As plantas crescem despretensiosas em uma estrutura de madeira montada no Parque Ramiro Ruediger, no bairro Velha, em Blumenau. Um pé de tomate, cebolinhas e chás que ganharam vida pelas mãos de pessoas que se conhecem pouco e vão dar sabor a pratos que não se sabe exatamente quem faz e muito menos quem aprecia. Afinal, é uma horta comunitária que se tornou realidade no ano passado durante a 3a edição do 100em1dia Blumenau, quando o número de intervenções alcançou a marca de 400.
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A plantação devia ficar ali por um período determinado e depois ser removida, mas deu tão certo que já vai completar um ano no local. Todos semeiam e todos colhem. Quem botou a mão na massa, ou melhor, na terra, foi a professora e voluntária Mariana Interlandi Dias, 29 anos, com outros amigos que atuam na organização do movimento na cidade.
Para ela, ver as mudas crescidas, novas plantas no barro e até placas de identificação revitalizadas é gratificante. O olhar que brilha, porém, não é exclusividade da jovem. A amiga Tatiana Pereira de Araújo, 26 anos, compartilha da mesma satisfação ao saber que deu certo uma iniciativa que ela e as colegas foram conhecer no Rio de Janeiro para reproduzir em Blumenau.
A dúvida sobre como seria a adesão ao 100em1dia só acabou no momento em que a primeira edição se tornou realidade, em 2015.
– Nós fomos para lá (ao Rio de Janeiro) tentar falar com a organização e entender um pouco melhor, mas não conseguimos encontrá-los. Ainda assim fizemos uma intervenção no Aterro do Flamengo e, quando voltamos, tentamos repassar paras pessoas aqui a experiência que vivemos. Até a hora de acontecer, ainda não sabíamos como ia ser – recorda Tatiana.
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Naquele ano, cerca de 140 intervenções ocorreram em diferentes pontos de Blumenau. De lá para cá, o perfil das atividades propostas pelos voluntários, anônimos ou não, mudou. Foi um período de amadurecimento e entendimento da comunidade sobre o que de fato representa a iniciativa.
– No primeiro ano, como era novidade, chamou muita atenção, mas as pessoas não entendiam o que era intervenção urbana, então teve um perfil mais solidário, de doar coisas. No segundo, foram mais intervenções físicas. A gente foi direcionando e houve muito mutirão em parques, praças, escolas e ruas. Já o terceiro foi mais consolidado, com quem compreendia a proposta – avalia Tatiana.
Neste sábado, 30 ações estavam confirmadas até o fechamento desta edição. Todas estão cadastradas e disponíveis para consulta no site do 100em1dia Blumenau. Uma delas é do oficial de Justiça Cláudio Baunann, 52 anos. Este é o quarto ano que ele mobiliza amigos para roçar o entorno do Complexo do Badenfurt. São ao menos dez pessoas envolvidas. Ele mora no bairro Escola Agrícola e, quando soube do movimento, pensou em algo que poderia contribuir com a cidade.
– Acompanhei aquela obra e vi as árvores sendo plantadas ali, mas depois ninguém mais cuidou. Aí convidei uns amigos que têm roçadeira e eles acharam estranho no começo, mas depois vieram e agora acaba sempre em festa – conta.
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As fotos que ele tem no celular comprovam o engajamento. Homens e mulheres passaram a dedicar um dia do ano a cuidar do espaço que é de todos. Despertar esse espírito de coletividade e pertencimento à cidade é justamente o propósito do 100em1dia. Assim como eles, há quem revitalize praças, plante árvores e desenvolva ações que gerem interação não só entre pessoas, mas também com o espaço.
A jovem Heloísa de Souza Bonin, de 14 anos, integra um grupo kids que deixa marcas de mobilização. A turma começou fazendo biscoitos para entregar àqueles que se dispuseram a dedicar o dia a valorizar e aprimorar o que a cidade tem de bom. Depois partiu para a entrega de mudas de plantas nos semáforos da cidade, como uma forma de tornar a ação duradoura. No ano passado, os pequenos escreveram e coloriram cartazes com frases repletas de mensagens do que desejam para Blumenau e para o mundo. Todo o material ficou exposto por dias no Parque Ramiro Ruediger.
– Eu passava por aqui quando ia para o colégio e olhava os cartazes e ficava tão feliz de saber que eu ajudei a fazer aquilo – conta a estudante tímida.
Mudança na relação com o espaço urbano
A cada ano, o 100em1dia ganha novos integrantes. Atualmente, além dos voluntários que pensam e executam as ações, seis pessoas fazem a engrenagem funcionar. São ao menos oito meses de trabalho, quando os voluntários tiram um tempo na agenda para viabilizar a iniciativa. Até os kits que os participantes recebem são frutos da boa vontade e dedicação de alguém que confecciona as bolsas sem cobrar nada.
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Segundo Mariana, o grupo se renova ano a ano, o que proporciona ações inéditas a cada edição. O desafio agora é fazer com que as pessoas mudem a relação com a cidade, defende Tatiana. Por isso a temática escolhida para este ano quer resgatar uma relação mais afetiva com a cidade.
– A gente está aproveitando melhor o espaço público até que ponto? Se tem uma praça que é abandonada ou um cantinho perto de casa que poderia usar, por que você vai para o parque ou para o Centro? O desafio ainda é fazer as pessoas olharem para o seu entorno, para sua realidade e não para onde todo mundo vai – reflete a voluntária.
Confira a programação da 4ª edição do Movimento 100em1dia em Blumenau