para ele, era preciso voltar a dar atenção à costa Leste. E falava disso em vários aspectos, do transporte ao turismo, do meio ambiente à economia. LHS incentivou, em momentos diferentes, a criação de terminais náuticos e a navegação para transporte de passageiros entre São Francisco do Sul e Joinville. Não conseguiu ver essa proposta se concretizar.

Hospital Infantil
O caso do Hospital Infantil Dr. Jeser Amarante Faria também é emblemático. Não foi ideia de LHS construir o hospital, mas ele só está funcionando em Joinville porque foi tratado como prioridade na gestão dele à frente do governo do Estado. A ideia de construir um hospital para atender com qualidade e humanização crianças e jovens de Joinville e região pelo Sistema Único de Saúde (SUS) começou a ser materializado em 1994, com a formação de uma comissão pró-Hospital Infantil. Em 1995, o prefeito Wittich Freitag comprou a área e a doou ao Governo do Estado. Os governadores Paulo Afonso Vieira e Esperidião Amin deram encaminhamento, mas só 12 anos depois de idealizado, na gestão de LHS, é que foi entregue à população.
