Nesta segunda-feira, 6,3 mil servidores públicos que são filiados ao Sindicato dos Servidores Públicos dos Municípios de Joinville (Sinsej) começam o processo de escolha do novo presidente da entidade sindical. A votação vai até a noite desta terça-feira, com a apuração indo por noite a dentro. Em debate realizado no “A Notícia” na semana passada, os dois candidatos, Ulrich Beathalter e Rita de Cássia, discutiram sobre suas propostas para o Sinsej, respondendo questões da reportagem, elaboradas a partir de sugestões enviadas ao AN.com.br. Depois, os candidatos tiveram a oportunidade de fazer questionamentos um para o outro, discutindo suas propostas para os 12 mil funcionários públicos da Prefeitura de Joinville.
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Perguntas de AN
A Notícia – O senhor está há três anos no mandato. Antes disso, já havia tentado ser presidente. Depois destes três anos, por que o senhor precisa de mais três anos no comando do sindicato? O que o senhor precisa fazer que não deu pra ser realizado ainda?
Ulrich Beathalter – Antes da nossa gestão, o sindicato ficou 12 anos na mão de um grupo político que tinha uma relação muito próxima com os prefeitos da época. Tivemos a destruição do plano de carreira em 2007, a destruição do estatuto de servidores. Houve uma perda muito grande nesse período que não é possível recuperar em apenas três anos. Precisamos recuperar essas questões e as perdas salarias. Desde que entramos, não houve mais perda salarial, mas pelo volume histórico acumulado, precisamos de mais um tempo para recuperar isso. Por isso, precisamos pelo menos mais um mandato para conseguir organizar a situação e reverter esse quadro a nosso favor.
AN – O que não foi feito nesses três anos que instigou a senhora a sair candidata. O que não foi feito? O que foi esquecido?
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Rita de Cássia – Antes de tudo, como servidora pública, acredito que o sindicato não pode ter vínculos partidários. Isso foi um dos motivos que fez com que eu entrasse na disputa. Das conquistas, era necessário fazer um laudo ambiental tanto na saúde como em outras áreas em cima da insalubridade e da periculosidade. Se tivéssemos um laudo criminal, poderíamos ir para cima do poder público e cobrar soluções. São por situações como essa que quero ser presidente do Sinsej.
AN – Em suas propostas, os dois candidatos tem colocado de forma opostas o apoio em duas questões. Um quer manter o apoio a CUT e outro quer se desfiliar. Um quer manter os escritórios em Itapoá e Garuva e outro quer tirar. Porque apoiar e porque não apoiar? Porque acabar com os escritórios e por qual motivo não acabar?
Rita – Acredito que o dinheiro investido na Central Única de Trabalhadores não retorna em benefícios para os servidores. Não recordo de nenhum benefício que foi trazido com esse apoio a CUT. Da mesma forma, eu não sei qual benefício que trás para nós a adesão de servidores de Itapoá e Garuva. Se nós somos o maior sindicato do Estado, temos quase 12 mil servidores, e já é difícil concentrar os esforços em atender todas as reinvindicações dos servidores de Joinville, por qual motivo trazer funcionários de mais duas cidades para cá? Se eleito, nós poderíamos dar todo suporte para eles estruturarem o sindicato deles, mas não trazer eles para cá. Nós temos que ser um sindicato de uma única cidade.
Ulrich – Afirmar que a CUT não trás benefício para o servidor é mostrar um desconhecimento que chega a ser risível. A CUT é responsável pela maioria das conquistas que obtemos. As lutas, as greves organizadas pelos sindicatos cutistas que trouxeram nos últimos anos mudanças na previdência sindical, no cumprimento da jornada de oito horas ao trabalhador. Muitas das condições que temos aqui em Joinville não passam por discussões do Sinsej, mas foram lutas travadas pela CUT. Posso citar o piso do magistério nessa conta. As informações mostradas pela outra chapa são inverídicas, gastamos cerca de R$ 7 mil com a mensalidade da CUT, muito mais que se pagava em ajuda de custo a ex-diretores. Garuva e Itapoá nos trazem mais de 400 filiados. A receita que vem de lá é mais do que o suficiente para manter os escritórios e a funcionária que se revezam entre as cidades. Hoje, Garuva e Itapoá tem muitos exemplos a nos dar. Sabia que nas duas cidades os professores tem 45 dias de férias regulamentadas em estatuto. É algo que queremos trazer para cá da mesma forma que iremos ajudar lá. Não trás prejuízo, mas sim nos fortalece.
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AN – A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) sempre serviu como termômetro para o reajuste salarial. Mas ao mesmo tempo que há um percentual que pode crescer os gastos com salários, também asfixia a mobilidade financeira da Prefeitura. Qual forma o servidor pode contribuir com a administração, tendo em vista que ele tem o direito ao reajuste, mas acaba comprometendo a capacidade de investimento da administração?
Ulrich – Mesmo esticando os gastos com salários até 51%, significa que a Prefeitura ainda tem outra metade do orçamento que o governo comprometeu. Se ela não está disponível, é porque a administração os comprometeu. O servidor faz a sua parte. A Prefeitura não visa lucro. Nossa reinvindicação em nenhum momento coloca o governo em risco. Há quatro anos atrás, a situação era muito pior. Mesmo com os avanços reais que tivemos nos últimos anos, caiu o percentual de gastos para menos de 47%. A lógica é simples. A receita da Prefeitura vem crescendo muito mais que os gastos em salários. Hoje, por cálculos do Dieese, é possível dar 14% de reajuste aos trabalhadores sem que a prefeitura ferir o limite da LRF. Não é o servidor que está comprometendo o orçamento da administração. O servidor não é o vilão da história, pelo contrário, somos os mocinhos.
