A busca por um parto humanizado, que possibilite uma relação mais íntima e menos agressiva no momento do nascimento do bebê, tem levado muitas mães a repensar a opção de dar à luz em hospitais. Ao ganhar mais espaço na mídia, o parto domiciliar, já adotado por celebridades como a modelo gaúcha Gisele Bündchen, gera discussões em torno da sua prática.
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A recente morte da australiana Caroline Lovell, 36 anos, em janeiro, colocou o tema em evidência mais uma vez. Defensora dos partos domiciliares, ela morreu após dar à luz em casa sua segunda filha. Ela sofreu uma parada cardíaca, mas o bebê sobreviveu. Apesar de ser apontado como raro, o caso teve repercussão internacional – o que foi considerado um exagero por defensores da prática.
– É provado que a cesariana oferece até três vezes mais riscos para a mãe e o bebê do que o parto normal. Se uma mãe ou um bebê morre por causa de uma infecção hospitalar, ou por consequências da cirurgia, certamente não haverá manchetes falando “mãe morre em decorrência de uma cesariana mal indicada” – critica a psicóloga, doula (acompanhante de parto) e educadora perinatal Érica de Paula, que trabalha o tema no documentário O Renascimento do Parto, com lançamento previsto para este ano.
Hospital traz segurança
Quem é contra frisa a segurança oferecida pelo hospital, já que é difícil prever com exatidão complicações nos partos.
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– Se a criança ou a mãe tiverem algum problema, em 15 minutos o médico contorna a situação. Estando em uma casa, é bem possível que o tempo até chegar ao hospital seja fatal – explica o médico José Geraldo Lopes Ramos, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e conselheiro da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Rio Grande do Sul (Sogirgs).
Colega de opinião de Érica, a obstetra Melania Maria Ramos de Amorim, pós-doutora em medicina e professora da Universidade Federal de Campina Grande, esclarece que os partos domiciliares planejados são precedidos de acompanhamento especializado, com pré-natal rigoroso, a fim de apontar eventuais riscos para a mãe e o bebê.
– Em casos de baixo risco, podemos considerar que a chance de complicações é semelhante ao de partos hospitalares. As mulheres devem estar conscientes de possíveis riscos nos dois casos, de forma que possam fazer uma escolha informada. Escolher o local do parto é um direito reprodutivo básico que deve ser respeitado – defende.
:: Intimidade
O parto domiciliar permite um nascimento mais aconchegante, com maior privacidade e significado para a família. A prática ainda reduz o número de intervenções médicas, como corte no períneo, cesariana, analgesia e parto instrumental.
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Dar à luz no conforto de sua residência, junto com os seus familiares, é um resgate da autonomia, do protagonismo da mulher no parto, que muitas vezes é roubado nos partos hospitalares – argumenta a médica Melania Maria Ramos de Amorim.
:: Segurança
Médicos contrários aos nascimentos em domicílio acreditam que, mesmo nos casos de baixo risco, a prática abre mão da segurança ofertada pelos hospitais. Obstetra, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), João Steibel destaca as complicações comuns.
A cada cem partos, 20 têm chances de apresentar alterações. Exceto em locais afastados, os nascimentos devem ser feitos em hospitais. Não se pode abrir mão da segurança – defende.
:: Indicações
Os partos domiciliares são aconselhados para gestantes de baixo risco, com pré-natal bem feito e acompanhamento especializado no momento do nascimento do bebê.
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O parto domiciliar não é para todas as mulheres, mas apenas para aquelas que têm esse desejo, que se sentem seguras com essa opção e que têm uma gestação de baixo risco – explica a psicóloga, doula e educadora perinatal Érica de Paula.
:: Acompanhamento
O parto domiciliar exige o acompanhamento de profissionais experientes e habilitados para eventuais complicações. Segundo Melania, os partos podem ser assistidos por qualquer dos profissionais que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera como “skilled attendants”, ou seja, qualificados como parteiras formadas (obstetrizes), enfermeiras-obstetras, médicos da família ou médicos-obstetras.
– É importante frisar que as doulas são acompanhantes leigas, que não prestam assistência ao parto.
:: Orientação
O Conselho Regional de Medicina gaúcho (Cremers) não veta a realização de partos domiciliares. No entanto, em casos em que existe a opção de realizar o procedimento em um hospital, sua Câmara Temática de Ginecologia e Obstetrícia orienta os profissional a não aceitar trabalhos em locais sem as condições adequadas, distantes de casas de saúde.
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– Nada impede que um parto normal seja feito em casa, no táxi, num avião. O problema é que, no Brasil, não temos um programa de atendimento eficiente e rápido para imprevistos, o que ocorre com frequência – pondera Antônio Celso Ayub, coordenador da fiscalização do Cremers e diretor da maternidade da Santa Casa de Porto Alegre.
No Brasil
:: Partos normais – 1.364.054
:: Cesarianas – 1.492.957
:: Nascimentos em domicílio – 26.047
Fonte: Ministério da Saúde, com dados preliminares de 2010