O lançamento do livro Os Aviadores Franceses, a América do Sul e o Campeche, do escritor João Carlos Mosimann, que será lançado nesta quinta, em Florianópolis, coloca mais ingredientes na discussão sobre se o aviador e escritor francês Antoine de Saint-Exupéry esteve ou não em Florianópolis, lá pelos anos 1929-30.

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Leia na íntegra a reportagem sobre o tema.

Confira a opinião do piloto aposentado Bernard Banquei e os argumentos de Mônica Correa, PhD em literatura comparada Brasil-França, e de João Carlos Mosimann, que dão motivos para acreditar e para duvidar que o escritor francês esteve em Florianópolis.

Há confirmação de que Saint-Exupéry esteve no Campeche?

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Bernard Banquei – Sabe-se que ele passou pelo Uruguai vindo de Buenos Aires, com destino ao Rio. A primeira delas dia 16 de abril de 1930. Era o voo inaugural entre Buenos Aires e Montevidéu. O avião não conseguia atravessar os 2 mil quilômetros entre Montevidéu e o Rio. Ele era obrigado a pousar para abastecer. O terreno ideal para essa escala era Florianópolis, por ser a metade do caminho. Sabe-se que houve uma parada de duas horas durante o percurso. A segunda vez foi dia 10 de maio de 1930. Partiu de Buenos Aires, aterrissou em Montevidéu, pegou a correspondência e partiu para o Brasil. Estava no comando de um Laté 26, avião totalmente postal. É perfeitamente crível que tenha precisado parar em Porto Alegre e Florianópolis para deixar e pegar o correio, como era sempre o caso, antes de chegar ao Rio.

Estas escalas eram rápidas, apenas para abastecer e pegar o correio?

Banquei – É verossímil que ele tenha feito escalas prolongadas aqui ou acolá, pois era a maneira de operar da companhia Aéropostale: os pilotos pilotavam um dia inteiro e precisavam, às vezes, de vários dias de recuperação.

Saint-Exupéry fez amizade com os pescadores?

Banquei – A capital catarinense estava entre as escalas. Senão, por que a Aéropostale teria ali desenvolvido instalações? Não pode haver dúvida de que tenha frequentado Florianópolis.

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5 motivos para acreditar

Por Mônica Correa

1) À época em que o piloto ocupou o posto de chefe local em Buenos Aires, os aviões tinham pouca autonomia de voo. Havia escalas de abastecimento e descanso em Santos, Florianópolis e Porto Alegre. Entre as funções de Saint-Exupéry estava supervisionar escalas, equipamento e funcionários.

2) A biógrafa Stacy de la Bruyère aponta que Saint-Exupéry ia encontrar os demais pilotos: “Parece que ele muitas vezes encontrou seus colegas nos últimos meses de 1929 e nos primeiros de 1930. Mas acima de tudo e até o esgotamento, Saint-Exupéry voava”. É nessa fase que ele passou pelo Campeche.

3) Na fase da Argentina, ele fez grande número de voos. “Ele voou provavelmente mais durante os 15 meses na Argentina do que durante toda a sua existência”.

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4) Sobre o relacionamento com o povo local, basta atentar ao que foi Saint-Exupéry: um homem que havia convivido com os mouros do deserto, morando numa tenda por dois anos. Um amigo chegou a dizer que “ele preferia falar com um honesto gari a um mundano cultivado”.

5) Em carta póstuma escrita pelo amigo Léon-Paul Fague, ele expressa preocupação pelas demoras de Saint-Exupéry: “Quantas vezes passei a esperá-lo, não que estivesse sempre atrasado, mas porque sabia que estava em Florianópolis ou em Ciranaica e a rádio nada dizia sobre o regime de seu motor”. Fargue expressa a dificuldade de comunicação.

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5 motivos para duvidar

Por João Carlos Mosimann

1) A intensa atividade profissional do piloto no curto período em que trabalhou e morou na Argentina: incontáveis viagens à Patagônia, implantação da linha da Terra do Fogo, 30 travessias dos Andes, busca a Guillaumet na Cordilheira, a conturbada revolução argentina de 1930, as passagens por Mar Del Plata e por Assunción. Portanto, Saint-Exupéry não teria tempo de ficar no Campeche.

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2) A paralela atividade intelectual e literária e a vida amorosa do piloto Saint-Exupéry neste mesmo período: namoro, noivado e vida em comum com Consuelo Suncin num bairro afastado da cidade de Buenos Aires, além de ciceronear sua mãe nos dois últimos meses de Argentina, quando com ela retornou a França (de navio).

3) Neste período, os três jornais diários de Florianópolis fizeram mais de cem citações sobre a Aéropostale e sobre os pilotos Vachet, Mermoz, Delaunay e outros, sem nenhuma referência a Saint-Exupéry.

4) As duas únicas viagens documentadas ao Rio, com possível escala técnica no Campeche, foram concluídas no mesmo dia.

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5) As verdadeiras palavras de Deca Rafael sobre Zé Perri, registradas pela imprensa pouco antes da morte do pescador, são incompatíveis com a história vivida pelo piloto na América do Sul.