Rita – Com o nível dos gastos de agora, está adequado. Há muitos comissionados que não foram nomeados ainda. Os cargos deveriam ser dados para os servidores de carreira. Se esses comissionados forem empregados, os gastos com salários irão aumentar. E nós ficamos com a culpa. Acredito que quando nomear todos que faltam, daí sim dará um baque nas finanças da Prefeitura, mas até lá estamos num índice coerente.
AN – Durante a campanha, o prefeito Udo Döhler falou muito sobre meritocracia. Queria saber se vocês concordam com isso e como entendem esse modelo que o prefeito quer implantar.
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Rita – Ele vem com uma gestão de serviço privado e serviço público não é privado. Ele irá ter que aprender a lidar com os servidores. Não dá pra sair implantando coisas assim. Para fazer qualquer medida, ele precisará alterar todo estatuto, aprovar novo regimento via assembleia. É algo muito complicado de se fazer. Mas não sabemos como ele fará isso. Veja como exemplo, eu e o Ulrich trabalhamos no mesmo setor, como ele vai ganhar mais do que eu fazendo a mesma função?
Ulrich – O prefeito ainda não apresentou nenhuma proposta. De antemão, aviso que temos uma preocupação tremenda. Não queremos mudança na forma como entendemos o plano de carreira. O servidor tem que saber que se ele entrar, em tanto tempo de serviço, ele terá uma gratificação X, se ele fizer uma pós-graduação, mestrado ou doutorado, terá outra gratificação. Se ele fizer cursos de capacitação, terá outra gratificação. Isso é para nós um plano de carreira. Qualquer outra forma que busque uma forma superficial ou subjetiva de avaliar a produção ou desempenho do servidor é danosa e perigosa e nós vamos combater com todo rigor.
Perguntas feitas pelos candidatos
Ulrich – Qual é a posição da chapa 2 em relação a cobrança do imposto sindical?
Rita de Cássia – Se esse dinheiro for utilizado em benefício do servidor, não seria contra. Mas isso tem de ir de encontro as necessidades e ao serviço do servidor.
Ulrich – Vocês não fariam a devolução do dinheiro, então?
Rita – Eu cancelei minha devolução porque acreditei que vocês não estavam utilizando da forma correta.
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Rita de Cássia – Quero saber por que o sindicato aprovou apoio a CUT e aos escritórios de Garuva e Itapoá em sessões em que não houve convocação dos servidores?
Ulrich – Há um equívoco no que vocês estão divulgando e um equívoco no pedido judicial. Vocês queriam exatamente a cópia de uma assembleia de setembro de 2010. Essa assembleia não tratou da filiação a CUT e sim de ajustes no estatuto do sindicato e para que o sindicato pudesse dar entrada no pedido de registro sindical. Nós atendemos os seus pedidos. Os pedidos de filiação a CUT e do escritório de Garuva e Itapoá foram feitas em outras assembleias, realizadas bem antes. Ela foi solicitada, pedida com antecedência, contou com a participação de vários servidores. Por isso, não há irregularidade no pedido de filiação a CUT. Houve equívoco no pedido de vocês.
Rita – No portal da CUT tem a data que pedimos. Por isso solicitamos a ata da assembleia daqueles dias.
Ulrich – Nós nunca escondemos nossa filiação partidária. Mas nunca utilizamos o sindicato para causas partidárias. E na chapa de vocês existem filiados a partido e em cargos comissionados ou que já estiveram. Isso não interfere na independência do sindicato?
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Rita – Uma das prerrogativas que tivemos na hora de escolher o pessoal foi que não houvesse filiações. Mas depois de formar a chapa, fiquei sabendo que alguns já estão em siglas e eu não sabia. Nossa chapa quer ter liberdade para criticar todo e qualquer governo, independente do partido. Por isso, eventuais candidatos filiados não irão interferir.
Ulrich – No conselho do Ipreville, há membros da Chapa 2 que defenderam o parcelamento das contas do Ipreville. Como você vê isso?
Rita – Já fui conselheira fiscal e essa dívida vem de 12 anos atrás. Estava sendo protelada várias vezes e em fevereiro precisa estar tudo certo para conseguirmos o certificado. Mas acredito que o parcelamento foi para o bem da Prefeitura e para o bem do servidor.
Ulrich – Então parcelar a dívida é bom para o servidor?
Rita – Essa dívida está sendo parcelada há um bom tempo. Não é culpa de quem entrou lá agora. Está sendo paga como pode.
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Ulrich – Durante os últimos três anos, os integrantes do grupo Giro Sindical, que integram a sua chapa, deixaram de comparecer em assembleias, participar de votações e até mesmo de apoiar na greve. Qual será a participação de vocês para ajudar os trabalhadores?
Rita – Nosso grupo mudou nos últimos anos e houve outros compromissos que impediram da participação. Mas sou extremamente contra a greve. A greve precisa ser o último recurso possível para se utilizar. É necessário negociar tudo o possível antes, conversar com o governo e ver o que é possível fazer. Eu achei que vocês não esgotaram todas as opções de conversa nas duas ocasiões das greves. Eu acho que vocês são muito radicais. E assim chegam a essas decisões sem esgotar outras possibilidades de negociação.
Ulrich – No material de campanha de vocês, há apenas ataques a atual direção do sindicato, nenhuma reclamação contra a Prefeitura. O Giro Sindical tem afiliação com o governo?
Rita – Não, de jeito nenhum. Quando montamos o grupo, pedimos que ninguém tivesse filiação. Nós queremos ter propostas. Estamos do lado do servidor. Criticaremos quando for necessário, a partir do momento que assumirmos, criticaremos a Prefeitura no que for justo.
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